Limite

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O texto não é submetido a nenhuma revisão ortográfica tampouco organização de parágrafos. A escrita é feita sem qualquer sistematização, numa tentativa de transcrever aquilo que vai surgindo na mente da maneira mais fiel possível e tentar viabilizar uma autoanálise da estrutura do pensamento que tenho ao organizá-lo/formulá-lo fora da minha cabeça.


"Eu tive todo esse trabalho de recrutar todos vocês para, no fim, descobrir que mesmo juntos, não chegam aos meus pés."

Ultimamente, tenho escutado com cada vez mais frequência que sou um ser humano abençoado no que diz respeito às minhas habilidades na escrita. E é cada vez mais difícil segurar o riso conforme essas palavras vão sendo proferidas nos dias que se sucedem. Inicialmente me incomodavam, mas logo percebi que não havia motivo para tal. Há uma grande carga de inocência e tolice no que é dito. Todavia, eu achava que era uma forma de tentar me menosprezar e desmerecer todo aquele tempo que me dediquei à leitura e prática da escrita. Achava que era para justificar a suposta aptidão que eu tinha como uma dádiva, concedida por um deus que eu sequer conheci. Só com a maturidade e a experiência da vida aprendi da forma prática o que era inveja.

Sempre fui considerado uma pessoa "habilidosa na escrita", "um escritor com grande potencial". A verdade é que por mais que comentários como esses proporcionem uma boa massagem ao meu ego, nunca me considerei algo mais do que medíocre. Ortografia não é algo que "domino" em termos de saber regras e suas nomenclaturas, é apenas algo que sei instintivamente, a ponto de aplicar autocorreções (quando não deixo escapar os erros) na pura base do "porque sei que está errado". Há um sentimento incômodo de que quanto mais aprendo, mais dúvidas tenho em relação não somente aos aspectos ortográficos, mas também no que diz respeito à aquisição da linguagem, como se estabelece a comunicação e as diferentes estruturas discursivas que um texto — escrito ou não — pode assumir. Se eu fosse alguém acima da média, teria resposta de pelo menos 80% das perguntas ligadas a esses tópicos. Percebo como o que eu sei é uma gota e o que não sei é um oceano.

Desde que me dei conta desse tal "dom", nunca me incomodei com a possibilidade de usufruí-lo em prol de outras pessoas. Entre uma das poucas coisas que tenho como conhecimento é  o quanto as palavras têm poder dentro de si e como são capazes de transformar não somente um indivíduo, mas um ambiente, uma situação. Você pode destruir uma carreira profissional de alguém ou até mesmo animar uma festa inteira com as palavras certas. Isso mostra como elas têm uma arbitrariedade fantástica dentro de si, ainda que uma boa parte do poder se encontre no indivíduo que as utiliza.

Por mais que me custe admitir, sinto que sou extremamente ingênuo em vários aspectos. E um deles corresponde à "não-seletividade" de quem me proponho a ajudar. Como resultado, acumulo contatos que só me subtraem tempo perguntando somente aquilo que lhes é conveniente e deixo de lado meu singular para me preocupar com o plural. No entanto, fico dividido entre estar fazendo a coisa certa ou não, pois como docente que me sinto, há uma espécie de "dever pedagógico" que emana dentro de mim.

Eu estava prestes a finalizar o parágrafo anterior com um "mesmo com pessoas que não me agregam absolutamente nada", mas felizmente a minha sensatez e percepção de mundo mostraram que evoluí e dei um pequeno passo rumo ao progresso. E este mesmo progresso só é alcançado através das pessoas. Desenvolver a própria mente é conseguir lapidar o que há de melhor em si através da experiência com os outros. Tudo deixa experiência. E a experiência me diz que preciso aprender a estabelecer limites e seletividade.

Memórias de NinguémOnde histórias criam vida. Descubra agora