Mãe, nosso Tempo

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"Apenas sei que nada sei..."

Sócrates


"Perguntei ao tempo quanto tempo tinha o tempo e o tempo me respondeu que o tempo tinha pouco tempo" – sei que todos já ouvimos essa frase algum dia...

Na vida, com o tempo, o tempo ensinou-me sempre que não o tenho por inteiro, será sempre uma parcela muito ínfima a que terei direito.

Ele ensina-me que a mesma boca que ri e bem diz, um dia, pode também amaldiçoar, devanear e soltar soluços de um chorar quase sem antídoto. Ensina-me que os pés que caminham rumo à glória do pódio podem tropeçar também, e nos apertar as mãos da derrota. O tempo me ensina que os mesmos olhos que definem a beleza axiológica de outrem pode muito bem um dia desprender vírgulas invertidas em desespero.

Mediante estas lições do tempo ele também dita que apesar de a boca que dá gargalhadas agora puder dar soluços depois, não deixemos de sorrir. Que por mais que os pés que caminham aqui terem a capacidade de nos deixarem cair lá, não percamos os ritmos dos passos e nem a vontade de levantar e continuarmos firmes como as raízes do imbondeiro. Por mais que os olhos que desejam e dão sentido agradável à uma vista puder declamar poemas melancólicos não deixemos de apreciar e contemplar as vistas na caminhada, principalmente a caminhada do regresso – a mais gloriosa.

Todos os dias aprendemos com o tempo. De forma severa ou não.

Um dia um automobilista aprendeu com o tempo que poderia se perder a vida num ato de minutos ou segundos mal pensados. Uma mãe adolescente percebeu que poderia se condenar gerações por uma única pílula e fármacos para um aborto sem experiência alguma. Um dia, com o tempo, amores perceberam como o prazer por minutos deliciosos condicionariam relacionamentos destinados para décadas e décadas prazerosas.

O tempo ensina tudo a seu tempo.

Basta chegar e esperar pela tua vez na fila.

Ele tarda mas chega!

Com o tempo aprendi muito, mas sei absolutamente nada...

Sabes o porquê? – Porque sempre me ensinou que a humildade é o melhor uso de tudo que se aprende e que não se sabe – o saber é a fase estacionária do raciocínio, e o aprender, a constância.

O tempo já começa suas lições desde a fase embrionária e culmina com o saber último – a morte.

Com um ano de idade o tempo me ensinou a ir atrás dos meus objectivos – é o tempo quem me ensinava a chorar pelos teus peitos sagrados e portadores da água benta, mãe.

Aos dois anos me ensinou a superar quedas quando me incentivava a andar – nesta idade o tempo me impulsionou a dar também os primeiros passos na vida e levantar sempre para continuar.

Aos três anos o tempo me mostrou que só comendo areias sentiria a essência e a importância do solo pisado. Aprendi que brincar friamente com velas acesas tem consequências quentes às vezes.

Aos quatro anos aprendi que nem tudo o que os mais vividos dizem eu devo. Aprendi também que tenho que esperar a papa ficar fria e só depois pôr na boca se não queima.

Com cinco anos aprendi que repetir as palavras que os mais velhos falam pode não ser muito divertido como parece e que existem punições que não estamos a espera.

Com dez anos percebi que devo escolher bem minhas amizades e que crescem pêlos no meu corpo todo.

Aos quinze anos da minha cronológica idade me apercebi que chorar não resolvia mais nada.

Aos vinte o tempo me ensinou a estar em baixo e a me questionar em silêncio antes de proclamar...

O tempo fez bem o seu trabalho. Sempre.

E adivinhem: Quem está sempre connosco durante esse ensinamento todo? Exactamente – as nossas cúmplices para todo sempre.


Luanda, 17 De Agosto de 2018

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⏰ Última atualização: Sep 26, 2018 ⏰

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