Brasas Fraternas da Revolução

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"Acredito que os humanoides que mais sofreram alterações em seus corpos foram aqueles que migraram para o Leste. Eles encontraram as cadeias montanhosas e planaltos elevados, junto com frio das altas altitudes e com os íngremes desfiladeiros. Afim de sobreviver eles recorreram ao sistema de grutas e cavernas, obras de Spatius. Com o passar das gerações a seleção natural tendeu para que os humanoides ficassem menores e mais robustos, entretanto demorou mais para atingir a maturidade intelectual. Como consequência disso, eles sofreram no primeiro do contato entre as espécies, portanto viraram escravos dos elfos. Porém, como professores hábeis, eles nos ensinaram conceitos importantes para nós, deuses. Irmandade, Liberdade e Revolução."

Livro da Sabedoria: Espécies de Millinar, parágrafo 4.



O interior das minas de carvão no extremo Norte de Goldenran consegue ser mais escuro do que uma noite sem lua e estrelas, as picaretas ressoam nas rochas negras, os esforços dos meus comparsas se aglomeram para acumular combustível para que aquelas fadinhas de orelhas pontudas possam esquentar os traseiros. A vida aqui é dura e mesmo com a força dos anões sinto-me fraco, os descansos não são suficientes. Estou nas profundezas da mina e ouço os carrinhos já enferrujados pegando e retirando carvão, de vez em quando uma pedra preciosa como uma safira ou esmeralda. Vivo desconfiado de que em algum momento algum elfo pode vir me açoitar por não atingir uma cota.

Após horas de trabalho já estou tremendo, ofegante, dolorido e todo sujo. Como não encontro nenhum elfo desgraçado, me dou uns minutos de luxo para sentar e respirar.

Pelo canto do meu olho vejo a luz da tocha oscilando em padrões não naturais, ao fundo consigo perceber um comparsa acenando, me chamando, vou até ele e vejo uma figura com barba grande até a base do pescoço e preta, rosto encardido com algumas cicatrizes, pelo rosto e corpo, deve ter uns noventa e cinco centímetros de altura, a mesma que a minha.

— Ei, irmão! Por aqui! — Me chama.

Eu sigo o anão por um caminho que desconhecia até então, iluminados apenas pela sua tocha, entramos por um corredor até que paramos numa área sem saída, muitos desconfiariam disso, mas um companheiro anão é mais confiável do que qualquer outro aqui nas minas, entretanto não posso evitar de perguntar:

— Qual a razão de tudo isso?

— Você é Mallagar, não é? — Pergunta o anão misterioso.

— É disso que os elfos me chamam.

— Então, o chefe está te procurando. Você vai se surpreender.

Então o vejo empurrar uma pedra empilhada num monte com a palma da mão, um pequeno buraco começa a se abrir com sons duros de mecanismos e de pedras em fricção. É bem espaçoso para um anão, mas um elfo não conseguiria passar. Eu jamais percebi que isso existia, até porque estávamos numa parte já desligada da mina, não existia o que mais ser minerado ali.

O anão me dá um sinal para segui-lo, quando entramos ele coloca uma pedra como contrapeso numa comporta, isso faz com que uma grande rocha vulcânica se desloque de maneira circular para bloquear a entrada. Realmente, é uma engenharia impressionante para algumas rochas, cordas e pedaços de ferro de carrinhos abandonados.

— A propósito irmão, qual o teu nome? — Questiono numa tentativa de puxar assunto, aquele silêncio está começando a ficar sufocante.

— É Tareghal, mas me chamam de Tareghal, o Mensageiro.

— Apelidos, desde quando temos esse luxo? Os elfos não permitem isso, permitem?

— Aqui é um pequeno reino que os elfos não tem poder, ou sequer sabem da existência. Aqui é o covil! Proibida a entrada dos orelhas pontudas de pele clara. Todos nós temos um apelido aqui, digno de nossas glórias ou funções. — Revela.

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