Capítulo 7 - Um dia especial

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Eu sigo pelo labirinto de corredores e aposentos. Certamente demorara alguns dias para eu dominar a disposição dos cômodos sem o auxílio de um mapa ou guia.

Nicolae está me explicando os detalhes da arquitetura e a história por trás deles quando um quadro de porte mediano me chama a atenção. As cores em si não chegam a ser lá impressionantes, tirando o vermelho sangue do vestido, a maior parte das cores são neutras, em parte por causa do desgaste do tempo. A imagem é a representação de uma mulher na casa dos 25 ou 26 anos, acredito. Considerando sua vestimenta rica em detalhes e tecido, deve se tratar de um tempo distante, século XVIII talvez, não sou muito boa com história, muito menos história da moda.
– Quem é ela? – Nicolae para a minha frente e me olha confuso. Aponto o retrato de fundo preto. Ele demora um pouco para me responder.
– Ah, claro. Esta casa tem uma coleção impressionante de pinturas, esta em especifico é datado do final da era Renascentista. Meus pais a adquiriram pouco tempo depois do meu nascimento, aparentemente se trata de uma condessa, mas a história... não me recordo exatamente. Algo haver com um amor proibido e um pintor pouco conhecido. – Ele descarta a obra com as mãos e se afasta do quadro, eu caminho ao seu lado, mas algo na imagem ainda mexe com o meu imaginário. Saímos do corredor e entramos em uma antecâmara, Nicolae toma a dianteira.
A porta bate as suas costas e Nicolae some porta a fora, o jantar já esquecido. Assim que chegamos na sala de jantar, eu vejo que a mesa está posta para somente uma pessoa. Eu olho para Nicolae confusa. Ele me guia para mais próximo da mesa, e puxa a cadeira para que possa me sentar.
– Você não se juntará a mim?
– Eu comi mais cedo, mas eu te farei companhia. – Meu prato está coberto por um abafador de alimentos, Nicolae retira cuidadosamente a tampa do prato, revelando dois lanches de presunto. Olho para Nicolae a tempo de pegar um sorriso atrevido já se esvaindo.
– Eu mesmo que fiz.
– Nossa... não precisava ter se dado a tanto trabalho.
– Não foi nada. – nós dois sorrimos e um pouco do desconforto da cena anterior, se dissipa. Nicolae puxa a cadeira para mais perto da minha. – Pelo que li no formulário que você nos enviou, você é filha única....
– Correto.
– E seus pais, onde estão? – Eu engulo um nó repentino que se forma em minha garganta, a tempos que não me derreto em lagrimas a toda menção deles. Conto toda história para ele, Nicolae permanece em um silencio respeitoso, até o fim do relato.
– .....Então, eu vim para cá. Precisava de um recomeço.
– Eu entendo, as vezes é difícil seguir em frente depois de certas coisas.
– Como pode? Você é de uma grande família... – Nicolae permanece em silencio, seu cenho está franzido como se estivesse sentindo dor. Talvez não seja um assunto bom para ele, nem todo mundo tem facilidade em compartilhar seus sentimentos com outros. Estou quase mudando de assunto, quando ele continua.
– Nem sempre é fácil viver junto, mas nós nos adaptamos. – por nós, eu considero que está falando de sua família. – E existem algumas vantagens.
– Como o quê? – Ele desconsidera o meu comentário com a mão e se levanta.
– Você verá. – Nicolae me oferece sua mão e eu a aceito. Ele me levanta junto com ele, e esse movimento quase faz nossos corpos colidirem.
Desvio meu rosto da sua linha de visão e me afasto devagar. Que venham os próximos dias, mal posso esperar.

Nicolae me acompanha até a porta do meu quarto e se despede brevemente. Eu agradeço-lhe o jantar e toda hospitalidade. Ele rejeita o meu comentário e me lembra que eu sou como da família agora, e família é cuidar uns dos outros.
– Alisha... não se esqueça de que não está mais sozinha... – Eu sorrio comovida.
– Obrigada.

