As Peças se encaixam

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Acordo com o corpo novamente dolorido e a mesma sensação de estar perdida que senti quando acordei na manhã passada. Mexo meus braços e sinto meus pulsos arderem, como se estivesse presos no ferro em brasa, abro meus olhos e vejo que meus pulsos estavam presos em correntes pregadas em uma parede de concreto. Estou com um cobertor grosso cobrindo meu corpo nú e minhas roupas estão dobradas ao meu lado. As memórias de como vim parar aqui retornam em um lampejo.

— Quem… O que é você? — Perguntei para o garoto com fisionomia animal na minha frente.

— O que nós somos, é o que você deveria me perguntar. — Ele disse com seu olhar diabólico ainda com a voz grossa demais para uma criança. — Nós não temos muito tempo, por favor me ajude com ela.

Eu poderia não confiar neles, ainda mais porque eles são suspeitos  de homicídio, mas a garota estava muito mal e meu instinto de ajudar as pessoas falava mais alto.  O ajudei a segura-la e a levei até minha sala. O sangue das suas costas pingava sujando todo o chão fazendo uma trilha até a sala. Com cuidado a deitei de bruços no pequeno sofá que tinha ali e subi um pouco a camiseta dela para ver o ferimento.

Como eu havia imaginado na noite anterior, o arranhão pegava toda a sua costa até a clavícula. Não era tão profundo, mas estava feio, roxo e ensanguentado. A menina estava pegando fogo e suava bastante. Infecção, sem dúvidas.

— O que aconteceu com ela? — Perguntei após analisar o ferimento.

— Ela estava tentando me acalmar… — O garoto falou alternando sua voz entre grossa e normal, ele estava bastante instável andando de um lado para o outro passando a mão na cabeça. — Mas ela é teimosa pra caramba, não quis ir para um hospital.

— Eu não sei se eu posso ajudar com isso, esse arranhão tá bem infeccionado, temos que leva-la ao hospital. — Disse subindo mais a camiseta dela.

— Não podemos! — Ele respondeu alarmado. — Eu nem deveria ter trazido ela aqui, mas eu não sabia o que fazer. — O garoto me olhou com os seus olhos voltando a ficar negros e humano. Percebi o tanto que ele estava desesperado.

Assenti para ele e fui até o meu armário para pegar uma caixa de primeiros socorros, aproveito e pego uma camiseta reserva que tinha ali para dar a garota, já que a sua estava ensopada. Com uma tesoura, começo a cortar a camiseta dela para me dar espaço para trabalhar. Agradeci mentalmente pelo curso de primeiros socorros que fiz enquanto limpava as costas dela com álcool.

A garota soltou um gemido fraco e o garoto correu se ajoelhando perto dela. Ele segurou uma das mãos dela carinhosamente e ficou ali encarando apreensivo a menina que estava de olhos fechados. Enquanto eu esterilização minhas mãos para pôr as luvas, a linha e a agulha fico o observado, se ele tivesse sido realmente sequestrado não estaria tão preocupado com ela. Mais uma vez a história não batia.

— Rápido moça, por favor, já são dez horas, ela tem que acordar antes disso se não… — Ele disse sem tirar seus olhos da menina.

— Se não vocês vão matar mais pessoas, é eu entendi, estou fazendo o que posso. — Respondi o interrompendo.

O garoto me encarou chocado, sua boca se abriu mas ele nao fala nada, parecia que não sabia o que respinder.

— Ah meu Deus, você ainda não percebeu… — Ele sussurrou por fim.

— Percebi o quê? — Perguntei sem muito interesse, pois estava concentrada em costurar as costas da menina da melhor forma que eu podia.

— Moça, eu não tô falando dela… — Ele disse e eu o encaro. — Eu tô falando de você… Nós dois… — Falou nervoso. — Fomos nós que matamos aquelas pessoas!

She WolfOnde histórias criam vida. Descubra agora