Meu coração deu um salto no peito ao ler a mensagem, escrevo:
“Pedrinho, estou bem e você? Sim, estou na casa da minha tia”.
Estou quase apertando o botão enviar quando desisto. Ele não foi me visitar no hospital, por ele tanto faz eu viva ou debaixo de sete palmos.
Desligo o celular, o enfio na gaveta.
- Pronto! Resista Alice! Digo.
- Lili! Lili! Você está bem? Diz Carlinha, batendo na porta.
- Dor de cabeça prima, já eu saio daqui.
- Tudo bem qualquer coisa avisa, vou dar uma saída!
Enfio-me debaixo dos cobertores, eu sou uma grande covarde, ficar trancada no meu quarto, feito uma adolescente que viu um garoto bonito.
Ligo a televisão para distrair a cabeça. Está passando um clip da Danni Carlos.
“Não leve a mal
se eu fico um pouco zonza
Luzes de neon
acendem quando você passa
Não leve a mal
ver você me faz querer viajar
pra perto da lua
no azul do seu olhar
Não leve a mal”.
Não! Isto só pode ser uma brincadeira perversa do Universo! Eu não quero saber de olhos azuis, ou melhor, de olhos nenhum. Eu quero ficar sozinha, longe de problemas, isto é, de todos os homens do mundo, menos o meu pai.
Duas horas mais tarde me encontro em um beco sem saída, ou eu desço para jantar, ou vou dar na cara que tem alguma coisa errada.
Já que não tem jeito... Prendo meus cabelos em um rabo de cavalo, saio do meu quarto, vou até a sala de estar que está vazia. Não tem sinal de ninguém. Vou até a cozinha. Dou um salto ao ficar cara a cara com meu primo.
- Lilica! Não te reconheci. Você mudou muito.
Eu cruzo os braços e faço minha cara de má.
- Pra você é Alice! Não eu continuo a mesma menina de 11 anos. Digo com ironia.
- Hey! Tá tudo bem? Minha mãe me contou...
Sinto que fico vermelha até o último fio de cabelo.
- O que foi exatamente que ela contou?
- Ah! Você sabe, sobre a internação...
- Deve ter saído em todas as revistas e eu nem to sabendo. Agora, se me der licença.
- Toda! Falou Murilo irritado.
Eu dei de ombros e sai dali o mais rápido possível. Nós não seríamos amigos, a única coisa que eu queria era ficar minimamente perto dele!
Fui para o meu quarto e disquei o número de casa.
- Alô mãe! Quero ir pra casa!!!
- Lili, o que aconteceu?!
- Nada, mãe! Só quero voltar!
- Minha filha, se você voltar agora perde o semestre inteiro da faculdade. E nós já conversamos sobre isso, vai ser melhor para sua recuperação ficar no interior.
- Mas, mãe!
- Lili!
- Tudo bem! Mas quero ir pra outro lugar.
- Algum problema com a sua tia?
- Não.
- Então, filha.
- Ok, mãe, beijos.
Desabo na cama. Pelo jeito eu vou ter que passar muito tempo trancada no meu quarto.