Disquei o número do Pedro pela décima vez. Caiu na caixa postal como nas outras vezes. Encolhi-me na cama, abraçando as minhas pernas. Minha mãe começou a gritar:
- Lili! Saia deste quarto pelo amor de Deus!
Ela começou a bater na porta insistentemente, mas eu não a abri. Fiquei muda, até que ela desistiu. Fechei os olhos e a lembrança de Pedro veio tão forte como nunca, seu sorriso zombeteiro, os olhos castanhos esverdeados brilhantes, o jeito que ele falava comigo:
- Eu te amo Lili, você é a mulher da minha vida...
Senti o meu coração se apertar. E inevitavelmente as lágrimas vieram. Pedro não poderia ir embora, eu tinha certeza que ele me amava. Precisava conversar com ele pessoalmente, se ele olhasse nos meus olhos mudaria de ideia.
Sai sorrateiramente do meu quarto, deixei a minha casa pelas portas do fundo para que ninguém notasse. Peguei um táxi com destino ao centro de São Paulo.
Cheguei até o apartamento conhecido, senti meus olhos arderem por causa das lágrimas. Apertei o interfone, a voz conhecida atendeu:
- Lili, o que você está fazendo aqui?
- Pedrinho, eu preciso conversar com você, por favor!
- Pode subir Lili. Disse ele contrariado.
Subi até o décimo andar, apertei a campainha. Pedro me atendeu na hora. Meu coração deu um salto ao revê-lo.
- Entra.
Eu me sentei no sofá, Pedro ficou de pé, disse bruscamente:
- O que você está fazendo aqui?
- Eu quero só saber por que acabou? Foi pelo que aconteceu não foi?
Pedro se sentou, respirou fundo e disse:
- Claro que não Lili. Já tinha acabado eu só não havia me dado conta, eu estava acostumado com você.
Num ímpeto eu tentei beijá-lo, ele desviou o rosto, disse:
- Não, Lili.
Neste momento o chão pareceu se abrir debaixo dos meus pés eu me dei conta que era o fim quatro anos de amor haviam acabado assim. Eu tive a sensação que o mundo tinha ficado escuro, eu não seria capaz de viver sem ele.
Fui embora desolada, eu sabia a verdade sobre o fim. Tinha acabado depois da pior noite da minha vida, a noite em que eu fora violentada.