Caminhos Entrelaçados

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"Desde a criação dos mortais, nós, deuses, imaginávamos os motivos que os levaria a arriscar suas próprias vidas, sendo que eles já haviam dominado a cadeia alimentar e estavam confortáveis em suas sociedades. Anteriormente foi a própria mortalidade e o vazio que impulsionaram sua evolução, afinal, o perigo se espreitava por meio de predadores, doenças e no próprio clima, mas agora que se permaneceram em civilizações cada vez mais complexas, tais perigos sumiram uma vez que estavam protegidos dentro de suas casas e muralhas. Achamos que entrariam novamente em uma zona de conforto, entretanto, novos perigos surgiram. Guerras, fome, assassinatos, corrupção e outros que ameaçariam, não somente o indivíduo, mas também a sociedade deles por inteiro. Um indivíduo sozinho não sobreviveria aos tantos perigos que existiam, fossem eles dentro, ou fora de suas muralhas, dito isso, eles tinham que recorrer a um vínculo forte entre seus semelhantes e, por consequência, criaram um novo conceito: Família. Logo, o que levaria a alguém a correr riscos contra a própria vida, seria a vida de um semelhante amado, afinal, foi somente pela família que chegaram até ali. Isso deu um novo sentido a eles que todos os deuses, inclusive os das trevas, esperavam assistir."

Livro da Sabedoria: Espécies de Millinar, parágrafo 3.



A chuva nas florestas de Millinar são rotineiras, refrescam o corpo e a alma no final da tarde. Quando isso acontecia eu costumava me sentar na varanda de minha casa ao lado do meu filho e o meu marido, com três xícaras de chá feitos com folhas colhidas da floresta em frente ao nosso lar. Sempre jogávamos papo fora, falávamos sobre como eram as aulas dele na universidade, como era a vida dele com as elfas e ele me perguntava sobre meus dias no conselho e muito mais. Era tudo mais simples na perspectiva de uma rotina agradável com quem se ama.

Como eu queria aproveitar mais momentos simples iguais aqueles. Olhando para trás eu consigo ver que quanto era feliz, mas hoje, longe desses dias perfeitos, não posso mais voltar a desfrutar tais pequenos prazeres, pois agora, não somente está uma chuva torrencial, mas também porque meu marido se encontra no paraíso celeste com os deuses e meu filho... Nem sequer uma morte digna teve, foi reduzido a uma mera besta horrenda. Sonho com ele e persigo o dia que eu consiga reverter tal maldição, mas devo confessar que cada alvorecer se torna mais pesado do que o anterior.

Desde que voltei cansada de Eleron, passei um dia inteiro dormindo sem quase nenhum contato com o mundo exterior, com exceção de uma carta. Uma carta estranha e sem remetente. As gotas caem na beirada da janela, deixando o clima ainda mais depressivo, quero ignorar uma carta dessa, mas depois de encontrar um Sacrytus eu já esperava algum sinal. Abro a carta e me deparo com um papel de qualidade impressionante, algo parecido com linho fino de cor branca. Eu noto a delicadeza do trabalho, seja quem for que enviou tem poder financeiro para isso. Finalmente começo a ler o conteúdo:

"Cara Dama Merith,

Estamos sobre um clima de agouros, não estamos? Nossos principais pilares do conselho estão destruídos, nosso líder está em condições piores que a própria morte e nossa confiança em nosso destino está abalada.

Nessas horas precisamos de elfas e elfos fortes, competentes e principalmente confiantes, incisivos em suas decisões. É por isso que escrevo essa carta, sempre admirei seu trabalho no conselho e, portanto, acredito em você e peço humildemente que nos ajude novamente, mesmo estando aposentada.

Eu gostaria de entregar minhas condolências e flores a Elzel, mas não acredito que exista apenas punição e desastre a nós elfos, há muito o que nossos amados possam viver, muito mais do que passar o resto de suas existências em maldição. Acredito que, se nos unirmos por eles, podemos lutar para que possamos trazer o sorriso a eles novamente.

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