O castigo

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Após algumas semanas saiu a sentença do juiz, favorável à vítima. A família Ventura estava toda sentada à mesa, perplexa com o valor da indenização que Dra. Riane revelou antes de ir embora.

– Está feliz, Paco? – Álvaro levantou-se da cadeira passando os dedos entre os cabelos já levemente grisalhos.

– Calma, Álvaro. Daremos um jeito. – Olga tentou acalmar o marido.

– Nem um centavo sairá do meu bolso. Paco precisa aprender uma lição para que nada parecido com o que fez se repita.

– Pai, ele me tocou.

– Paco, cale a boca. A sentença já saiu e cabe a você pagar o valor.

– Mas eu não estou trabalhando.

– Se vira moleque. O que fez com seus cachês? Pois não pagou nenhuma conta aqui dentro de casa. – Álvaro estava bastante exaltado e caminhava de um lado para outro.

– Valentina, vá passar um café enquanto pensamos.

– Mamãe, eu não sei fazer café.

– Melhore, fofinha! Você não é boa de celular? Então, pesquise na internet a receita. – Olga estava ligeiramente aflita, esperando um rompante de Álvaro. Torcia para Paco não falar mais nenhuma besteira e deixar o pai mais irritado.

– Só tem uma solução – Álvaro pousou as duas mão sobre a mesa e tamborilou sobre o vidro. – Vamos vender o seu carro e assim fica tudo resolvido.

– Pai, eu não posso ficar sem carro. Preciso para meu trabalho, várias vezes ele já foi usado nos editoriais.

– Tudo bem. Você não ficará sem carro, vai comprar um Fiat Uno, já sei até de quem, acredito que com um carro retrô você fará ótimos ensaios.

– O quê? É a minha imagem, pai. Não vou andar em Uno. Se for o Sporting até vai.

– Acorda filho, o que vai sobrar da venda do seu Z4, mal dará para comprar um carro de 2001.

– O quê? Uma carroça de 2001? Pé duro? Aquilo não é carro é um meio de transporte, uma furreca. Me recuso, vamos recorrer da sentença.

– Não mesmo. Já está decidido, não quero ver mais nosso nome envolvido em problemas.

– Pai, por favor, meu carro não.

– Se você gostasse de andar em um carro importado e conversível, teria pensado antes de fazer toda essa sandice. O assunto morreu. A partir de hoje você ficará sem a chave da casa e não poderá faltar nenhuma missa dominical.

– Ué! Vou entrar como em casa?

– Você está se achando independende demais. Porém vive às nossas custas garotão e você precisa entender que depende dos pais, e para entrar e sair de casa vai precisar da nossa autorização.

– Caramba...

– Sem mais. Vou tomar meu banho e depois resolveremos sobre a venda do carro.

Álvaro deixou o ambiente. Paco cruzou os braços sobre a mesa e debruçou o rosto sobre eles. Tinha perdido a batalha para o pai.

– Calma, filho. Não se preocupe, mamãe não vai deixar você perder seu carrinho, sei que é importante para sua carreira. Mas seu pai tem razão, você passou dos limites. – Olga passou a mão, literalmente, na cabeça do filho. – Você precisa ir se confessar com o padre e pedir perdão...

– Alguém aceita um café? – Valentina surgiu com quatro xícaras numa bandeja.

– Misericórdia. Que café demorado e seu pai já subiu. Ande, me dê uma xícara, pois estou muito nervosa.

Valentina serviu a mãe. Que ao tomar um gole, cuspiu longe.

– Que diabos de receita você leu? Não sabe diferenciar açúcar de sal?

– Bela, recatada e do lar, essa sou eu! Só que não. Sou uma mulher pós-contemporânea, ma-dre-ci-ta!

7mbro EternoWhere stories live. Discover now