O texto não é submetido a nenhuma revisão ortográfica tampouco organização de parágrafos. A escrita é feita sem qualquer sistematização, numa tentativa de transcrever aquilo que vai surgindo na mente da maneira mais fiel possível e tentar viabilizar uma autoanálise da estrutura do pensamento que tenho ao organizá-lo/formulá-lo fora da minha cabeça.
É bem difícil passar um dia navegando pelo feed de notícias do Facebook sem ver ao menos uma publicação compartilhada que aborde a temática do relacionamento abusivo ou mesmo seja um relato de alguém que vivenciou tal experiência tão desagradável e muitas vezes traumática na vida da pessoa. Todavia o que me preocupa são comentários depreciativos que atribuem um papel antagonista à figura masculina.
De fato, concordo com a existência e perpetuação de uma série de "dogmas" institucionalizados que disseminam a cultura do patriarcado, sob a qual homens desempenham e exercem uma superioridade que na verdade não existe tampouco é inata à sua condição natural. O resultado disso é uma discrepância no tratamento e oportunidades em diversos âmbitos, nos quais homens têm uma vasta gama de privilégios em detrimento das mulheres, que são vistas como ineficientes ou incapazes para determinados ofícios, recebem salários menores ainda que exerçam a mesma profissão que outros homens e definitivamente não gozam da mesma liberdade e segurança que homens têm, afinal, estes muito esporadicamente precisam se preocupar com questões de importunação sexual, assédio (moral e também sexual) etc. A questão do relacionamento abusivo indubitavelmente é algo que predomina e prejudica muito mais a vida da mulher. O valor que a sociedade atribui à figura masculina certamente tem sua parcela de culpa na maneira com que a mulher tornou-se objetificada nas relações, algo que já começou a mudar consideravelmente ao longo das últimas duas décadas, felizmente. Contudo, acho que o problema dessa questão vai muito além de ser algo intrínseco ao sexo; a meu ver, é resultado de uma somatória de fatores, podendo ser condições patológicas e uma criação familiar regada em mimos e caprichos exacerbados. Claro, não tenho dados que comprovem ou endossem esse meu pensamento, mas aqui é um espaço livre para reflexões e empirismos. Por isso, irei contar a respeito de um relacionamento abusivo do qual fui vítima e você, leitor ou leitora, poderá tirar suas próprias conclusões.
Entre o final de 2012 e o início de 2013 havia começado a me relacionar com uma garota (doravante "Maria", nome fictício). Não há muito o que falar sobre as circunstâncias do surgimento do namoro não por ser clichê, mas por não haver nada de mais mesmo. Estudávamos no mesmo colégio e já nos conhecíamos de rosto há pelo menos dois anos a contar daquele período. Muito antes de conhecê-la eu já gostava de colecionar e montar uma série de figuras de ação da franquia Gundam, eram modelos de plástico chamados de Gunpla. Na época eu trabalhava, então sempre que havia oportunidade e disponibilidade financeira acabava comprando um kit mensalmente e, com o tempo, a coleção foi crescendo. Não apenas Gunplas, gostava de colecionar vários outros produtos desse âmbito mais otaku/geek, por assim dizer. Minha rotina era bastante ocupada: durante a manhã e tarde, estava no trabalho e de noite, estudando. Aos sábados de manhã fazia curso de inglês. Mesmo assim sempre me considerei uma pessoa pacata, que gosta de um marasmo caseiro. Não é como se eu evitasse sair ou coisa do tipo, mas sempre preferi o conforto de casa ou então passeios mais tranquilos, nada de baladas, rolês nem nada assim. Minha ex namorada era quase o oposto de tudo em mim: gostos e preferências, hábitos de vida etc. Porém, isso nunca havia sido um empecilho pra mim ou incômodo. E todos somos livres para fazer escolhas: se eu não aceitasse estabelecer um vínculo com alguém de personalidade distinta, seria muito mais justo eu procurar alguém que atendesse minhas expectativas do que tentar moldar alguém num padrão que eu estabeleço, o que seria uma síndrome de Procusto verdadeiramente doentia.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Memórias de Ninguém
De Todo"Se nem em vida plantou seu marco, não é sua morte que o consagrará" - Jaz aqui as memórias de alguém cuja escrita e pensamentos se dissiparão com a mesma efemeridade dos segundos que até aqui se foram e ainda irão. São a memórias, pensamentos e ref...