A Coisa

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Passei direto pela estrada de volta da entrada da cidade, sabia que não iria mais ter ninguém ali após o recolhimento do corpo, por isso descido parar em casa antes de ir para a delegacia para poder dar uma olhada na Calamithy Jane, minha gatinha. Fazia 24h que eu não pisava lá e precisava ao menos colocar água e comida para ela.

Ao entrar na minha residência vou direto para a cozinha onde fica as tigelas da gata e como eu imagino estava vazia.

— Pobrezinha, estou tão preocupada comigo mesma que te deixei morrendo de fome. — Falo sozinha enquanto coloco sua ração e encho a outra tigela de água. — Calamithy? — Chamo-a andando pela casa.

Ouço um miado baixo vindo de baixo do sofá e quando me ajoelho para olhar, vejo Calamithy escondida. Estendo a mão para poder pega-la e tirá-la dali, porém a gata se arrepia toda me mostrando suas presas e garras ronronando com ira para mim.

— Ei garota vem aqui, o que deu em você? — Digo acenando com a mão para ela sair.

A gata não muda sua postura, parecia que estava me afrontando, me dizendo que eu não era bem vinda ali, que eu era uma invasora. Isso me irritou, quem ela pensa que é para tratar sua dona assim? Tento mais uma investida, mas sem sucesso. Sinto uma coisa subindo arranhando minha garganta e saindo pela minha boca em forma de um rosnado raivoso e autoritário, como se essa fosse uma forma de dizer para ela quem é que manda. Calamithy em resposta se desarmou e saiu cabisbaixa dali de baixo, mas agora eu não queria saber de papo, ela havia me irritado, por isso mais uma vez o som sai da minha boca fazendo com que ela desse um miado auto e corresse para meu quarto.

— Acho que te mimei demais. — Resmungo. — Espera… Eu acabei de rosnar para a minha gata? — Fico encarando o chão por um momento tentando assimilar o que tinha acontecido, mas meu estômago ronca me tirando toda a concentração.

Agora percebo o quanto estou faminta, não comi nada desde ontem, com todo esse estresse eu nem havia me tocado, a não ser quando… Balanço a cabeça afastando a lembrança da minha cabeça e vou até a cozinhar ver o que poderia comer. Olho no relógio e estava marcando 11:23, um tanto cedo para um almoço no entanto, a fome está me matando.

Abro a geladeira e a primeira coisa que me chama a atenção é uma bandeja de bife cru ensanguentado, minha boca começa a salivar de vontade, meu estômago ronca mais alto como se estivesse aprovando aquilo. Pego a bandeja apressada e rasgo o plástico. Sinto por um momento certa fissura, quando o cheiro da carne invade minhas narinas. Não esta fresco, era claro, ainda está gelado, mas parece tão apetitosa… Tão suculenta… Nem pensei, em menos de segundos devorei aqueles pedaços de bifes cru com voracidade. Acredito que a visão dessa cena não seria nada agradável de se ver, entretanto eu nunca tinha comido algo tão saboroso.

— Okay… — Comento encarando a bandeja agora sem nada. — Espero que isso não me cause mais uma visita ao médico.

Lavo minha boca e mãos sujas de sangue, isso foi estranho, justificável pela minha fome, mas muito estranho.

Saio de casa as pressas, não queria dar mais motivos para Wynonna caçoar de mim, sem contar que quero muito entender porque a morte daquele homem mexeu tanto comigo.

Chego rápido na delegacia, afinal nessa cidade tudo fica perto. Mal entro e já vejo a confusão que estava se criando lá dentro, Shawn enrolado com as ligações enquanto os poucos policiais — cinco para ser mais exata — que tínhamos se atrapalhavam com as papeladas e, da porta onde ficava a BBD, dava para se ouvir a voz alta de Wynonna dizendo possíveis lugares onde ela poderia enfiar o tablet de Jeremy. Reviro os olhos e dou um assobio alto.

— Que bagunça é essa? — Digo com a postura firme chamando a atenção de todos, menos Wynonna que continuava aos berros dentro da sala, mas com ela eu lido depois.

She WolfOnde histórias criam vida. Descubra agora