No carro, a viagem foi feita num ambiente de cortar a respiração. Nenhum falou, aliás mal se ouviam as respirações. A música estava desligada e eu não me atrevia a ligá-la. Já não me sentia irritada com o Harry, estava mais calma. Agora sentia-me mais magoada pela forma como me tratou mas também estou a tentar compreendê-lo, deve haver uma qualquer razão para ele ter reagido assim.
Chegamos a um portão de ferro impecavelmente pintado de preto que interrompia um muro de pedra. O portão abriu e o motor do R8 ronronou pela estrada de cascalho ladeada de árvores altíssimas até á entrada de uma mansão enorme, de pedra com janelas e portas de madeira.
- O que estamos aqui a fazer?- Pela primeira vez depois do «incidente» atrevi-me a falar com Harry.
- É minha. Vamos dormir aqui, de manhã precisas de ir fazer o tratamento.- Suou calmo e controlado mas mesmo assim não passava de um fina traiçoeira camada de gelo por cima das fossas das Marianas.
- Mas…-Estava a preparar me para opinar contra a sua decisão mas o olhar gélido e o comprimir de lábios que me ofereceu serviram me para me calar. Senti medo. Medo dele.
Ele parou o carro, foi buscar as minhas muletas a bagageira e carregou-me a mala. Mesmo que estivesse irritado comigo continuava a ser amável.
Entramos na casa, tinha uma entrada toda em madeira de carvalho delimitada por duas imponentes escadarias, também em madeira. Harry pousou as chaves numa taça vintage que havia numa mesa de apoio logo a seguir à porta.
- Anda.- Ordenou-me numa voz calma, mas ainda assim firme. Mostrava perfeitamente que não era boa altura para eu falar.
Parámos em frente da escadaria direita. Ele tirou-me as muletas e encostou-as á parede. Num movimento rápido e inesperado pegou-me ao colo e começou a subir as escadas.
- Eu conseguia subir as escadas sozinha Harry.- Protestei ainda que a minha voz não passasse de um sussurro. Ele expirou fortemente mas não proferiu uma palavra. O seu silêncio era, sinceramente, muito mais assustador do que quando gritava. Tal como num cavalo é muito pior sinal quando eles não andam do que quando desatam a fugir que nem loucos.
Quando as escadas acabaram pensei que me fosse colocar no chão mas não, em vez disso continuou a carregar me nos seus braços através um extenso corredor com imensas portas de madeira, a mesma madeira das escadas e que cobria os rodapés das paredes enfeitadas com quadros, espelhos, fotografias e candeeiros. Quando nesse corredor não havia uma porta havia uma enorme arcada que dava para uma sala que podia muito bem pertencer a um palácio. Isso era de um lado do corredor porque do outro encontravam-se janelas ou portadas que davam para varandas.
O Harry parou numa porta mais ou menos a meio do corredor, abriu-a sem me colocar no chão.
Entrámos num quarto enorme, o maior que já tinha visto até hoje devia ter o tamanho da minha casa universitária, e ela até não era pequena. Estava decorado em tons de marfim e azul petróleo. Tinha imensas peças de decoração, uma lareira, sofás e duas poltronas, constituíam uma espécie de sala no interior do quarto, a cama era grande e alta. Foi lá que me pousou.
- Fica aqui.- Ordenou-me. Assenti. Ele saiu e eu fiquei a observar o quarto, era lindo e enorme. Tinha duas portas, deduzi que uma fosse de uma casa de banho e a outra de um closet pois o quarto não tinha guarda-fatos. Estava cansada por isso fechei os olhos e encostei a cabeça á guardas de madeira da cama. O meu primeiro pensamento foi Harry. Quer dizer, não posso dizer que tenha sido o primeiro porque na realidade nas últimas horas não tenho pensado em mais nada. Eu não sei qual a tua opinião mas eu estou a ficar meio farto de pensar nele. É que pensar num homem o tempo faz-me sentir um pouco gay. Recorda-me lá por que razão tu és UM, masculino, quando eu sou uma rapariga? Não era suposto também seres uma? Talvez não, talvez estejas destinada a ser lésbica. Ok. Cala-te a sério. Isso foi a ideia mais estúpida que já tiveste. Pensa bem, até faz sentido. Se fosse lésbica de certeza que o tipo de corpo que o Harry tem não me ia deixar toda molhadinha, como deixa. Ok, demasiada informação. Mas já que estamos a falar disto. Ver o corpo do Harry deixa-me bastante murchinho. Nhaac! Que nojo! Eu não precisava de saber disso, OK?
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Wounded souls
FanfictionEla chega a uma nova terra onde tudo e todos lhe são desconhecidos e la encontra um par de olhos verdes que a captam. e esses olhos verdes vem nos seus azuis algo, algo profundo, algo que tras de volta os seus demonios, algo que o assusta. e quanto...