O dia havia amanhecido chuvoso, sem cor. Cinza. Da cor dos meus sonhos.
A chuva antes agitada e forte, agora estava rala, calma, com chuviscos que doíam na alma por serem frios. A chuva era silenciosa e eu a assistia cair lentamente pela janela do meu quarto. Eu era uma criança de 6 anos um pouco melancólica quando estava sozinha, e passava a fazer desse tempo sem companhia divertido, com meus pensamentos tristes.
- Está pronta? Tia Rose está pedindo para que você desça, Chelse. - Uma voz calma e infantil me despertou de meus devaneios a frente do espelho. Eu estava quase pronta, só restava fazer a trança nos meus cabelos medianos. As minhas bochechas rosadas estavam mais vívidas hoje, e isso me aborrecia muito, odiava tanto minhas bochechas que não saia de casa quando elas estavam tão acentuadamente vermelhas. Mas mamãe havia me dito que eu deveria ir àquele velório, então, eu deveria me arrumar o melhor e mais rápido que podia.
- Tem certeza que temos que ir? Eu não quero ir, Josh. - Suspirei pesadamente olhando para o espelho, enquanto enroscava meus pequenos dedos no cabelo fazendo o único penteado que eu sabia fazer: Uma trança. Estava com meu vestido até o joelho, totalmente preto, com detalhes de renda, e um pequeno salto da mesma cor. O vestido se contrastava com minha pele clara e corpo pequeno.
- Eu também não queria ir, mas temos que ir, Chelse. - Josh sempre me consolava quando ele via necessidade. Ele era o meu primo favorito, andávamos sempre um ao lado do outro. O garoto de longos cabelos cor de chocolate e olhos brilhantes usava um pequeno terno. Seus cabelos longos que eu tanto adorava, chegavam aos ombros e estavam mal penteados como de costume. Ele entrou no meu quarto, pegou um pente e passou rapidamente em suas madeixas ao perceber que eu fitava os cabelos dele.
- Ficou legal. - Sorri olhando para os cabelos dele penteados pra trás, ele sorriu em retribuição. - Diga a mamãe que estou descendo daqui a pouco. - Ele assentiu e o escutei descer as escadas nada silencioso. Josh não sabia ser discreto. Sorri para o espelho com os dois dentes da frente faltando, mas logo meu sorriso foi seguido por uma careta. Eu tinha que ficar triste, estava indo à um enterro. Fiz cara de mal pro espelho e tive vontade rir. Eu tinha que ficar triste, mesmo sem nem saber quem era o falecido(a).
- Criança boba. - Falou meu avô ranzinza, enquanto passava em frente ao meu quarto. - Desça logo. Sua mãe está esperando você. - Ele falou com a voz alta e eu me encolhi. Vovô costumava vir a minha casa de passagem em toda temporada de inverno, já que ele morava na fazenda.
- Tudo bem, vovô Black. Eu já tô descendo. - Levantei da cadeira que estava à frente do espelho, e subi os braços pro alto em sinal de frustração. Por mais que meu avô fosse ranzinza e chato, eu gostava dele. Desci correndo e ultrapassei ele que descia as escadas, chegando a tempo de ver minha mãe me esperando na porta.
- Mãe, posso fazer uma pergunta? - Falei olhando pra cima. Minha mãe era consideravelmente alta, o que não facilitava as coisas para uma "baixinha" como eu. Odiava que me chamassem de baixinha, mas talvez fosse verdade.
- Já está fazendo, querida. - Ela respondeu calmamente, quase sorrindo. Sorri pra ela, de volta. Ela tinha um semblante abatido, mas deveria ser por conta das coisas que aconteceram de ontem à noite para hoje. Um telefonema de um desconhecido inquietou-a, me inquietando também. Então, ela segurou minha mão, me conduziu até a entrada, deixando-me lá e trancando a porta.
- Quem morreu? - Questionei com a curiosidade brilhando em meus olhos castanhos.
- Um velho amigo de Clark. Sei que ele antes de morrer, gostaria que nós fôssemos dar apoio à família. - Minha mãe se referia a Clark como o meu pai biológico. Eu não costumava sentir muita falta dele, e nem ela demonstrava sentir.
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Dangerously
Literatura Feminina"Amor, eu não ligo. Eu realmente não me importo. Você esteve se enganando por achar que eu me importo com alguma coisa." Enquanto acontecem coisas em recâmaras secretas do Governo, há jovens imprudentes se apaixonando perdidamente, é assim que funci...