ELE QUER SANGUE

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2016 - Brasília - Brasil

Museu da República - Semana de Moda do Cerrado - 21h45

Intervalo entre um desfile e outro. Uma música agitada preenchia o lounge: "Meu Amor Mora no Rio " da Luiza Possi, era o hit dançante da noite de gala. O burburinho em meio à multidão de convidados vips era grande, aguardavam ansiosos o estilista mais badalado do momento ocupar a passarela com a sua tão esperada coleção Alfaiataria-Tecno-Vintage.

Mas é no backstage onde toda a mágica da produção acontece e nesse momento alguns fotógrafos com suas poderosas câmeras conseguem flagras incríveis dos modelos antes do glamour tomar conta deles na passarela.

Juno Braga, o top model brasileiro com fama internacional e o mais bem pago da atualidade, já se encontrava quase pronto para ser a grande estrela do glamouroso desfile do renomado estilista Hari Bento.

Havia um ar de euforia, emoção e ansiedade nos bastidores. O melhor casting, da capital federal, estava praticamente alinhado para entrar na passarela. Porém, o modelo brasilense Paco Ventura, estava prestes a demolir a carreira de Hari Bento, com sua inveja e comportamento agressivo.

Confusão em 3, 2, 1...

Longe dos espelhos e dos outros modelos que ainda estavam fazendo cabelo e maquiagem, Juno Braga, encontrava-se pronto, sentado e tomando uma espécie de suco detox.

Paco estava irritado porque o posto de maior estrela deveria ser dele e não de Juno, não conseguia mais esconder sua raiva e despeito. Aproximou-se do top internacional.

– Posso sentar ao seu lado, Juno?

– Sim, fique à vontade.

– Olha que vou ficar mesmo! – disse em tom irônico e sentou-se. – Então, está ansioso para encarar o público e os fotógrafos?

– Sempre. Não tem como não ficar. É uma responsabilidade muito grande ser o rosto da marca de Hari Bento esse ano. O público gerou uma grande expectativa nessa nova coleção e é uma honra participar desse momento.

Paco confiava na sua beleza rara: traços fortes, nariz afilado, sobrancelha grossa, cabelo escuro, o que fazia com que muitas mulheres e até homens desviassem seus olhares para contemplá-lo de alguma forma. Prosseguiu com seu plano agressivo. Ainda restavam alguns minutos para começar o desfile, tempo suficiente para ele conseguir a posição do top model. Não era a primeira vez em que se via abaixo dele, era uma rixa que já vinha de outros trabalhos, entretanto, Juno nem sabia de tal rivalidade.

– Você é gay, Juno? – Prosseguiu com seu joguinho débil.

– Que pergunta sem nexo!

– Você não acha que eu sou o cara mais gato entre todos?

– Realmente você é muito bonito. Parabéns!

– Só parabéns? Poderia me dar algo melhor! Olha só como estou. – Paco apontou para o volume em sua calça.

– Por favor, Paco! Você está sendo infantil e ridículo.

– Relaxa! Ninguém está vendo, pode tocar.

– Você é sem noção. – Juno fez menção de levantar-se.

Paco vendo que o manequim não ia cair na sua armadilha ordinária decidiu extrapolar os limites.

Pegou a mão do modelo.

Situou sobre seu órgão pulsante.

Juno levantou-se abruptamente.

Paco gritou: Esse viado nojento está querendo fazer pegação, e deu um soco no rosto de Juno. Outro soco.

O vermelho coloriu o cenário de desastre iminente.

Tudo parou.

Secador.

Espelho.

Batom.

Selfie.

O tumulto se formou.

Todos os modelos ficaram agitados e curiosos para saber o que estava acontecendo. O murmúrio era grande.

Hari ao perceber a desordem, interrompeu a entrevista que concedia e fez com que a repórter chispasse rapidamente do backstage.

O top model foi amparado.

– Que porcaria você fez Paco? – disse Hari, vendo seu trabalho ruindo.

– Hari! O Juno desse jeito não pode entrar na passarela – alardeou com a voz afetada Chicó, seu assistente.

– Meu nome é Hari Bento. Não o fiz de um dia para o outro. Demandou muito estudo, trabalho, empenho e dedicação. Modelinho nenhum vai levar meu nome para a lama! Todos aqui têm carreira sólida e vão honrar a agência de vocês e o meu ofício.

– Mas Hari! – interrompeu novamente o seu assistente. – Não podemos colocar Juno assim na passarela! Paco destruiu o rostinho dele.

– Vejo sangue e tenho pavor. Depois cuidaremos desse ato estúpido. Agora faltam cinco minutos para entrarmos. Vamos desconstruir tudo. –Hari alinhou os ombros e se esforçou para abrir um sorriso otimista. – Quero todos os modelos em fila agora.

O logotipo de Hari Bento foi exibido na entrada da passarela. As luzes se ajustaram para iluminar apenas o tablado. A música vibrante, tema da coleção, explodiu no ambiente. O público se mostrou eufórico e a carreira exemplar de Hari estava em apuros.

7mbro EternoWhere stories live. Discover now