Pingos nos i's

7 2 0
                                    


Por telefone, pedi que Calebe me encontrasse para pôr tudo a limpo de uma vez. Nos encontramos em um café,  pois não queria ir até à casa dele ou que ele viesse até à minha: 

- Eu me reencontrei em você, Aurora, eu reencontrei minha fé e fiz as pazes com ela a medida em que você foi entrando em minha vida. Sei que talvez e muito provavelmente nada justifique, mas poxa, isso não conta, pelo menos um pouco?

- Não é justo. - Eu contra-argumentei - Não é certo você  responsabilizar sua relação com sua fé a mim, porque não seria algo genuíno e sim algo que você está fazendo só para me agradar. Eu não posso ser a motivação e servir de desculpa interesseira para que você se aproxime Dele. Eu não posso fazer nada.

-Então fala para mim que isso é uma besteira da minha cabeça. Que você não viveu e sentiu tudo isso que rolou entre a gente na mesma intensidade e proporção que eu, durante todo esse tempo.

- Não se trata disso. O seu irmão acabou entrando em um relacionamento pela motivação errada e você sabe no que deu. Eu não quero repetir o mesmo erro com você.

- Ah, então não se trata de nós, se trata de você e Marcus. Entendi tudo. Disse Calebe, sem pensar no quanto aquelas palavras me atingiram.

Ficamos em um silêncio desconfortável por um minuto e eu retomei a palavra:

- O que era?

- O que era o quê?

- A herança do seu pai que me fez virar objeto de aposta!

- Aurora, não fala desse je...

Eu o interrompi, sem paciência para suas tentativas de se justificar e minimizar a situação :

- Por favor, só me responde.

- Uma joia de alto valor. Mas teríamos que casar pra eu receber, e assim que colocasse as mãos nela, venderia, fugiria e ficaria com o dinheiro para gastar como bem entendesse.

Qualquer semelhança entre essa história e a do filho pródigo era mera coincidência.

- Uau, eu não precisava de todos os detalhes do seu mau-caratismo.

Eu não queria realmente tratá-lo daquela forma, aquilo me doía, mas doía ainda mais lembrar o que ele havia me feito.

Postos todos os pingos nos i's, depois de muito diálogo, eu comecei a entender o propósito por trás de tudo aquilo, o que foi libertador e chocante ao mesmo tempo. 

O livro de AuroraOnde histórias criam vida. Descubra agora