TORTURA

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Ela não estava num lago, rio ou mar. Estava em uma banheira. E assim que se deu conta desse fato, sentiu sua alma menor.

-Eu te amo tanto. - Marcos estava no chão inundado pela tristeza de sua existência.

-Linda, você foi a melhor coisa que me aconteceu. - Sua mão adentrou a água fria e tentou tocar a peixinha. 

Ela estava cansada, limitada, inundada por desilusão. Deixou que as mãos ásperas de Marcos a tocassem, sem forças para fugir. E ele a tocou por longo minutos, a encarando da sua forma louca, derramando grossas e pesadas lágrimas. 

-Não devia ter te exibido. Você é tão linda, tão especial. - Tocando as escamas dela por um minuto se arrependeu. Queria tocar na mulher que antes existia, fazer coisas com ela que não podia fazer com um peixe. Mas isso nunca acontecia com Rosalinda. Ela nunca deixaria ele lhe tocar, alimentar ou observar horas a fio. Só  A peixe poderia proporcionar esse sonho. 

Passou os dedos calmamente por cada uma das nadadeiras dela e suspirou sentindo o choro se aprofundar. De repente, vergonhosamente debruçava-se sobre a banheira derramando lágrimas gordas. Havia atingido o ápice da felicidade. Ter sua encantadora Rosalinda em suas mãos, dependente da sua existência, era muito mais do que ele poderia imaginar. 

Ainda bem que peixes não podiam ler mentes, A peixe já odiava Marcos os bastante sem ter ciência de suas motivações. 

Apesar da imensa alegria que sentia Marcos sabia que tomariam sua Rosalinda,  havia sido tão orgulhoso de ter exposto seu bem mais precioso. Agora tinha consciência que a perderia. Os noticiários anunciando seu rosto em todos os Estados não o assustavam. A polícia procurando-o como suspeito de sequestro não lhe aterrorizava. O que fazia mesmo seu esqueleto tremer, sua voz desaparecer e seu corpo ceder era a ideia de perder tudo de bom que havia conquistado. A dívida que obteve para comprar a poção, não havia ainda quitado. Seu envolvimento com drogas, aquilo lhe deixava acabado. A eternidade que pensou ter com sua amada, estava com prazo de validade. Marcos, estava tão tão cansado.

A peixe se pudesse chorar, estaria. Se pudesse gritar, berraria. Se pudesse falar, correr, fugir, debater, lutar, sofrer....mas não mais podia. Se pudesse ter o poder de matar seu sequestrador o faria. Por que dela ele tirou o choro, o grito, a voz, as forças, a alma. Com um gole de champanhe ele causou o assassinato temporário de Rosalinda. Matando cada uma das partes boas que ela achou que nunca perderia. Agora aquele ser imerso na água estava distante de ser uma mulher. Talvez apenas na imaginação do lunático do Marcos, mas não na real experiência de Rosalinda. O único fio de esperança que mantinha sua vontade de viver desapareceu nos longos minutos que Marcos a acariciou e apertou com seus longos dedos. 

Mas o homem estava certo quando sentiu que perda seria inevitável. Pois adentrando o banheiro homens o levaram, o acerto de contas chegou para Marcos. E então, um nova mão segurou A peixe, mas dessa vez foi para coloca-la dentro de um saco plástico. 

Novamente sacolejando dentro de um carro A peixe não fazia ideia de para onde iria e agora não mais se importava. Não tinha mais motivações e nem queria cultivar sonhos de encontrar novamente Luisa ou Miguel. Não iria se salvar daquela maldição e nunca de fato acreditará em príncipes encantados. O único responsável talvez fosse morto em questão de horas e se não, continuaria a trancafia-la num aquário. 

O que A peixe não sabia era que além de Marcos, havia a feiticeira como responsável. Que estava sendo levada para grande feira de animais da cidade. Que aquele dia em que se encontrará era domingo. E que de fato, não existia príncipe encantado que a pudesse salvar. Mas é de se compreender, príncipes não entendem tão bem de magia. Mas crianças sabem bem o que é isso, através de toda a imaginação que possuem. E Rosalinda tinha uma criança que poderia salva-la. 

Luisa. A doce e adorável Luisa.

SALVEM ROSALINDAWhere stories live. Discover now