SEQUESTRO

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Fugir.

Mulher peixe condenada a bichinho de estimação.

Preciso Fugir.

Mulher peixe com fragmentos de pensamento.

Gritar.

Sufocante sensação de estar dentro de um aquário, chacoalhando no meio da estrada. Visão turva, sem direção. Imersa em água e desespero.

Quero gritar.

Rosalinda conservou parte de sua mente. Seus pensamentos remexiam como a água em que nadava. Agora, ela nadava. E não falava. Havia comprovado que magia existe da pior forma possível. Lembrou de Luisa, das histórias sobre fada antes de dormir. Era real, toda aquela fantasia podia ser real e também trágica se usada pelas mãos de um desumano. 

Era esta a palavra que a definia: não humana.

Rosalinda também quis chorar mas não sabia se peixe chorava como humano chora. E queria chorar como humana, gritar e fugir. No único momento que viu Marcos com sua visão de peixe, pode perceber o enorme sorriso em sua face, a enorme presunção, a imensa satisfação. Se ela era peixe, ele era monstro. Quem seria capaz de tamanha serenidade cometendo aquela atrocidade. 

Se não podia gritar, não podia chorar, não podia sequer respirar direito, Rosalinda ainda podia fugir.

E seu corpo de peixe era gosmento, pequeno e ágil. Sair do aquário foi missão fácil considerando sua raiva. Mas no momento em que atingiu o tapete do carro com o corpo debatendo na borracha lembrou de Luisa. 

Preciosa Luisa, não podia ficar sem mãe. Amaldiçoando o fatídico destino quis ser salva.

Precisava ser peixe por Luisa. Por Miguel. Por ela. 

Mãos ásperas a pescou e colocou de volta na água. Para encarar novamente seu novo corpo, mente e instinto. Tão pequena e tão intensa. Sempre fostes assim, afinal, Rosalinda.



SALVEM ROSALINDAWhere stories live. Discover now