Confissão... Cada vez que verem essa palavra para determinar um capítulo, não é porque a nossa protagonista cometeu um crime ou algo do tipo, mas sim porque ela foi vítima de vários, por anos de sua vida. Nele, ela escreverá para o homem que trouxe a destruição para a vida dela - e para cada um de vocês, é claro - as frustrações, os medos e as raivas causadas. Penso que muitas de vocês se identificarão com algum gesto, frase ou situação, e assim como Andreia tenham força para se libertarem disso e confrontarem os seus algozes. A violência contra a mulher, seja física (o que não é o caso da personagem), emocional ou ambas, atinge mulheres de todo o país, e isso muito não é motivo de orgulho para ninguém. Temos algumas leis e punições para os agressores, mas infelizmente, nem sempre o sistema tem força e rapidez suficientes para mudar os tristes números de morte, resultantes do sexismo, do machismo que ocorre entre quatro paredes dentro de um casamento. Penso que, talvez, se nos apoiarmos uns nos outros, nos unirmos para proteger e amparar a pessoa ao lado, e educar as novas gerações para que isso não se propague, os finais sejam mais felizes. Se você conhece alguém que sofre esse tipo de abuso, tente ajudar, faça com o coração que tenho certeza de que compensará. Salvar uma vida não tem preço. E se você sofre algum tipo de abuso como este, espero que minhas palavras, que a vida de Andreia sejam uma inspiração para tomar as rédeas do seu próprio destino. Independente de como seja, não se esqueça que eu, assim como muitas pessoas que estão à sua volta, te amamos, e te achamos perfeita, linda e maravilhosa assim como é.
Abraços de urso e muito amor.
Sem mais delongas, bem-vindos a Perfeição.
'Eu tenho uma aparente liberdade, mas estou presa dentro de mim. '
Clarice Lispector
CONFISSÃO
Marcos, eu precisava te confessar uma coisa... Comecei a te esquecer. E não foi tão dolorido como imaginava, sabia? Assumo que o ato foi até meio libertador... Pensei que ao te tirar de meu coração, estaria perdida, sem saber quais sentimentos colocar no lugar... Mesmo depois de tudo que fez... É como se, mesmo sem você ao meu lado, eu ainda fosse dependente daquilo que chamávamos de amor.
A primeira coisa que fiz foi arrancar dos livros que me deu todas as dedicatórias feitas. Das páginas que não consegui tirar, risquei o seu nome, com força e sem hesitar, quase rasgando o papel. Depois rasurei as nossas fotos juntos e rasguei os cartões cheios de palavras bonitas que me mandava. Foi assim que comecei a me exorcizar da sua presença.
Já deixei de falar o seu nome a cada conversa que tenho... No começo me machucava quando as pessoas me perguntavam sobre você, ou quando tinha de contar o final de nossa história. O que fiz repetidas vezes, já que nem dos nossos amigos em comum você se despediu. Cansei de omitir a verdade, de criar histórias cordiais para um término sem dor que nunca existiu. Sofrimento não ocorreu apenas no desenlace, mas sim nos últimos anos. Já não conseguia fingir, o sorriso estático enquanto as pessoas diziam que parecíamos feitos um para o outro... Tinha vontade de sair dali batendo os pés, trancando os lábios para não vomitar os mais cabeludos palavrões. Marcos é um nome que poderei chamar outras pessoas, mas não a você. A partir de agora será o falecido ou o abençoado – e não veja isso como um elogio. Qualquer dúvida, pesquise no dicionário a palavra sarcasmo. Me sentirei muito melhor se chamá-lo também de mentiroso, hipócrita ou cachorro... Ou porque não de grandessíssimo filho da puta?! Aos mais velhos, para não chocar demais, prometo te dedicar algo mais sério ou científico. O que acha de sociopata, insano ou traidor? Penso que estes títulos também lhe caem bem.
Sei que deve estar pensando, ao ler tudo isso, que nosso relacionamento não foi de todo ruim. E concordo com você... Em nossos dez anos, tivemos muitas coisas boas, momentos em que eu me senti a mais feliz e amada das mulheres... E a mais odiada também. Pois sem que eu percebesse, você fez com que eu me anulasse, tivesse vergonha de ser quem eu era. Por isso, afirmo que foi o meu salvador e carrasco, causador dos mais intensos prazeres e amargas lembranças. Foi uma ilusão, um boneco que moldei com todos os meus sonhos, anseios e expectativas. A criação perfeita que desejei durante anos, e fazia questão de mostrar a todos, cheia de orgulho... E você se aproveitou dessa imagem e usou-a como um disfarce perfeito.
Sem que eu percebesse, você me quebrou. E nem precisou me agredir para fazer isso.
Só aqui, nestas páginas, quando estiver sozinha e a raiva me dominar a ponto de me sufocar, eu falarei com você. Pela primeira vez... E também pela última as verdades surgirão. Chega de carregar feridas na minha alma, marcada pelos seus maus tratos. Preciso me curar daquilo que você deixou em mim... Na minha boca, na pele, entre as coxas. E sei que ninguém pode fazer isso a não ser eu mesma. Porque preciso te sepultar para renascer.
Esse não é apenas um caderno de lembranças dos nossos encontros apimentados, dos insólitos momentos românticos ou das doces ilusões que um dia sonhei viver ao seu lado. Quero confrontar as amargas verdades que nos rondaram durante todos esses anos. Dizer como sobrevivi ao seu amor.
Já fui uma viciada em franca recuperação. Mesmo sabendo que me fazia mal, tiveram ocasiões em que senti sua falta. Não agora, mas antes, quando, para mim, a definição de perfeição era ver o seu sorriso, sentir as mãos me pegando sem cuidado, me percorrendo o corpo, me pegando com força pelos quadris enquanto nossos corpos se chocavam, fazendo sexo. Perfeito era quando você me pedia para gozar e eu o obedecia; ou quando velava o seu sono, os cabelos despenteados sobre o rosto e a satisfação nos lábios, sabendo que era adorado por mim como um deus. Era quando andávamos de mãos dadas pela rua e me puxava em um canto qualquer só para ter a satisfação de provar dos meus lábios, ou quando eu passava as mãos pelo seu rosto, na pele áspera da barba por fazer, em uma carícia, e você prendia os meus dedos entre os dentes e passava a língua com o olhar cheio de desejo. Era vê-lo dizer o quanto me amava, mesmo que eu tenha descoberto que tudo era uma mentira.
Mas sabe que hoje isso mudou? A plenitude que achava estar na sua presença, agora aparece quando me olho no espelho e sei que não preciso de ninguém, nem mesmo de você, para me sentir uma linda mulher. É saber o momento de tomar as minhas próprias decisões e fazer apenas as coisas que me agradam, e não aos outros. É me amar, e transbordar, sem me importar se um terei um romance como dos filmes. O que preciso é fazer a minha própria história.
E posso te confessar uma coisa? Quando estiver pronta, eu quero te reencontrar. Quero que saiba dessas palavras. E talvez – porque não – entregá-las em mãos. Pois o pior não será me ver falar sobre nós, mas sim, descobrir que aprendi a ser feliz sem você.
Perfeição, hoje, para mim, é ser livre para ser e viver o que eu desejar.
Esse, sem dúvida, é o maior presente que a vida pôde me dar.
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Perfeição (Degustação)
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