Medo Social

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O texto não é submetido a nenhuma revisão ortográfica tampouco organização de parágrafos. A escrita é feita sem qualquer sistematização, numa tentativa de transcrever aquilo que vai surgindo na mente da maneira mais fiel possível e tentar viabilizar uma autoanálise da estrutura do pensamento que tenho ao organizá-lo/formulá-lo fora da minha cabeça.


Constantemente vivo um conflito interno no que cerne ao modo como dialogo com as pessoas. Para psicólogos ou estudiosos de áreas afins, o título pode soar esquisito e nomenclaturas mais "apropriadas" como "fobia social" ou "sociofobia" podem vir à tona, mas esses são problemas diferentes daquilo que pretendo discutir. O objetivo é falar da questão do medo racional em si, de quando as pessoas se isolam voluntária e conscientemente. Apenas para esclarecer a diferença e não correr o risco de cair em algum tipo de armadilha semântica, a fobia social sugere que pessoas com esse transtorno sentem pavor até mesmo diante das situações mais comuns do cotidiano, enquanto pretendo discorrer sobre as pessoas que se distanciam, a princípio, por motivos bem diferentes (supondo que há em alguns dos casos).

Já faz algum tempo que venho conversando com diversas pessoas por meio de uma conta alternativa em uma rede social. E claro, conheci toda sorte de gente; de extrovertidos a antipáticos. Contudo, percebi que elas tinham algo em comum, sem exceção: em algum momento súbito, começavam a se distanciar bruscamente, seja por meio dos infames "vácuos" - que foi o mais comum - ou mesmo por uma forma de tratamento mais ríspida, inclusive agressiva em algumas situações. Ao mesmo tempo que isso me intrigava, a reincidência desses comportamentos também me gerava (e ainda gera) uma frustração e daí tem-se o advento do meu conflito interno mencionado anteriormente. Em textos publicados na minha própria conta (que ainda pretendo publicar aqui), chego a citar que durante muito tempo culpabilizei as pessoas por essas coisas, mas que o errado nisso tudo era eu por insistir. Mas hoje, em pouco tempo, vejo que a história não é bem assim. Acredito que "ingênuo" seja a palavra mais adequada a mim perante o contexto.

As pessoas são simplórias, e digo isso num sentido não exatamente pejorativo, mas como se fosse um sermão. Embora pareça contraditório o que vou dizer, não é minha intenção atribuir juízos de valor sobre os outros como se eu fosse algum tipo de entidade superior. Mas é frustrante e até decepcionante ver como as pessoas se impedem de ter novas oportunidades em suas vidas por conta de estigmas do passado, algo que já foi discutido em textos anteriores aqui. As pessoas podem ser parecidas, mas nunca serão iguais em essência, presumir isso é de uma infelicidade muito grande. Infelicidade esta que se reflete na mais alta desconfiança que a pessoa sente ao primeiro sinal de uma aproximação mais carinhosa, na primeira oportunidade onde há chance de se estreitar um laço mais íntimo, de confiar os medos, fraquezas e afins a outrem. Obviamente, cada um sabe muito bem as boas e más experiências que vivenciaram, mas pra mim isso deixa nítido como boa parte das pessoas não sabem lidar e superar essas adversidades da vida, que farão parte de nós por meio da construção de nosso caráter/personalidade. E talvez isso seja um dos reflexos mais evidentes daqueles que fazem parte da minha geração (nascidos na década de 1990) e os que vieram depois. Claro, isso não é resultado de nenhuma pesquisa etnológica, apenas uma percepção idiossincrática, mas são sujeitos que para evitarem ter encarar essas dores, eliminam quaisquer situações onde possam haver chances de se machucarem. No entanto, eu acredito que onde não há risco, não há conquista. Sair da zona de conforto nem sempre é uma tarefa fácil.

Não sou a pessoa mais carismática ou legal do mundo, tenho plena consciência disso. Todavia eu tenho minha parcela razoável de autoestima o bastante para reconhecer meu próprio valor e o quanto posso contribuir e agregar de positivo àqueles que gosto ou amo. Porém, preciso dizer que tornou-se cansativo pra mim agir de maneira complacente e compreensiva com pessoas que se isolam nas próprias bolhas de ideias e gostos individualistas, que não parecem querer superar seus estigmas e traumas ou se abrir o suficiente para saber mais de quem sou. Tornou-se cansativo pra mim tentar ser a essas pessoas alguém diferente dos antagonistas de seus passados que ainda continuam assombrando-as mesmo no presente. Tornou-se cansativo pra mim tentar ser alguém presente, que procura demonstrar de forma explícita o que sente, sem joguinhos amorosos/sentimentais, sem eufemismos. Tornou-se cansativo pra mim valorizar quem sequer valoriza a si mesmo(a), ainda que diariamente eu demonstre o valor que elas possuem e como é tudo questão de perspectiva. Enfim, tornou-se cansativo ter de lidar com esses "dementadores sociais" que, pouco a pouco, parecem extrair aquilo que há de melhor em mim. Porque o que mais me magoa é saber que no final, eu posso simplesmente desaparecer no dia seguinte sem qualquer aviso e essas pessoas não darão a mínima. E pra mim, sujeito que ama grande, essa é uma genuína decepção.

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