A Quarentena já Existia

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O texto não é submetido a nenhuma revisão ortográfica tampouco organização de parágrafos. A escrita é feita sem qualquer sistematização, numa tentativa de transcrever aquilo que vai surgindo na mente da maneira mais fiel possível e tentar viabilizar uma autoanálise da estrutura do pensamento que tenho ao organizá-lo/formulá-lo fora da minha cabeça.

Matéria da imagem de capa na íntegra: https://bit.ly/2xyznws

Pouco tempo atrás surgiu no oriente uma ameaça invisível aos olhos e subestimada pela ignorância de muitos. Devo ser sincero em dizer que desta parte do texto ao fim do parágrafo trata-se apenas de uma certa conveniência axiomática (são muitos os veículos de comunicação que abordam diariamente o discurso que colocarei), mas ao mesmo tempo uma necessidade introdutória para se chegar onde quero. Curiosamente, a tal ameaça global representa um perigo não exatamente pela sua taxa de mortalidade, mas devido a sua facilidade de contaminar cada vez mais pessoas e exponenciar a falha nos diversos sistemas de saúde de todo o mundo. Medidas severas são adotadas dia após dia, embora alguns países tenham as aplicado tarde demais e estejam pagando esse preço com a vida de indivíduos. No Brasil, apesar de certa relutância por parte da população e um desserviço criminoso daquele que deveria liderar nosso país de maneira sensata, a maioria está consciente de seu papel como cidadão e aparentemente, unida em prol de uma causa em comum. E explico o porquê do "aparentemente".

Há muito já vivíamos uma quarentena, só não tínhamos tempo para percebê-la. Numa amálgama de características presentes em condições patológicas como depressão, TPE (Transtorno de Personalidade Esquizoide) e até mesmo autismo, pouco a pouco as pessoas começaram a perceber em si mesmas as falhas sociais que as habitam, a ponto de sentirem-se sozinhas  ou estranhas num ambiente que deveria ser, em tese, o mais acolhedor de todos: o próprio lar. É fácil setorizar os cômodos da casa e quem os utilizam; os que ficam enfurnados no mundo interior de seus quartos, os que colocam a comida na mesa e realizam as tarefas domésticas sem auxílio, os que passam a maior parte do dia sob a iluminação da TV acompanhando diversas notícias em tom quase apocalíptico e os que queixam-se de tudo, mas são os primeiros a erguer seus smartphones nas poucas oportunidades em que a família pode se reunir. Para quem já leu dois ou três textos que publiquei — o que acho bastante improvável —, o que vou escrever desta vez é apenas um repeteco de uma série de coisas que já disse, mas desta vez, acredito eu, com um teor de lição de moral maior.

As pessoas são hipócritas e covardes. Não estou me colocando em uma posição de superioridade ou condição transcendental; na verdade é possível até considerar essa afirmação um mea culpa, de certo modo. São inúmeras as pessoas que se sentem mal por questões de carência/solidão, mas mesmo assim se abstêm do contato (mesmo virtual) com o próximo. Embora eu não queira ser de todo complacente, entendo que as motivações podem ser inúmeras: do desânimo (somado a outros fatores) à falta de confiança no próximo. A respeito do último, é compreensível que se adote essa característica quando a pessoa traz consigo um longo histórico de decepções sucessivas, afinal, chega um momento em que suas feridas no rosto já não mais cicatrizam de tanto limparem o chão com a sua cara, e a partir daí a cautela começa a prevalecer. O grande problema é quando tal comportamento se manifesta de forma exacerbada. Ora, por mais que muitas pessoas se declarem autossuficientes, tão boas de si mesmas numa condição tão super-homens e egocêntricas, não é possível renegar a própria natureza, o fato de que o ser humano é uma criatura inerentemente social. Não é possível seguir em frente quando se permite que problemas ocorridos lá atrás continuam prendendo-o feito correntes. Não existe nenhum deus ex machina que aparecerá de repente no privado da sua rede social dizendo todas aquelas coisas bonitas que você gostaria de ouvir.

 E aqui deixo uma espécie de sermão às pouquíssimas pessoas com quem tive contato estável nos últimos dias: deixem de ser assim. É particularmente desanimador conversar com vocês e receber de volta respostas monossilábicas, completamente desconfiadas (gostaria de saber o porquê, honestamente), sem contar os atrasos de horas e até dias (ninguém é obrigado a responder na hora, mas satisfação, respeito e consideração seriam de bom senso). Acredito que tudo seria mais simples se fôssemos honestos não apenas uns com os outros, mas com nosso próprio eu. As pessoas queixam-se de não ter "ninguém" com aquelas características irreais que alimentam em sua própria imaginação, mas não percebem como há ali, ao lado, alguém que genuinamente as ama, se importa, prioriza e valoriza. E além de afogarem-se no oceano da própria tristeza, tentam levar consigo aqueles que irradiam tantas boas virtudes. 

No fim das contas, a quarentena já existia há um bom tempo, mas ela apenas mudou de nome e agora se manifesta no mundo físico.


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