Monstros despertos

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O dia amanheceu em tons de amarelo, minha cor favorita. Eu estava indo ver Calebe e, ao chegar, escutei um som de violão e uma voz suave que prontamente reconheci, então, curiosa como sempre fui, segui o som em direção ao quarto dele:

Aurora que clareia minha áurea

Aurora, na tua hora, me salva 

Com seus raros tons

'Cê' tem o dom 

De colorir aqui

O cinza dentro de mim

Gira como gira o sol,

Amarelo, belo girassol


Uma música sobre mim?! Fiquei ali, parada na porta o contemplando sem que ele me visse. Não fosse meu jeito estabanado e minha inacreditável habilidade de tropeçar no vento ou nas minhas próprias pernas, ficaria ali o admirando sem que ele percebesse, mas a realidade é que acabei me entregando da forma mais vergonhosa possível e ele acabou rindo de mim. Foi a gargalhada mais fofa desse mundo, mas ainda sim era constrangedor ser o motivo dela.

Passamos aquela manhã de feriado juntos mas, de alguma forma, não levei nada daquilo como um encontro amoroso, apenas um passeio de duas pessoas trocando ideias e falando sobre fé, o que me surpreendeu...Calebe falando sobre o assunto sem qualquer tom de ironia. Mas no fundo, ele sempre acreditou no mesmo que eu, só que de forma diferente, a forma "Calebe", meio torta de acreditar e demonstrar.

 Estava indo para casa quando notei ter esquecido as chaves e quando voltei para buscar, ele estava ao telefone com alguém, no 'viva voz': 

- Cê tá ligado que o plano não era esse,  ou pelo menos não foi o que me contou. O plano era iludir - coisa em que o Calebe que conheço sempre foi profissional-, levar o alvo para o altar e para onde mais você quisesse depois, mas isso não é da minha conta, e pegar a tal herança do seu velho. Negócios e prazer, só isso, sem a parte de se arrastar por ela e ficar apaixonadinho. Qual é... quem é você?

- Eu sei quem eu NÃO sou. E eu não sou mais aquele cara. - Disse Calebe

Saí correndo sem ouvir o resto da conversa, mas acho que acabou ali, porque quando dei por mim, Calebe estava tentando me alcançar.

 Não deixei que me alcançasse para tentar explicar o inexplicável, cheguei em casa e me derramei em lágrimas. Não sentia raiva ou rancor, mas uma profunda tristeza. A dor no meu coração era quase física.

Foi quando ouvi uma voz dentro de mim, que não era minha imaginação, e foi a experiência mais surreal que já vivi:

- Sua dor ainda ajudará a curar a de outras pessoas.

Quando eu disse que Ele sabia o que fazia, não levei em conta que poderia doer tanto, mas de certo modo, continuava confiando. Aquela era a voz da Razão ecoando mais uma vez, e eu a reconhecia de novo, mesmo em meio ao caos.



Nota da autora: Pesadíssimo, hein galera!  Se estivessem no lugar da nossa Aurora, perdoariam Calebe? Comentem! 

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