Depois de toda emoção da noite eu me deito de sapato e tudo e caio em um sono profundo, tenho a leve impressão de escutar passos do lado de fora.
– Boa noite, Aly. – Então eu ouço antes de me perder na vasta escuridão.

Estou descalça no meio de um... jardim? Não um jardim qualquer, o solar Bartholy. – Como vim parar aqui?
O casaram está envolvido em uma nevoa densa de escuridão. Tudo está em silencio e o vento sopra forte ao meu redor, levantando os fios soltos do meu cabelo.
Observo o perímetro tentando achar alguém, mas não há ninguém aos arredores. Me aproximo um pouco da frente da construção tentando enxerga-la melhor e paro de repente. A fachada sumiu e eu me encontro de frente para a fonte – isso não estava aqui antes. – Escuto uma voz suave ao longe, entoando uma canção em outra língua, mas não tem ninguém. Me aproximo um pouco mais da fonte e uma silhueta escura vai tomando forma, então eu a vejo. Seus cabelos antes presos, agora caem soltos ao redor da cintura. O vestido vermelho da imagem está mais escuro, devido a agua. Ela está se banhando dentro da fonte. Mergulha sua mão em concha e as derrama com liquido em seu colo.
– Olá. – Tento chamar sua atenção, mas ela não parece estar me ouvindo ou vendo. A mulher continua a entoar sua canção e banhar-se na água. O ar já congelante, esfria ainda mais. Esfrego as mãos no braço e rezo para que me aqueçam. Ando para mais perto dela e estou pestes a toca-la quando um grito me para.
– Alisha, não faça isso! – O alerta vem de um homem a cerca de 10 metros de mim. Está aterrorizado. – Como sabe o meu nome?
– Quem é você? – Ele não me responde e continua a prece.
– Não faça isso, por favor. – Meu peito se aperta quando minha ficha cai e eu consigo reconhece-lo. Está do mesmo jeito de quando nos deixou. A barba rala e escura cobrindo o queixo assim como o maxilar, e seus óculos inseparáveis....
Tenho vontade de correr até ele e me aninhar em seus braços, mas uma força invisível me prende ao chão e eu não consigo me mover. Olho para a dama da fonte novamente, não há mais canção, e ela está olhando para o homem – para o meu pai.
Eu pego uma pedra do chão e tento joga-la na mulher para desviar sua atenção, mas antes que possa, outra voz grita o meu nome. Dessa vez eu a identifico de imediato, está no lado esquerdo da fonte, parada na direção oposta ao meu pai.
– Alisha, me ajude. – Ela chora, mas eu não posso. Sarah aperta suas mãos na barriga. Um liquido escuro escorre de um buraco no centro do seu estômago por entre seus dedos. Tenho impulso de gritar, mas não o faço. Seu sangue desce pelo corpo e cai em uma vala a seus pés, percorro-a com os olhos e o vejo abrir caminho para dentro da fonte. – Reprimo um grito ao notar o seu real conteúdo. Aquilo que eu achava ser água se mostra na verdade ser... Sangue.
– Fuja desse lugar. – Meu pai grita de longe. – Não volte mais aqui, eles são.... – Mas antes que ele possa terminar, seu corpo cai inerte no chão e o seu sangue escorre de uma ferida semelhante à de Sarah. E então tudo para e só a minha respiração pode ser ouvida. A dama da fonte, que eu não percebera ter se aproximado, se inclina sobre o corpo do meu pai e coloca sua mão na ferida. Eu espero que seja para estancar o liquido, mas ela.... ela sorri e coloca a mão manchada sobre a própria boca. Lambendo um dedo de cada vez, ela se levanta e volta para sua fonte vermelha. – Choro em silencio, e retrocedo devagar para longe dela. Minhas pernas estão fracas. – Creck. – Não, não, não, não, não... Olho para baixo e praguejo. Há um galho quebrado na sola da minha bota. Olho para a dama da fonte novamente e... ela está olhando para mim.
– Você.

Serie Irmãos Bartholy - DrogoOnde histórias criam vida. Descubra agora