O Acordo Primodial

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"Conforme o grande acordo, as entidades devem entregar seu sangue e poder para a criação de entes divinos, onde a partir dos fragmentos da luz irão eclodir em sete deuses e pelos resquícios das trevas em dois deuses sombrios. Pela manifestação de seus poderes, a grande criação Millinar deve ascender à glória da existência, onde o caos e a ordem do panteão divino entregarão bênçãos e tragédias aos seus habitantes. O futuro e a sorte, entretanto, devem ser jogados aos residentes. Aos deuses pouca ou nenhuma intervenção. Isso com o intuito de conhecer os resultados das criaturas no novo continente."



Observo, no plano etéreo, uma imagem das terras virgens abaixo de nós. Um reflexo que faz o novo continente parecer como uma tela em branco, apresentando a nós uma infinidade de possibilidades. Pergunto-me, quem será o artista?

Dos nove deuses, nenhum deles tem o pincel para realizar esta obra solo. Apesar disso, têm-se intrigas e conflitos pela soberania, ao menos ainda posso assistir e relatar nesse livro todas elas. Fico intrigada com quantas descobertas podemos usar com as faculdades que nos foram entregues, porém a nossa arrogância não faria com que admitíssemos que todos nós somos necessários para que os nossos projetos do continente não acabassem em ruínas.

Somos divididos em nove: destino, espaço, tempo, poder, vida, alma e quem escreve estas palavras, a deusa da sabedoria, Fremita. Juntamente com dois deuses das trevas, Deathnara, como a ceifadora da morte e o deus mais enigmático, Emptious, do vazio.

Devido a nossa divergência, a luz sobre o pretexto da ordem, escondia nossa soberba a ponto de ignorarmos os serviços das trevas. Tentamos por meios nossos criar o equilíbrio nessa terra.

Mas o que me decepcionava era a cegueira em que nós, deuses da luz, tentávamos fazer as paisagens e ordenar a geografia do continente. Para determinar o acordo para a criação de algo era preciso à união de dois ou mais deuses, porém não sabíamos a medida de nossa intervenção na criação e sempre colocamos nossos poderes acima dos outros.

A exemplo disso posso citar as montanhas, elas tiveram o intermédio do arauto do poder, Tilanus, e das mãos do pequeno deus Spatius, do espaço. Entretanto o deus das barbas incandescentes não estava satisfeito, como ele demonstraria nas demais interferências:

— Mas que insanidade é essa? Isso é apenas pedra amontada, Spatius, faça fluir fogo para mostrar uma fonte de poder digno de nosso nome! — Dizia o deus impondo sua vontade.

— Se colocarmos muita lava haverá erupções infinitas, queremos que a vida prospere e não a queimar na primeira chance. Mas concordo, vulcões serão necessários, lava solidificada dará um solo com jóias e nutrientes. Aposto que eles vão gostar disso.

Dessa forma foram erguidas as terras vulcânicas de Oclidean e as cadeias montanhosas de Rizors.

Da mesma maneira Tilanus e Viet, a deusa mãe da natureza e da própria vida, fizeram florestas exuberantes ao Norte, terras essas que hoje são Goldenran. O senhor do destino, Galitinus, com a assistência de Dimetia, senhorita das almas, permitiram as colinas campestres e desertas no Centro-Sul, terras de Aresin.

E para finalizar, o avanço natural do tempo deveria começar. O arqueiro com a flecha da entropia, Ziet, lançou o regime de começo, meio e fim, o equilíbrio para vida estava a se construindo. Ou era assim que planejávamos.

Pelo mandamento de Viet, as vidas inteligentes começaram a andar na terra e foram evoluindo de um ancestral hominídeo em comum. Nós, deuses, estávamos ansiosos pelos resultados de nossas obras, então observamos de nossos tronos a reação das criaturas.

Porém nada mudou. Após centenas de anos a falta da morte e omissão do vazio naqueles seres os fizeram cair na ociosidade, estagnados na evolução.

O motivo era simples: Por que arrumar alimento quando não há risco da desnutrição? Por que aventurar-se quando não há adrenalina atiçada pelo risco ou recompensa? Por que sequer pensar quando não há desafio? Mergulhados em sua zona de conforto, os hominídeos tornaram-se zumbis emocionais, sem prazeres, sem medo, sem ambições, francamente, não se diferenciavam das rochas inanimadas do local. Nossa luz nos cegou e cegos guiávamos os burros para lugar nenhum.

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