12. Tragédia à caminho!

6 1 0
                                    

Coloquei minha mochila nas costas e a segurei apenas por uma alça enquanto me dirigia até a mesa, fazendo o que me era solicitado. Por fim, eu e meu "colega" colocamos nossas digitais em um tinteiro e em seguida no papel. Ao acabar, eu revirei os olhos. Afinal, para que tanta burocracia?

— Próximo! Deixe-me ver... Sr. Pearl e Sr. Steffens. Formarão um belo casal. — ele sorriu vendo o casal de namorados se levantarem e sorrirem.

O Sr. Bolton possuía a mente deveras aberta, por isso, ele formava casais mistos, tendo sempre uma precisa intuição para unir os alunos certos. Digo intuição por ele sempre perceber quem se daria bem com quem. Parecia uma receita de bolo milagrosa. Sr. Bolton só precisava usar a intuição e automaticamente uma afinidade eminente era formada. E comigo e Devon não foi diferente.

Logo, eu e Devon saímos da sala, e posso dizer que passamos o caminho inteiro calados. Ele fez pouco caso desde o começo e eu estava disposta a fazer o mesmo. Devon andava sozinho na minha frente, dando a impressão de que nem éramos uma dupla e que muito menos nos conhecemos. Parece que ontem nunca existiu e que tudo tinha sido um erro, já que ele mantinha o rosto o tempo todo fechado e totalmente indiferente.

Todavia, uma multidão no corredor estava agitada (mais que o normal). E não demorou para que eu subtendesse que havia acontecido alguma coisa. Antes de passar do portão de saída, eu dei meia volta e me juntei a um grupo de alunos que assistiam o noticiário, precisamente, através da sala de espera da enfermaria. A vidraça da enfermaria tinha um tamanho considerável, que possibilitava a visão da TV de 40 polegadas. Em meios a empurrões, eu pude visualizar melhor a notícia: O show beneficente de ontem à noite havia sido uma tragédia.

— Estamos aqui no local onde estava acontecendo o show beneficente, no qual alunos da universidade se mobilizavam para ajudar voluntariamente lares de idosos. — um repórter de cabelo liso e penteado impecavelmente para o lado, informava a situação. Ele usava um termo metricamente bem engomado, o dando ar de perfeccionista e certinho. No cenário por trás do jornalista certinho, havia cinzas para todo o lado, o teto do bar havia despencado totalmente e todo o aparelho de palco transformado em destroços. — Estavam na festa em torno de 500 pessoas, 350 pessoas morreram na hora, 100 estão internadas com queimaduras de 2° grau e o resto, por sorte, ficaram apenas com escoriações. Por sorte, alguns conseguiram fugir ao ver o início do incêndio.

Com tanta informação meu coração passou a acelerar, eu me lembrava da minha melhor amiga e de Violet. Eu não havia as visto desde ontem à noite. Eu só pude imaginar o pior. A possibilidade de que as garotas podiam estar entre os mortos ou feridos me atingiu como um soco no estômago.

— A polícia suspeita que esse incêndio pode ter sido provocado intencionalmente por um grupo de adolescentes, mas não podemos tratar com mais informações devido às investigações... — dei de ombros. Isso agora pouco me importava, eu só precisava saber se minhas amigas estavam bem, e só assim eu ficaria também. Poderia parecer egoísmo o fato de que eu só me importava com duas pessoas e não com a maioria, mas era pura preocupação. Preocupação essa que já estava me deixando tonta e com náuseas.

Sempre foi assim, em vez de sentir tudo em sua velocidade natural, eu multiplicava por 1000 e o produto resultava em intensidade. Sempre fui intensa demais. Ou melhor, se um dia eu morrer, na plaquinha indicando a razão do óbito haverá: morreu por sentir demais. Eu sinto demais. Sinto muito.

— Ei, o que pensa que está fazendo? O ônibus está quase saindo. — Devon disse confuso e entediado ao mesmo tempo. Ele me olhava num misto de: "estou tentando entender", já que eu estava ali parada com o celular no ouvido. Os intervalos da operadora indicando que o número estava chamando doíam na alma. Esse suspense estava acabando comigo. Agora, minha mão tremia, chegando a quase soltar o celular no chão.

— Melissa... Violet. Eu não sei se estão bem. — falei, com a voz trêmula e repleta de preocupação.

Devon me puxou pelo pulso, me tirando do meio da multidão em frente à enfermaria. Eu apenas me permiti ser levada, eu me encontrava sem reação alguma com a ideia de Violet e Melissa estarem feridas ou mortas.

— Respire. — ele sussurrou no meu ouvido e me fez subir no ônibus. Meus pelos da nuca se eriçaram ao ouvir sua voz rouca e sua respiração no meu pescoço. Devon percebia que eu puxava todo o ar, enchendo totalmente o peito, mas não expirava.

Saí do transe quando ouvi o ônibus se preparar para sair, fazendo o barulho do motor. Automaticamente eu quis puxar meu braço, não queria ir fazer aquela droga de trabalho. Mesmo que ele valesse avaliações da metade das disciplinas. Eu não ligava.

— Me deixe sair. Eu não vou fazer a porra desse trabalho. Quero saber onde está Melissa. — esbravejei. Ele me levava até o final do ônibus de forma ágil.

Devon parecia não ouvir o que eu falava e continuava andando e me puxando pelo pulso. Quando ele finalmente parou, direcionou o seu pior olhar para dois casais que estavam sentados no último banco do ônibus, imediatamente, os fazendo sair e nos dar os bancos. Eu realmente não entendia o que tinha naquele garoto que assustava tanto.

— Você não vai. — disse, calmamente. Ele me observava discar o número de Melissa pela 10ª vez desde que eu havia ouvido a notícia. Estava caindo apenas em caixa postal.

940 palavras.

DangerouslyOnde histórias criam vida. Descubra agora