FEITIÇO

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Rosalinda havia dito no ouvido de Miguel que iria ao banheiro logo depois de deixar o prêmio na mesa. O marido acompanhou o andar elegante da esposa com a filha dormindo em seus braços. Quase como um premonição sentiu algo estranho vendo Linda se afastar. 

-Ei! - exclamou a fazendo parar e olhar pra trás.

Miguel. Olhar sedutor e sorriso estonteante, Miguel.

 - Eu amo você. - Confessou sem fazer nenhum som.

Rosalinda voltou os passos dados e foi em sua direção, plantando um beijo em seus lábios. Flashs dispararam sobre o casal que pouco se importavam. Por um segundo Linda até pensou em não ir ao banheiro, ir direto pra casa, ir com a sensação irritante da bexiga cheia por todo o caminho até seu lar. Para então adormecer nos braços de Miguel.

Miguel. Amado e bondoso, Miguel.

Mas aquele não era um dia de sorte. 

No corredor para a entrada do banheiro feminino uma voz surpreendeu a publicitária. 

-Rosalinda! - Marcos e duas taças de champanhe.

-Olá... - Ela não o reconheceu. Ele morreu por dentro. A poção pareceu borbulhar sobre seus dedos tamanha raiva que sentiu por não ter sido relevante na vida de sua musa. 

-Marcos, do ensino médio. - Barba por fazer, corpo quase esquelético, paletó opaco e unhas sujas. Aquele sujeito era marcante de uma forma completamente repugnante.

-Parabéns pelo prêmio.- Entregou a taça a Rosalinda apressado. Seu jeito em nada era delicado, não sabia ser cortês ou discreto. Ela teve medo dele. Ela não quis continuar parada sobe o olhar do esquisitão.

-Obrigada.- Sorriu tentando ser gentil. Ele bateu na taça em sua mão. Bebeu. Era a deixa para ela fazer o mesmo. Linda queria se livrar logo da presença dele. 

Marcos. Nome bonito, energia fedonha. 

E Rosalinda bebeu. O líquido desceu pela garganta queimando cada uma de suas células. Seu cérebro não teve tempo de processar nada. A visão foi a primeira prejudicada. Depois seus músculos, ossos, órgãos internos. Um minuto que pareceu a morte para Linda.  Para Marcos foi puro deleite das sua mais insana fantasia.

-Olá Rosalinda. - a vertebrada balançou o corpo dourado em desespero. O sorriso sujo cresceu no rosto do esquisitão. 

-Que comece nosso felizes para sempre. - Proferiu olhando os olhos da peixinha. Rosalinda na palma da mão de Marcos, que a podia matar com um aperto ou mais alguns minutos fora da água. O mau homem jogou sem nenhum cuidado o peixe num saco de plástico cheio d'água e enfiou no paletó.  

Marcos. Nome bonito, alma assassina. 




SALVEM ROSALINDAWhere stories live. Discover now