Capítulo 4

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Catarina parou em uma pequena mureta em frente ao mar, respirando o ar puro. Estava tão longe de casa, toda aquela água a separava de sua terra. Tinha poucas lembranças de Artena, afinal passou quase sua vida inteira em Montemor, mas tudo o que queria naquele momento era estar com sua mãe, ter um colo onde poderia deitar sua cabeça e descansar. Nunca chegou a conhecer seu pai, afinal ele morreu em batalha logo depois de seu nascimento, mas ouviu histórias sobre ele, sua bravura, inteligência e sua determinação. Queria mais do que nunca ser como ele, mas no momento não passava de uma garota assustada querendo o consolo da mãe, para poder esquecer os problemas, esquecer seus inimigos, esquecer a noite anterior, esquecer a situação atual da aliança que deveria salvar seu país, esquecer Afonso e esquecer Rodolfo.

Enquanto isso Afonso andava a passos firmes, ouviu o que aconteceu, mas custava a acreditar nisso, depois de procurar por todo o castelo foi informado que ela estava no terreno do castelo. A encontrou encarando o mar, com os pensamentos perdidos, e quase vacilou em sua decisão de confronta-la, entretanto lembrou que ela deliberadamente pediu para falar com Colin, conversar com ele, seu agressor.

"Defendeu um menino que encontraram em sua cama? O que ele estava fazendo lá?" Falou quando estava perto o suficiente, e observou quando ela apenas suspirou, ainda olhando para a imensidão do mar. "pode me dizer, mas acho que já sei a verdade." Essas palavras fizeram com ela voltasse sua atenção para ele.

"Você acha que eu estava com ele para me vingar de você?" Perguntou de forma ainda triste, sem acreditar no que ele estava insinuando.

"Acho que você é impulsiva e orgulhosa." Afonso disse, aumentando o tom de voz.

"Ele está morto." Catarina o cortou firme. "Deixe estar, eu imploro." E voltou sua atenção para o mar. Afonso olhou para ela frustrado, sem saber o que pensar ou fazer daquela situação.

"Você não pode se comportar assim. Não na corte." Disse se aproximando e puxando delicadamente seu braço, para que ela voltasse a olha-lo. "Não vê o que está em jogo aqui?"

"Porque estamos noivos?" ela perguntou, magoa em sua voz. Depois do que ele fez, como podia se achar no direito de cobrar algo dela? "Mas você não tem intenção de se casar comigo. E se eu dissesse isso a eles?" perguntou, encarando seus olhos. "Isso acabaria." E enfim ambos estariam livres para seguirem suas vidas separados.

"Você não faria isso, posso me casar com você" o príncipe tentou justificar.

Ela riu e balançou a cabeça desacreditada daquilo. "Algum dia, talvez, possivelmente." Disse com raiva.

"Você disse que tinha que pensar num país. Estava pensando em Artena quando quis conversar com seu agressor?" Afonso rebateu.

"Eu estava pensando em mim, nas minhas amigas, na minha segurança. Eu precisava de respostas. Saber o que o levou a fazer isso" Falou, sem entender aonde ele queria chegar com aquela conversa. Ele apenas balançou a cabeça, olhando para os lados. Por pouco tudo não foi jogado por água abaixo.

"Poderia ter arruinado sua reputação, e eu não poderia me casar com você Catarina, mesmo que as coisas fossem como nós queremos." Disse por fim, encarando seus olhos. Um pequeno e tímido sorriso brotou de seus lábios ao ouvir isso.

"Como nós queremos? E como nós queremos as coisas Afonso?" Ela perguntou calmamente, esperança nascendo em seu coração. Ambos se olharam por um tempo, sem desviar os olhos. Ela aproximou-se um pouco mais dele, sentindo suas respirações bem próximas.

"Se você não fosse o futuro rei de Montemor, e eu fosse apenas uma garota, não a rainha de nada. Ia querer isso? Ia querer esse relacionamento?" perguntou suavemente, talvez ainda pudesse salvar aquela aliança.

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