Nossa primeira noite

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-Aqui, seu café com leite. – Leite frio, café pelando de tão quente, assim não ficava frio rápido, pelo menos foi o que eu soube quando ele me disse para pedir o café assim. Não era meu trabalho questionar se era verdade ou não, só tinha que ir à cafeteria e comprar qualquer coisa que me pedisse. Limitei-me a colocar o copo de plástico com tampinha em cima da mesa dele, longe de qualquer coisa que pudesse estragar. O próximo passo era desejar um bom dia e me dirigir para a mesa que ficava na sala da frente, cuja divisão da qual eu acabava de sair era uma parede de vidro opaco que conseguia ser surpreendentemente desnecessária, uma vez que meu chefe me chamava de minuto em minuto, seria bem mais fácil se minha mesa e a dele estivessem na mesma sala.

Eu era secretária do editor-chefe mais gato e duvidosamente exigente de toda Manhattan, menos quando se tratava de comida, o que era incrível, ele conseguia comer qualquer coisa sem torcer o nariz, até o "podrão" cheio de azeitona e mostarda que ficava na esquina do quarteirão. Sei disso porque fora nosso jantar nas últimas quatro noites dessa semana.

-Hellen? – Ah, e ele insistia em não lembrar meu nome. Uma brincadeira que perdeu a graça na segunda semana de trabalho. – Hellen, pode vir aqui? – Como seu tivesse outra escolha.

E lá estava de novo.

Um sorriso educado, cabelo devidamente penteado para trás e preso num rabo de cavalo, camisa de botão debaixo de um moletom pastel, saias comportadas e que me desenhavam até os joelhos, dando um curto espaço até as panturrilhas, nas quais se encaixavam sapatos azuis e emprestados da minha colega de quarto. Conseguiam ser confortáveis, de certo modo, mas nada, nada, era mais desconfortável do que o modo como meu chefe sorria. Era um limiar entre a arrogância e excitação, nunca entendi muito bem o porquê de definir seu sorriso dessa forma. Só que era nisso que pensava quando ele esticava a pele dos lábios sobre os dentes e dizia meu nome errado, outra vez. Seu nome era Oliver, Oliver Byrnes, editor-chefe da revista Our Home (Nosso lar) há cinco anos, desde que sua mãe a passou para ele, quando se aposentou, é uma publicação que se volta para assuntos que vão desde o portão da entrada até a porta dos fundos! Comecei aqui como uma estagiária, mas recebi uma proposta para trabalhar por contrato quando minha antecessora ficou grávida e decidiu que não iria mais voltar, algo sobre sua nova prioridade de vida ser o bebê.

-Hellen, qual foi a resposta de Dunley sobre a matéria da cozinha? – Ah, aqui, os jornalistas eram divididos por cômodo, uma equipe para sala de jantar, quarto, banheiro... E eu tinha que saber o que estava acontecendo em todos os cômodos, porque se eu não soubesse, o chefe não saberia e se ele não soubesse, bem, aí eu estaria demitida.

-Disse que estava indo hoje na confeitaria, senhor. – Passaria lá antes de vir para o trabalho e terminaria tudo antes do meio-dia. – Acenei rápido com a cabeça, de nervoso, a matéria da cozinha estava atrasada em três dias, se ele não conseguisse hoje... Não quero nem pensar no que poderia acontecer... O chefe tinha suprido o desfalque da matéria semana passada, sem nenhuma represália, mas tenho certeza de que não seria tão compreensível por uma segunda vez.

Oliver balançou a mão, em indiferença, eu conseguia ver sua boca formando algum palavrão que não queria que eu visse, por isso abaixou a cabeça, voltando a atenção para os papéis na mesa.

-Alguma resposta da Sra. Byrnes? – A mãe tinha ido para uma viagem de negócios em Tóquio de madrugada e ainda não houvera retorno algum sobre a aterrissagem. Eu havia checado quatro vezes desde que acordei.

-Não, senhor. Ainda nada, eu ia ligar novamente agora... – Não pude terminar a frase.

-Pode deixar que eu mesmo ligo, tenho outra tarefa para a senhorita, agora. – Disse que sim. – Vá para a sala de estar e diga que quero ver as fotos sobre a decoradora de ambientes mirim e peça à Melissa – fazia as matérias sobre o banheiro – que venha a minha sala.

SecretáriaOnde histórias criam vida. Descubra agora