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Capítulo 27

O sábado e o domingo foram os dias mais tristes e silenciosos que já passei dentro daquele apartamento durante todos os anos vivendo aqui.

Zayn não falava comigo se eu não o fizesse, estava parecendo parte da mobília ou um empregado que deixava as minhas refeições prontas e limpava a casa enquanto eu dormia.

Nem mesmo alguns minutos ao meu lado na cama ele ficou, e juro que senti como se fosse uma jovem iludida por um cara no colégio, quando tem seu coração partido e só quer superar aquilo logo.

Zayn tomou distancia de mim — emocionalmente falando — e parecia não estar disposto a me ouvir ou voltar ao que tínhamos.

— Estou indo para o trabalho — disse saindo do quarto pronta.

— Fiz seu café da manhã — sua voz soou gentil.

— Não estou com fome.

— Não pode sair sem comer.

— Posso sim — disse firme — Posso fazer o que eu quiser Zayn.

Seus olhos me fitaram com intensidade — coisa que me deu um fio de esperança de que talvez ele dissesse ou fizesse algo —, mas isso não durou mais do que três segundos e Zayn assentiu, dando as costas.

— Volta para o almoço?

— Não.

— Não? — perguntou um pouco surpreso.

— Não.

— Vai almoçar com o mestre Helsinki?

— Isso faz diferença para você? Porque, pelo que vi, não se importa mais comigo ou com que eu faço.

— Eu sempre vou me importar com você Hayden — sua voz soou calma e ele abaixou a cabeça.

— Gostaria de acreditar nisso.

Senti seu olhar voltar para o meu e aquele castanho intenso que cintilava em seus olhos se tornarem menos brilhantes e até mais distantes do que nunca.

— Só gostaria de saber o que iria querer para o almoço.

Dei um longo suspiro derrotada e esfreguei meu rosto reprimindo a vontade de sacudi-lo e fazer-lhe me beijar agora mesmo.

— Não faça nada.

— Tudo bem.

— Vai ficar sozinho o dia todo, precisa de algo? — perguntei baixo.

— Pode pedir ao mestre Helsinki para que me ajude com os meus botões sensitivos?

— Está com problemas?

— Eu só gostaria de sentir menos.

Senti meu coração bater mais pesado quando ele disse aquilo e abaixei a minha cabeça, porque notoriamente ele estava se referindo a sentir meus batimentos ou a minha inevitável tristeza por essa distância repentina que estava tomando de mim.

— Zayn, não precisa ficar longe de mim!

— Por favor? — ele disse firme, porém baixo e suspirei.

— Você vai mesmo insistir nessa merda? — disse um pouco mais irritada e me aproximei dele, que se manteve imóvel — Vai mesmo me afastar por uma ordem estúpida do Helsinki?

— Ele não...

— NÃO MENTE PARA MIM MERDA! — gritei furiosa, mas ele continuou quieto — Eu achei que gostasse de mim Zayn.

— Eu não gosto. — ele disse seriamente me olhando nos olhos.

Senti como se estivesse sendo atropelada por um caminhão. Completamente destruída e pisoteada por uma máquina.

Não acredito nisso.

— Você...

— Eu sou um robô. Fui feito apenas para obedecer a ordens e nada do que fazemos é real da forma que é para você. Eu sou apenas uma máquina que pode fazer foda e te dar a atenção que nenhum homem te deu. Fui feito para suprir as suas carências. Só isso.

Nem mesmo quando se tratava de um robô eu tinha sorte no amor.

Eu deveria saber que entregar todo o meu coração — de forma que nunca fiz tão intensamente antes — para uma máquina era uma ideia terrível, mas eu não pude resistir ao seu realismo e a esses malditos olhos castanhos que até agora me arrancam suspiros.

— Então é isso?

— É Hayden. Não quero desapontar as suas expectativas.

Nunca fiquei tão magoada em toda minha vida, e olha que já passou por mim todo tipo de homem escroto nesse mundo. Mas eu me dei conta de que nem mesmo uma máquina conseguia me amar por inteiro.

Eu era o problema.

— Hayden... — ele parecia ler meus pensamentos e tentou pegar minha mão, mas desviei com brutalidade.

— Não! — disse firme — Fica longe de mim.

Dei as costas e saí do meu apartamente fechando a porta com extrema força e desejando que tudo aquilo que estava se passando tivesse sido um pesadelo e o robô adorável e ingênuo sobre muitas coisas que estava comigo iria voltar à tona e me dar os beijos mais macios e carinhosos que já provei em minha vida.

Entrei no carro e fechei a porta, bati no volante umas dez vezes tentando descontar ali a frustração da dureza das palavras de Zayn em me dizer que não sentia nada em relação a nós.

Eu sei que ele é um robô, mas ele sentia! Ele me fez sentir que sentia também!

— Você não pode ser só mais um na minha lista de decepções Z. — disse já sentindo um nó na minha garganta — Eu não aceito isso!

***

Estava estudando a evolução das folhas quando ouvi a porta do laboratório abrir e Daniel entrar ali usando uma máscara e luvas. Não demorei mais do que meio segundo o olhando e voltei a encarar o meu projeto.

— Eu sei que está me odiando. — ele disse baixo se aproximando — Eu queria tanto me desculpar.

— Já o fez.

— Mas você não desculpou.

— Aí já são mais quinhetos, doutor Sharmann.

— Desculpa Hayden, eu estava um tanto alterado pela quantidade de chopes, e achei que não levasse tão a sério o seu relacionamento com o robô. — ele disse me fitando com intensidade e trinquei o maxilar.

— Eu levava.

— O quê?

— Zayn não me quer mais. — disse tentando soar firme e olhei para as folhas através do microscópio.

Todavia, estava sentindo meus olhos ardendo e enchendo tanto que não conseguia enxergar nada ali.

— Eu...

— Não é de todo culpa sua. — disse e ele me olhou confuso — Helsinki já chegou?

— Não, ele tirou o dia de folga hoje. — ele disse e assenti — Quero muito que me desculpe, eu não tinha a intenção de acabar com tudo. Você foi tão legal comigo desde o começo.

— Tudo bem. — bufei e respirei fundo.

Afastei-me do microscópio e retirei as luvas, abaixei a máscara e pude sentir o olhar confuso de Daniel. Nem eu mesma sabia a razão exata — talvez por raiva, dor ou confusão — puxei-o pelo jaleco, abaixei sua máscara e tomei os seus lábios.

[...]

N/a: oi galerissssss jgkkhj sdds? Enfim, desculpem a demora! Reta final aqui, mas espero que estejam gostando ❤️ não deixem de votar e comentar ❤️❤️

Robotic Love • z.mOnde histórias criam vida. Descubra agora