O texto não é submetido a nenhuma revisão ortográfica tampouco organização de parágrafos. A escrita é feita sem qualquer sistematização, numa tentativa de transcrever aquilo que vai surgindo na mente da maneira mais fiel possível e tentar viabilizar uma autoanálise da estrutura de pensamento que tenho e como o organizo/formulo fora da minha cabeça.
Lidar com o ser humano é algo complicado. É uma frase axiomática, mas que também é repleta de uma complexidade gigantesca, impossível de se abordar em sua totalidade. Creio que é uma característica intrínseca ao ser humano complicar não apenas as sua relações interpessoais, mas tudo aquilo que cerca sua vida, material ou não. Por isso, achei conveniente e justo ilustrar este capítulo com uma imagem do anime Naruto por conta da relação conturbada que ambos os personagens, Naruto e Sasuke, tiveram durante boa parte da obra. Também foi pelo fato de que sou um fã assíduo de animações e histórias em quadrinhos provenientes do Japão - o que não é pertinente com o assunto, reconheço -.
Quando sinto que estou perto de tentar entender as pessoas, percebo como estava completamente enganado. Vez ou outra me pego cometendo a tolice de estar próximo desta convicção. O ser humano é naturalmente instável. Por isso, é comum que pessoas radiantes hoje se mostrem uma nuvem de elegia no dia seguinte. Todos nós encaramos nossos problemas pessoais que partem de fatores externos, mas são os nossos demônios internos o grande desafio a ser enfrentado. Uma ocasião recente que pode servir como exemplo é o "não" que recebi recentemente. Senti uma vergonha imensa, afinal de contas, quando se é alguém introvertido e reservado no que diz respeito aos próprios sentimentos, é muito difícil se expor dessa forma (e as pessoas que recebem esse tipo de demonstração deveriam se sentir lisonjeadas, no mínimo), pois nos submete a uma condição de fragilidade (que não é tão grande, se analisarmos com a devida profundidade). Eu senti que progredi muito como ser humano quando percebi os meus comportamentos-resposta à rejeição comparados aos de 3 anos atrás, aproximadamente. Não me arrependi de ter confessado meus sentimentos; com respeito e cordialidade, usei da arte da palavra para dizer aquilo que eu não poderia expressar em atitudes sem o devido consentimento. Fui sincero do começo ao fim. Confessei o que estava me corroendo por dentro - e tenho certeza que agora é a amizade que será corroída a longo prazo, é complicado estabelecer esse tipo de vínculo quando o desejo era algo mais - e se por um lado isso pode ter sido muito complicado, por outro, me tirou um grande peso da consciência. Mantive o respeito, educação e a cordialidade, o que basta para qualquer relação interpessoal de qualquer cunho, não importa o grau de intimidade estabelecido com a pessoa. A angústia continua, mas há uma tranquilidade surgindo gradativamente.
Outra situação recente que talvez seja válido trazer à tona como alguma forma de proporcionar um auto-aprendizado é a conturbada relação estabelecida com algumas pessoas. A depressão é um problema conturbado vivido por ela e já experimentado por mim duas vezes. Com certeza é complicado. Aliás: que problema não é? No entanto, mesmo que somente nós compreendamos a imensidão daquilo que enfrentamos, de nenhuma forma podemos nos permitir desprezar ou diminuir os desafios de outrem. Outra coisa que acho interessante mencionar é que não sou exatamente o tipo de sujeito esotérico ou religioso, mas creio que a energia negativa das pessoas em um determinado ambiente possa ser contagiante (na verdade, acredito que isso possa ser contagiante sob um ponto de vista linguístico, que é a expressão corporal, tom de voz, etc., mas essa é uma discussão que ficará para outra ocasião). Conversar e conviver com esta pessoa não estava me fazendo bem, o que foi um grande motivo para que eu me afastasse de algumas dessas pessoas, de forma não tão gradual como eu gostaria. Como alguém que já sofreu de depressão, me sinto na obrigação ética de ajudar todo mundo que sofre com esse mal. E isso não se restringe àquela campanha idiota do Setembro Amarelo; as pessoas podem sofrer de depressão todos os dias e todos os meses do ano. Mas é complicado porque além de eu não ter formação para tal, a pessoa tem uma instabilidade emocional muito grande especialmente comigo, o único que tentei ajudar de maneira sincera e verdadeira de fato. No processo, acabei escutando coisas que foram muito desagradáveis e conversas de um viés muito negativo (e vale mencionar que havia muitas pessoas envolvidas nesses diálogos que não sofriam do problema), que acabavam me absorvendo. E em um dado momento, me via fazendo tudo aquilo que o verdadeiro "eu" jamais faria, assim como estava fazendo ou propagando discursos considerados "tóxicos" dentro dos meus princípios. Coisas como: falar mal dos outros, fazer inúmeros juízos de valor, me depreciar constantemente e de forma não irônica, me incomodar os julgamentos pressuposições que as pessoas faziam de mim, etc. E então eu percebi que havia algo de errado.
