Ouvi em algum lugar que morrer não dói. Não sei, porque ainda não foi dessa vez que passei para o plano de cima. Mas posso dizer que viver dói pra caramba.
Principalmente se sua tentativa de morrer for fracassada, ai a tortura começa, injeções, dores de cabeças horríveis, delírios... E tudo mais.
Depois de quinze dias internada me liberaram, obviamente que acompanhada por perto por um psiquiatra. Mas eu não estou louca, eu só estou muito infeliz, extremamente triste.
Agora meus pais me olham o tempo todo, eles acham que se virarem as costas vou pegar uma faca. Bom, na verdade não, não quero mais morrer. Quero recomeçar e gostaria que fosse com Pedro.
Mas verdade seja dita o filho da mãe não me visitou no hospital nenhuma vez. Eu o deio por isso. Tanto, mais tanto que chego a ficar doente de ódio.
Conversando com a minha terapeuta decide me afastar, ir pra longe. Vou pedir transferência da faculdade e ir para Ribeirão Preto, na casa da minha tia.
Ela é divorcida, tem dois filhos. A Carlinha e o Murilo. O Murilo estava fazendo intercâmbio não o vejo há vários anos, a Carlinha está seguindo os passos da mãe, estuda direito. Minha tia é uma advogada bem sucedida que tem uma casa tão grande que você pode se perder nela.
Amanhã é o dia da grande viagem, antes de ir, preciso fazer algo. Abro a caixinha em cima da minha cômoda, pego a aliança prata reluzente, leio a sua inscrição:
"Pedro S2".
Seguro-a lembrando do começo do nosso namoro.
Estavámos sentados na calçada da minha casa. Já era noite, as primeiras estrelas despontavam no céu. Ele pegou a minha mão e disse:
- Você é a garota mais linda que eu conheço, o que você viu em mim?
- Tudo que eu sempre sonhei. Eu respondi.
- Você não vai embora vai?
- Nunca vou estar aqui pro que der e vier. Disse.
Nos beijamos, foi naquela noite que ele me deu a aliaça...
Agora eu a jogo no lixo, infelizmente eu não posso jogar no lixo as lembranças.