Que bela desastrada eu sou! Falei bufando enquanto ia de volta para casa de titia. Definitivamente não poderei ser uma cirurgiã! Eu nem queria mesmo!
Assim que abri a porta dei de cara com a minha prima, ou melhor eu achava que era a Carlinha, porque ela parecia ser outra pessoa.
Definitivamente estava linda, os cabelos castanhos batiam no seu ombro. Seus olhos cor de mel eram brilhantes. Vestia-se casualmente com uma blusa da Gap e uma sapatilha dourada.
Ela me abraçou tão tão forte que quase sufoquei, seu perfume familiar me acalmou, ela era como a irmã que eu nunca tive.
- Lili! saudade!
Ela me puxou para o seu quarto no andar de cima. Trancou a porta e disse:
- Aqui temos alguma privacidade, você sabe como mamãe é! Ama uma fofoca.
Eu concordei, me sentei na sua cama e ela na minha frente em uma cadeira, foi direta ao falar:
- Te visitei no hospital, mas você estava dopada. Depois quando recebeu alta a dona Cátia não queria que ninguém a incomodasse, mas eu juro que o tempo todo, sentia bem aqui, ela apontou para o coração, a sua tristeza, também fiquei tão abalada!!! Eu tenho vontade de matar o sujeito com as minhas próprias mãos, Lili!
Abaixei a cabeça, repentinamente tomada pela emoção resolvi me abrir, falei choramingando:
- Eu me sinto imunda desde aquele dia. Ele me tirou tudo, me tirou o Pedrinho, Carlinha! Com ele foi uma parte do meu coração. Estou oca por dentro! Vazia!!!
Carlinha disse com raiva:
- O quê? Você vai defender aquele filho da mãe? Não, na minha frente. Na hora que você mais precisou aquele bosta te deixou. Isso não é coisa de homem Lili!
- Nãooo! Você não entende?
- Entender o que? Pelo amor de Deus, Lili. A culpa não foi sua!
- Não foi, mas fui descuidada e o Pedrinho não aquentou a barra entende? é como se eu o tive traido!
- Puta merda! É claro que não! Você não traiu ninguém Lili. Vocé é a única vítima disso tudo. O Pedro é um filho da mãe!
Fiquei quieta, não sabia o que dizer. Carlinha entendeu e saiu do quarto, me deixando sozinha com meus pensamentos sombrios.
Acabei pegando no solo, acordei com a minha prima.
- Meu irmão chegou. Aposto que nem se lembra mais dele, venha!
Fui com ela até o quarto do meu primo, me lembrei da última vez que o vi era um menino de uns 12 anos, um ano mais velho que eu. Logo depois ele foi estudar fora. Ele era tão estranho, cheio de espinhas, com aparelho nos dentes e o cabelo meio grande.
Carlinha bateu na porta e foi logo entrando. Meu primo estava de costas, se virou para nós.
- Oi, priminha. Ele mal terminou de completar a frase e olhou para mim suspreso.
Achei que ia ter um colapso nervoso, ou um ataque de histéria. Na minha frente estava o Murilo o garoto que eu vira na praça.
Eu poderia ter disfarçado, ou levado na piada. Mas, como eu sou uma verdadeira covardade eu sai correndo feito uma louca.
Fechei-me no quarto e falei baixinho:
- Eu estou ferrada. Muito ferrada!
Neste mesmo momento meu celular apitou.
Eu abri e vi o número que eu espera há dois meses que entrasse em contato.
Era um SMS de Pedro.
"Oi Lili! Tudo bem? Soube que se mudou... Acho que nós precisamos conversar, bjs."