O Desafio de Honra do Caçador - Parte 1

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"Desde que criamos os mortais, sempre tive uma pergunta: O que aconteceria se os mortais descobrissem que estamos entre eles? Claro não somos uma ameaças para nenhum deles, pois, isso quebraria o acordo das entidades, mas não sei como eles reagiriam ao encontrar um ser, acima na hierarquia da existência perante a eles que na visão deles são toda a fundação religiosa. Porém tenho certeza que não compreenderiam tal epifania, até porque suas mentes estão acorrentadas em problemas de suas vidas efêmeras, relações hierárquicas na sociedade, disputas de territórios e um conceito que eles inventaram de honra. Devo dizer, todavia, que minha experiência como observadora, sempre quando encontravam o desconhecido e o contraditório, o medo os tocava fazendo eles se agarrarem em conceitos sólidos que eles sabiam que existiam, como por exemplo, família e tradição. A grande diferença entre o caráter dos mortais era como eles utilizavam desses conceitos para a adversidade. Se fugiam ou destruíam, ou no caminho dos nobres inteligentes adotavam aquilo para si e se moldavam no grande enigma que é sua vida."

Livro da Sabedoria Espécies de Millinar, Parágrafo 10.



O sol nem havia nascido e o cheiro das cinzas do fogo da festa de ontem ainda está no ar.

É costume uma festança quando alguém traz uma presa do tamanho de um caraghor, ou na véspera do desafio de honra do caçador. Digamos que é um último momento para o perdedor, já que ele poderá ser expulso.

Eu e Sarak comemos e aproveitamos tão bem quanto poderíamos, mas tomando cuidado para não exagerar em nada. Serão três provas de força e inteligência necessárias para um caçador digno de viver na tribo, então simplesmente queríamos alguma carne para preencher os estômagos e fomos mais cedo para a cama. Torcia para Horok não ter a mesma ideia, mas não o vi desde a hora que nos desafiou.

Retiro as remelas dos olhos e acordo com Sarak que já fica pronta para ir ao combate. Se apressou em vestir sua armadura de elos de correntes, couros nas coxas e protetores de braços, tudo isso sobre sua pele cinza clara. Portando um sorriso confiante ela diz:

— Pronto para mandar desgraçado Horok para fora daqui?

— Você está mais preparada que eu. Por que tanta pressa? Ninguém mais está acordado, ainda é de madrugada. — Retruco com meu humor matinal e pessimista.

— Aquecimento! Você ensinou calmaria antes da tempestade. Agora pegar equipamentos na porta. — Fala enquanto coloca uma bolsa na porta. — Ver você em 20 minutos, frente da fogueira

Ela, sem mais nenhuma palavra, apenas vira as costas e sai do meu campo de visão. Levanto ainda com alguns músculos ainda meio dormentes e vou em direção à bolsa. Ela é mais pesada do que aparentava e tinha um gibão de peles para proteção e camuflagem, um arco e uma aljava com algumas flechas.

Bem, ela me conhece. De todas as armas disponíveis ela sabe qual eu tenho mais proficiência.

Termino de colocar o gibão e o arco nas costas e vou olhar como ficou, entretanto, antes que eu tivesse qualquer conclusão, ouço uma voz grossa e rouca atrás de mim:

— Então quem é essa Orc? Alguém próximo a você? — Fala uma voz masculina.

— Mas que... Quem está aí? — Pergunto assustado.

— Você já me conhece, garoto. Não precisamos nos apresentar de novo.

Olho para trás e vejo o mesmo velho de ontem, sentado na minha cama apoiando a mão em sua bengala. Senhor Hazy, de alguma forma, aparece em minha cama e eu não sei se é uma ilusão, ou loucura, ou talvez os dois.

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