O café esfriou

22 1 0
                                    

(...) "O Brasil passa por um momento bem delicado devido à falta de planejamento e ações políticas eficientes. A nação perdeu as forças do crescimento que vinha trilhando. E todo esse descarrilamento tem como sua origem a corrupção. Para enfrentar essa crise, falta carácter, fibra, compromisso, boa vontade e acima de tudo humanidade por parte dos governantes. Um país que tem tudo para ser próspero, porém é mal gerido".

Ding dong

Alguém apertava a campainha.

Olga mantinha-se absorta no trabalho. Formou-se em Letras, Psicologia e Relações Exteriores. Nunca foi dada a amores, amizades e tolices, e acabou se dedicando por dez anos aos estudos. Ao final, depois de voltar da Espanha, optou por ser autônoma.

Estava trabalhando em uma monografia. Vivia dessa rentável atividade. Tinha sido uma boa ideia se especializar naquele negócio. Ainda mais, neste mundo corrido onde as pessoas querem ótimos resultados sem nenhum esforço. Olga desempenhava habilmente seu trabalho e a cada monografia finalizada, essa, gerava mais dois ou três novos clientes. E assim vivia num oceano de tranquilidade com sua família, porém nebulosas nuvens começavam a se formar pelas costas dela.

A campainha continuava avisando que havia alguém na porta.

Olga finalmente se atentou ao som.

Bip

O portão foi aberto.

Olga parou e olhou para o quadro na parede junto à porta, com uma fotografia da família, a primeira que fizeram em terra brasileira. Paco com quatro anos, Valentina com seis meses e Álvaro e ela, ambos com trinta anos. Estavam em um gramado verde, sentados sobre uma manta xadrez, repleta de brinquedos e lanches para as crianças. Estavam sorridentes. Porém o olhar de Olga parecia nitidamente tenebroso.

A visita entrou pela porta principal.

– Shine, que bom revê-la! – Olga despertou dos seus pensamentos, abriu os braços para envolver a vizinha, que estivera viajando, em um intenso abraço.

– Olga, senti tanta falta das nossas conversas, e o Rio de Janeiro continua lindo, você tem que ir lá! – Shine olhou para a garagem e não avistou o seu filho. – Esse menino solta da minha mão que nem vejo. – Logo notou a adorável criança arrancando as flores do tão cuidado jardim de Valentina.

– Meu pequeno. – Olga correu até o garotinho de dois anos. – Cuidado, você pode se machucar. – Olga sempre falava isso, para afastar o pequeno dos seus objetos.

– Hoje ele está bem elétrico – avisou Shine.

– Temos muito que conversar, mas com esse pequeno à solta será bem difícil.

– Ele vai se comportar!

– Fofinha, melhore! Esse menino parece o Taz-Mania. Da última vez, ele quebrou três bibelôs meus. Vamos colocar ele naquele quarto vazio, lá ele pode se divertir à vontade e não vai se machucar. – Finalmente o quarto de ginástica, nunca levado a sério, havia ganhado uma utilidade.

– Juan, vamos para casa procurar o Fulano. Hoje a tia não está docinho. – Fulano era o gato preto de Shine, que vivia mais na rua do que em casa.

– Shineee. – Olga fez beicinho.

A vizinha resolveu aceitar a ideia da amiga e levou a criança para o andar superior. Tirou os brinquedos da mochila e colocou no chão. Fechou a porta e voltou para a sala. Juan raramente chorava e ter aquele espaço só para ele fazer suas piruetas seria incrível.

As duas mulheres sentaram-se no confortável sofá amarelo açafrão da enorme sala dos Ventura.

– Você está preta! – exclamou Olga ao notar o bronze da vizinha.

7mbro EternoWhere stories live. Discover now