Renúncia Impossível

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"A melhor viagem é sempre durante os passos dados para o regresso."

– (Koquito96)


Recuso-me!

Não me quero tornar num aluno excelente se for esse o preço – a inexistência da minha mestra...

Vou aplicar uma dislexia de propósito. Quando a vida me fazer o teste das cores serei daltónico voluntário. Quando ela pretender que deguste paladares de opiniões serei anoréxico. Terei sempre uma hipocondria para afastar a decepção que é o resultado de aprender mais, mais e mais uma linda lição.

Como escrevia num capítulo anterior; nunca mais rio se o mar dessa vida te levar...

Acho que não quero ir para a academia, se for assim.

Não quero mais aprender nada!

Viverei no alheio como o personagem dos desenhos animados, Hommer Simpson. Farei especulações como Dexter... mas não vou aprender nada.

Reduzo-me ao nada, se assim for necessário...

Tenho medo!

Tenho pavor a aprendizagem se o condicionamento é este – nada clássico.

Quero partir primeiro. Se tu partires eu nunca mais ficarei por inteiro.

Já imagino a dor – não sei se aguento de verdade. Não sei se aguento ou se saio vivo do bloco operatório do Tempo. Não acho que aguente as picadas do bisturi a cada milésimo do Tempo sem puder segurar tua mão. Não sei se saio ileso dessa cama de operação, com a espátula dos minutos raspando meu coração sem puder olhar mais para ti, mãe. Não sei se aguentarei, as anestesias das horas, com as agulhas dos dias, com os fluidos dos meses ou com a máquina de choque dos anos aplicadas amargamente sem te ter lá perto a ajudar na conversão – não sei se o Dr. Tempo me irá curar desta vez...

Meus órgãos entrarão em falência se paro de me alimentar de ti, mãe.

Minhas veias irão rejeitar qualquer tentativa intravenosa. Minhas artérias se romperiam durante os soluços da minha convulsão.

Será que aguento sair do buraco sem as tuas cordas vocais me ajudarem? Ai, que pavor.

Ai, Se eu pudesse renunciar a morte!

Minha bússola, se te partes fico sem norte. Fico sem cardeal algum.

Sei que não devemos nos preocupar com a morte da carne, mas sim com a vida eterna da alma – ainda assim, ser ou não ser, vida, eis a questão.

Eu penso sempre como seria cada cantar dos galos e pássaros sem a tua simplicidade para me traduzir. Como seriam os caminhos bifurcados dessa vida, sem os teus reflexos para me proteger se preciso. Como seriam os Códigos Morses do Mundo complicado, sem a complexidade de uma mãe para o descodificar para um filho...

Ai, se tivesse alguma fórmula para transformar a morte em mais uma vida – como a transformação da água em vinho – eu, com certeza, encontraria um Antoine Lavoisier para obriga-lo a fazer.

Tu me mostrastes sempre que por trás de um grande homem completo, há sempre uma grande medula espinal, a grande mulher fica do seu lado direito segurando sua mão sempre...

Ensinastes que temos que fazer com que o nosso coração seja livre. Que ele namore e ame outros corações. Que não se prive de nada nem de ninguém. Que segurança pessoal é a que damos as nossas acções depois de saírem do "imagine..." para o "ainda bem que segui meus instintos". Instruístes que na República do Coração não deve nunca, em circunstância alguma e jamais, haver soberania – como estar preparado para o evaporar, para o desaparecer ou para o ir embora para sempre de um mestre assim?

Luanda, Fevereiro de 2017

Apenas Palavras Não BastamOnde histórias criam vida. Descubra agora