Convite

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Lana tinha sido afastada do trabalho por alguns dias. E eu também, para evitar qualquer burburinho dentro da revista. Porém, continuava trabalhando de casa, ajudando Oliver com qualquer problema que pudesse vir a acontecer. Sinceramente, era muito melhor do que minha mesa porque eu podia ficar de pijamas, descalça, sem nem precisar me incomodar com maquiagem ou horário de almoço. Como agora, por exemplo, enquanto equilibrava o notebook nas pernas e usava uma camisa velha de flanela, eu devorava um corajoso sanduíche de patê de atum e tomate e organizava a agenda do meu chefe do mês todo.

Ah, e ainda conversava com o mesmo pelo Skype.

- Cuidado para não se acostumar com isso. – Ele debochou, jogando a gravata para trás e comendo o próprio almoço. Bem... Verde.

-Eu poderia. Na verdade, acho que vou procurar por mais Home offices nos classificados... Tá comendo o quê?

- Sala de limonada, feijão branco e... Prasinto? Eu acho. – Oliver franziu a testa e levantou o pedaço do que quer que fosse.

-Prosciutto crudo. Deve ser delicioso.

-Presunto? É gostoso. Acredito que não tanto quanto o seu sanduíche de cérebro fresco.

-Hey! Mais respeito, por favor! – Fingi estar ofendida, o que resultou numa risada forte de Oliver. E minha, também. Sempre era fácil rir com ele, até mais do que com qualquer paquera. Acho que era por conta... Não, não. A parte boa de ficar trabalhando longe do meu chefe era não ter que lidar com ele, pessoalmente, pelo menos, e deixar o que nós tínhamos mais confuso do que já era. Embora não devesse ser. Na minha cabeça era apenas sexo. Na dele, também, então nada de procurar ações em tudo o que fazia. Preto e branco. Sem tons de cinza.

Ri, derramando um pouco de patê no teclado.

- O que foi?

- Nada. Não vai querer saber.

- Eu sempre quero. – Ele rebateu. Corajoso, Sr. Byrnes, muito corajoso.

-Só... Eu gosto da nossa situação. – Sorri de lado.

- Eu também. Mesmo que tenha sido um tanto decepcionante acordar sozinho, hoje. – Senti minhas bochechas esquentarem só de lembrar o que tínhamos feito.

FLASH BACK ON

-Droga, você é muito bom nisso! Não, não para!

-Isso, minha cara, se chama técnica.

Oliver colocou a omelete perfeitamente dourada no prato em cima da bancada, com a gentil cortesia de um beijo estralado. A casa dele era grande, nada exorbitante ou ridiculamente caro, eu presumi; só uma casa de primeiro andar, paredes brancas, adornos em preto e marrom escuro, sem muita decoração, o que tinha era funcional; alguns quadros com fotos da família de Oliver e certificados, diplomas, alguns, da revista, outros, marcando a brilhante vida acadêmica e profissional dele. No mais, era muito neutro e moderno. O que tinha de melhor, com certeza, mas sem exageros, tipo uma piscina de milhões de quilômetros ou obras de arte que pagariam meu aluguel para sempre. A cozinha em que estávamos era um bom exemplo disso. E eu adorava.

-Pronto, podemos comer agora? – Ele tinha aquele olhar debochado.

- O quê? Vai me culpar por querer comer alguma coisa decente? Tem sorte de eu não te fazer ir até um supermercado, garanto que têm vários aqui perto. Nem olhe assim para mim. Hey!

-Você é muito exigente, Toni. Acontece que eu também sou. – E então, lá estava, enfiado no meio das minhas pernas, novamente. Dessa vez, me beijando sem pudor algum, segurando meus quadris enquanto deslizava a língua sobre mim. Fiquei arrepiada de imediato, incapaz de fazer qualquer outra coisa senão permitir.

Acabou que não comemos a omelete.

Só ficamos juntos. Intensamente. Embora eu tenha pedido um Uber antes do sol aparecer. Se eu me arrependi? Amargamente. Mas não saberia lidar com o fato de acordar com Oliver.

FLASH BACK OFF

-Eu estava pensando... – Ele começou. De antemão, eu tenho que dizer nada de bom, na minha vã experiência, vem depois de "eu estava pensando". Três namoros meus terminaram assim.

-Importante.

-Minha mãe ligou para meu número pessoal... Cara, isso soa muito babaca. A minha mãe ligou e comentou sobre o especial de Halloween desse ano e eu sugeri sua ideia.

-O quê? Espera, como assim? Que ideia? – Nem notei que minha mão tinha começado a suar que nem um porco antes do abate. Eu não sabia que Oliver prestava atenção nas coisas que eu falava, porque na maioria das vezes, era só da boca pra fora, tipo ideias que iam e vinham. – Oliver, esse tipo de coisa eu só falo porque sei que fica entre nós! Agora, meu Deus, agora eu não sei nem o que falar.

Oliver permanecia mais calmo do que tudo. Aquele... Ah!

-Então cale a boca e me deixe continuar. – Delicado como coice de jumento. – Ela adorou, e olha que eu nem citei a plataforma digital!

-Oliver, você... Espera, ela gostou? – Claro que ela gostou, era uma ideia do caramba! – E aí?

-Eu imaginei que poderia te contar mais no jantar. Posso te pegar às sete?

-Um... Jantar?

-Sim! Assim pode explicar mais da ideia para minha mãe.

Do que raios ele estava falando? Encarar a chefe? Assim, sem nem me preparar psicologicamente? E como eu iria explicar em que situação eu tinha dito minha ideia ao filho dela? Depois de termos...

-Eu não acho que seja uma boa ideia. – Conclui, mais do que encolhida nos ombros e no meu sofá. Estava praticamente me enfiando nele como se pudesse me tirar dali.

-Antoinette. – Merda! Nome completo e correto nunca seria um bom sinal de nada. – Não será algo informal. Eu teria de levá-la, de qualquer forma. A mamãe resolveu se reunir com algumas pessoas importantes, na casa dela e eu gostaria de que fosse comigo. Como minha... Secretária e... Bem, uma acompanhante, por que não?

Claro, Toni, que bobagem, óbvio que não seria um jantar... Para dois, eu só estaria sendo o suporte que Oliver precisava. Anotar uma coisa ou outra e rever a agenda de publicações. Tudo bem, isso eu conseguia fazer.

-Pode me passar o endereço. – Pego o telefone para anotar.

-Não seja boba, eu te busco.

-Acha que é uma boa ideia?

-Se eu acho uma boa ideia evitar o desconforto de ter de ficar te esperando na casa da minha mãe? Ou de você ter de me esperar chegar para não ficar deslocada?

Levantei as mãos. Ele venceu esse round.

-Ok, ok. Como quiser, Sr. Byrnes. – Olhei para o relógio. – Tudo bem, meu horário de almoço terminou, preciso voltar a trabalhar.       

SecretáriaOnde histórias criam vida. Descubra agora