26 - nada

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era outono
o cheiro azul e úmido da chuva
pintava as palavras que insistiam
em cutucar minha cabeça.
enquanto me rendia a elas
me tornava parte daquele lençol
que tinha o tom de marrom das folhas caídas
em frente à minha casa

e naquele momento
exatamente naquele milésimo de segundo
em que me costurei naquele marrom
(que não era meu)
você passou correndo
pelos meus pensamentos
e se não tivesse caído, quebrado o pé
e precisado ficar mais um pouco
talvez eu não tivesse te ajudado
te cuidado
e te feito querer ficar
por mais outros poucos

e naquele momento
exatamente naquele milésimo de segundo
associei a fraca luz avermelhada
que brilhava diante do meu rosto
com todas as canções bonitas
que já ouvi na vida.
e me lembro de ter transformado
tudo em azul
pra perder minha calma
nas tuas mãos
pra transformar aquela fraca luz
em holofote
transformar o vermelho-azulado
em fogos de artifício

se não tivesse sonhado
com o dueto
do teu beijo e do teu cheiro conversando
com os olhares de fogo que iluminei
não teria aprendido a dedilhar
o universo que sentia por ti
e não teria esbarrado
em um sorriso de cometas
que dançava ao ouvir a melodia
de todas as supernovas
que explodiam junto comigo

a culpa é sua
que foi desastrado o suficiente
pra tropeçar em mim
e quebrar
o que carregava apenas a calmaria
de pertencer à chuva
e não pertencer a mais ninguém.

a culpa é sua
que veio como meu sol
de luz mediana e confortável
e fez os raios dele
se enrolarem em meu corpo
colorindo o céu com azul límpido
pra depois
transformar tudo em outono marrom
de novo
e tornar o ocaso tão, tão distante.

só não digo que te odeio
porque você me rendeu
minhas melhores palavras
e teus melhores sorrisos.
só não digo que te amo
porque você não entenderia.
e a culpa disso
é totalmente sua
que me veio com amor
e depois
com o nada
(que você sempre foi)  

- beabee

-imensurável-Onde histórias criam vida. Descubra agora