Confesso que ainda está difícil concluir se o problema é com os outros ou comigo mesmo. Porque requer um grande exercício de humildade e maturidade reconhecer nossos erros, assim como sensatez e percepção de análise para perceber com imparcialidade onde está localizado o problema. Eu não acredito que se deva seguir um caminho quantitativo para isso. Por exemplo: não é porque a maioria da população de um país vota em um presidente significaria que ele é o melhor. As massas podem ter feito a escolha errada. É por isso que a autorreflexão precisa ocorrer da forma mais qualitativa possível. Chega a ser quase um processo de reeducação mental. Mesmo ainda sendo um eterno aprendiz da vida, tenho a consciência de que muitas vezes, determinadas atitudes podem ser respostas a um estresse e frustração derivadas de problemas externos, ainda que elas não sejam adequadas por si só ou surjam em momentos nada oportunos. Esse era um dos motivos pelo qual eu não me estressava com as pessoas e tinha até uma visão esperançosa sobre elas, praticamente uma sentimento de complacência. Infelizmente hoje, tenho tentado aos poucos recuperar uma parte disto. Parte porque o todo acabava gerando uma grande ingenuidade dentro de mim, fazendo com que os outros se aproveitassem da minha boa índole e boa vontade de alguma maneira. Mas confesso: está muito difícil. Parece que há um grande empenho das pessoas em quererem decepcionar.
Hoje, vive-se uma era de hipérbole e de tempos efêmeros. Se hoje escutarmos um "eu te amo para sempre" repleto de intensidade, é completamente possível, dentro de duas semanas, a pessoa que proferiu tais palavras sair de sua vida com a mesma força que usou ao dizê-las. Vive-se uma era em que a língua, a arte da palavra, parece perder parte de sua essência, que também é uma de suas principais funções: a expressão do sentimento. E quando a compreensão da importância desse tipo de discurso se perde, logo, as relações interpessoais - seja entre namorados(as), parentes, amigos e afins - tendem a se complicar de uma maneira cruel, por assim dizer. A hipérbole deixa sequelas significativas nas pessoas, que se agravam pelo fato delas não saberem lidar com a maioria das adversidades que a vida proporciona. Por consequência, temos indivíduos que sofrem por antecipação de maneira exacerbada. Em algumas circunstâncias, é perfeitamente plausível, já que são as experiências prévias que desenvolvem nossa maturidade. No entanto, é completamente válido mencionar que todo tipo de generalização é perigosa. As circunstâncias podem parecer idênticas, mas os seres humanos não são iguais. Em algum momento de suas vidas, as pessoas parecem ter se esquecido desse conceito tão básico e tão óbvio que poderia não só protegê-las dessa ansiedade, como também fazê-las abraçar oportunidades únicas. Não é porque você havia conhecido seu ex namorado(a) em um shopping que aquele(a) novo(a) sujeito(a) que acabou de conhecer sob as mesmas circunstâncias será um(a) péssimo(a) companheiro(a). O caráter e interesse de uma pessoa são intrínsecos somente à ela, não necessariamente tornam-se voláteis por conta da circunstância.
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Memórias de Ninguém
Aléatoire"Se nem em vida plantou seu marco, não é sua morte que o consagrará" - Jaz aqui as memórias de alguém cuja escrita e pensamentos se dissiparão com a mesma efemeridade dos segundos que até aqui se foram e ainda irão. São a memórias, pensamentos e ref...