Pausa para almoço

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Uma música como você nunca me diria a verdade

Ela me excitaria, me derrubaria

Faria-me sentir como se não houvesse nada fora desta sala ( Song like you - Bea Miller)

A reunião da terça-feira foi mais divertida do que realmente deveria ser, embora acredite que a palavra "diversão" não fizesse parte do vocabulário do que meu carrancudo chefe durante a mesma, enquanto um dos assistentes de produção encarava as pernas da sua querida secretária tão assiduamente que teria se tornado desconfortável para qualquer uma, mas, no momento, tudo o que me interessava era o contrato que seria assinado ali e que significava uma nova fase para a Our Home. Ele nos garantiria a construção de todos os cenários de um seriado novo da Netflix que nem tinha sido lançado e já era um sucesso! Mas, para isso, precisava que o assistente se concentrasse mais no que os chefes diziam e menos em mim. Oliver chegou a pedir um minuto para chamar a atenção do rapaz. Coitado. Pensei em me retirar, mas fui educadamente convidada a sentar-me à mesa onde estavam, assim não daria para encarar nada. Toquei seu cotovelo em agradecimento e deliberadamente ele balançou a cabeça afirmativamente.

Então, sem mais distrações, o contrato foi todo discutido e acertado e, o mais importante, assinado. Quase dei pulinhos quando isso aconteceu, no entanto, ainda tinha o mínimo de decência para fazer isso do lado de fora da sala de reuniões.

-Seu chefe é uma figura, não é? – Eu reconhecia aquela voz, era a do Sr. Olhudo. Retomei a compostura quase que imediatamente, virando-me para ele, que tinha um sorriso educado no rosto, o tipo que a gente tem quando quer começar uma conversa, o que era muito o caso. Imagino que deveríamos dizer nossos nomes e apertar as mãos, mas isso já tinha sido feito lá dentro, de maneira mais automática, porém válida. – Antonieta, estou certo?

-É Antoinette, na verdade. – E lá estava a mão estendida para um cumprimento de verdade. Eu não fui mal-educada e aceitei-a, deixando que a chacoalhasse para e cima e para baixo, freneticamente. – Jones, estou certa? – Rimos. – Você tem olhos bem ligeiros. – Ele pareceu ficar vermelho. Não, não, ele realmente ficou vermelho, foi incomum, eu não estava acostumada a ver homens ruborizando. – Ah, não, tudo bem, só precisa ter mais cuidado se for fazer isso outra vez, sabe, algumas mulheres ficariam ofendidas. – E alguns chefes, também.

-Eu a ofendi? Não foi a minha... Digo, minhas sinceras desculpas. – Disse para não se preocupar, contanto que não se repetisse. Para seu próprio bem. – Você quer tomar um café? Qualquer hora dessas, não necessariamente agora, eu gostaria de me redimir pelo meu comportamento de hoje. – Parecia uma boa ideia, de longe, se eu não tivesse que voltar para minha mesinha sem graça e esperar o horário de almoço.

-Seria ótimo. – É tudo o que digo, dando tempo para que ele procurasse algo dentro dos bolsos do paletó e Oliver saísse da sala de reuniões com os outros homens bem vestidos e satisfeitos, num timming perfeito.

-Aqui, tem meu telefone. – Era bem profissional, e ele não parecia tão mais velho do que eu. – Posso esperar uma ligação sua? – Oliver virou a cabeça para nós, encarando o papel que me era entregue, e franziu o cenho.

-Ahn, eu tenho seu número, então... – Pareceu uma resposta inteligente. Uma das recepcionistas apareceu para acompanhar os homens até a saída e então Oliver se voltou para mim.

-Senhorita Lemaire? – Guardei o cartão dentro da minha pasta e o segui, depois de me despedir dos demais.

Caminhamos em silêncio, mas eu conseguia ver os ombros rígidos de Oliver sob o paletó, sem entender, será que um dos produtores havia falado algo depois que eu saíra da sala?

SecretáriaOnde histórias criam vida. Descubra agora