E se tudo fosse verdade?

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Voltando ao seu apartamento, observei Selena passos a frente. Tenho que admitir, a professora tinha um corpo admirável. Por uns instantes, imagino como seria avançar e puxá-la pela cintura, fazendo seu corpo grudar no meu.

- Por que está com essa cara? Não gostou do passeio?

- Cara? Que cara? – me faço de desentendida.

- Ué, a cara é sua. Me diga você. – Selena rebate, cruzando os braços abaixo dos seios.

Puxo uma longa respiração, balanço a cabeça negativamente e sorrio.

- Só me sinto leve, ok? – digo-lhe.

- Leve. Sei. – ela me lança um sorriso de lado.

[...]

Já passava das 22h quando me deitei na grande cama do quarto de minha anfitriã. Passei um bom tempo no banho me desfazendo do leve cheiro da praia. Encarei o teto branco e voltei a me sentir vazia. Não sou nenhuma criança, sei que isso tudo é uma grande loucura. Uma loucura que deve estar fazendo minha mãe arrancar os cabelos.

Odeio sua proteção sufocante. Odeio que tome todas as decisões da minha vida como se eu fosse uma doente mental incapacitada de qualquer coisa. Me sinto enclausurada, aprisionada em minha própria vida. Será que ninguém vê o quanto tudo isso me fere? O quanto todo esse controle e proteção sufocante me fazem surtar?

Só de pensar já perco todo o bom humor.

Se minha mãe pensa que vai me jogar numa reabilitação por meses intermináveis, está muito enganada.

- Você está bem? – numa camiseta branca e pequeno shorts de igual cor, Selena se aproxima.

- Estou. Só estou pensando mais do que devia. – solto o ar pesado pelas narinas.

- Posso saber no quê?

Selena pergunta, vejo seu pequeno sorriso e acabo sorrindo.

Droga.

Ela me deixa tão...

- Deixa para lá. Não vale a pena falar a respeito.

- Se eu perguntei, é porque quero saber, não achas? – Selena, com uma das sobrancelhas arqueada, pergunta num tom de desafio. E claro, com seu sorriso travesso de sempre.

- Você sempre foi curiosa assim? – pergunto, surpresa com sua petulância.

- Minha casa, minhas regras. E eu perguntei primeiro, entre na fila se quiser fazer alguma pergunta a minha importantíssima pessoa.

Deixo que meu queixo caia e solto uma gargalhada enquanto bato palmas. Respiro fundo, negando com a cabeça.

- Estava pensando que é uma loucura tudo isso. Eu estar aqui e finalmente fazendo algo que realmente quero sem ser questionada ou controlada.

Dito isso, Selena me olha, me analisa cautelosamente.

- Se preza tanto por sua liberdade, por que não pensa em algo para tomar o controle da situação?

- Não é tão simples. – cansada, digo.

- Imagino que não, mas se você colocar na cabeça que quer algo, corra atrás disso.

- Imagino que costuma dizer isso sempre aos seus alunos.

- É. – ela sorri. – Digo mesmo.

- Não sei o que fazer, eu não sei, Selena. Parece que eu só fico sentindo esse desejo de me libertar e quando lembro de todas as vezes que tudo deu errado, me sinto uma derrotada e sem força de vontade.

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