A FUGA FATAL

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2000 - Santiago de Compostela - Espanha

– Corra, Olga, corra! Ela está subindo pelo elevador.

– Calma, Álvaro. Pegue as crianças que já separei tudo. – Olga fechava a última mala. – Vai ficar tudo bem! Tenha calma.

– Estou com ódio!

– Estamos indo para uma nova vida. Não vamos pensar em amante e traição. Você tem que me prometer que o passado ficará aqui para sempre.

Olga pegou as duas crianças, apoiou uma na cintura e a outra no braço e começou a descer rapidamente a escada, enquanto Álvaro apanhava as malas e trancava a porta. Estavam no terceiro pavimento do histórico hotel Miraflores e tinham pouco tempo para escapulir das garras de uma mulher enfurecida, Dolores. Aquela mulher se assemelhava a um animal voraz de natureza selvagem, faminto há dias, em busca da sua presa para dilacerar com seus dentes anavalhados.

Sem demora, cruzaram o extenso corredor luxuoso da recepção sem serem incomodados. A perua alugada esperava lá fora. O plano de Olga fora bem arquitetado, e nada, nem ninguém, iria impedi-la de realizar o seu objetivo. Seu sonho sempre foi ter uma família, e não ia abrir mão da sua por nada na vida. Sua família significava amor sem fim. Amor ser fim.

A mulher enfurecida batia ferozmente na porta do quarto 315.

Ninguém abria.

Ninguém falava nada.

Ninguém aparecia.

O ódio era crescente lá em cima.

Lá embaixo, Álvaro já colocava o filho de quatro anos no banco traseiro, afivelando o cinto. A pequena de seis meses foi posta na cadeirinha.

– Eu dirijo. – Olga tomou a direção do Citroën Xsara Break branco. Álvaro não estava em condições para dirigir. A mulher golpeou o acelerador do carro, deixando a sossegada avenida do aconchegante hotel Miraflores, que com sua atmosfera doméstica graças ao carvalho que revestia o chão e paredes, acolheu aquela família que agora fugia em alta velocidade em direção ao aeroporto. Em direção a uma nova vida.

O dia pálido e sem sol brevemente ficaria mais negro, trazendo uma noite hostil, com gaivotas silenciosas e uma lua fria e distante.

O voo da família saía, pontualmente, às dezenove horas.

Todavia, Dolores faria de tudo para que o embarque jamais ocorresse.

Não estava atrasada, mas corria com urgência, em fortes aceleradas.

– Lá vem a Dolores! – Olga balbuciou ao perceber um carro amarelo em seu retrovisor. – Segure-se, pois, ela não vai nos alcançar!

– Vá com prudência. As crianças adormeceram.

– Ela é louca e não me conhece! – Acelerou mais.

Os olhos de Olga turvaram de insegurança. Aquela mulher leviana era um perigo monstruoso para sua formosa família.

Ela não vai me alcançar! Proclamava com fé, tentando dissipar todo o medo. Pânico. Terror.

A mulher do carro amarelo não tinha nada a perder, poderia facilmente acabar com sua vida e todos os sonhos de família feliz. Entretanto, Olga era perversa e uma habilidosa motorista. Desde os treze anos já dirigia o carro do pai, nas extensas vias de Brasília, e desde então era uma excelente condutora, graças ao seu pai que era piloto de Stock Car e desejava deixar seu legado para ela.

Naquele ponto a névoa pairava ameaçadora sobre o asfalto.

Não havia outros veículos na pista.

Podia esmagar sem piedade o acelerador.

Estava apreensiva. Tensa. Aflita.

Pensamentos a mil por hora.

Apesar de velho, o carro amarelo era veloz e estava bem próximo. Contudo, Olga sempre engenhosa, tinha um plano.

Uma placa de sinalização surgiu:

"Curva fechada à direita a 500 metros".

Chegou a hora letal.

Em alta velocidade, um dos carros não vai conseguir fazer a curva.

Vai capotar. Girar várias vezes, até parar com as rodas contemplando o céu cor de chumbo.

Olga verá, pelo retrovisor, o exato momento em que o carro amarelo pegará fogo e acalmará seu acelerado coração.

A sorte viajava em apenas um dos veículos.

7mbro EternoWhere stories live. Discover now