"O coração tem razões que a própria razão desconhece.".
Blaise Pascal
Neste capítulo pretendo falar do início, do primórdio que representa para o mundo a concepção de um feto e consequentemente, o responsável pelo mesmo – As mães.
Mas não garanto que vá apenas seguir este trilho, não prometo nada, pois eu não contenho minhas falanges distais e elas tendem a não querer esperar o próximo capítulo para seguir o padrão de um tema qualquer que o córtex fará surgir mais adiante – caras falanges apaixonadas...
Bem, elas suportam-nos no seu puro e mais íntimo, no seu mais ermos dos espaços inimagináveis, no seu templo sagrado de longínqua profundidade como um pélago, durante nove meses de paciência, semanas de esperança, duzentos e setenta e nove dias de tolerância, dezasseis mil e setecentos e quarenta horas de inocência e de elo eternificado.
Seria hipocrisia bi-quadrática não admitir que tal ato é um dos mais heróicos, se não mesmo o mais heróico, que existe na face da Terra – quem de vós, caros leitores e filhos das mães, conhece mais alguém com tamanha coragem e missão? Bem me pareceu!
Estaríamos a ser conjuntos vazios, se não pensássemos em agradá-las a cada verbo conjugado, seriam frívolas as frases se não bem articuladas da mandíbula com ajuda da maxila a fora para elas, mães, nossa herança, visto que seu amor é acervo, em montes infinitamente infinitos, um cúmulo e acumulo já desde o ventre, desde a nossa vida embrionária...do início.
Por estes grandes pilares e bases do Mundo, que sejamos aedos, ainda que fora do tempo e do espaço, para que possamos dedicar à elas, às nossas heranças, o lugar que lhes é por direito. Aduzamos o porquê, o "Arké" da existência desta espécie humana, adulemos em proezas, poesias e prosas nossa razão de encontrar uma razão no que quer que seja. Apontemos sem medo de errar de onde somos oriundos, de que célula pré-existe somos derivados – eu sou da célula-mãe Branca D'Neve.
Não depreciemos nossa fonte de axiologia profunda...quem nos amou e cuidou durante tanto, tanto e tanto tempo e tempos e nos deu sentido e significado gostosos...
Minha mãe sempre levantou muito antes da poeira e do sol, minha heroína foi uma galinha que sempre cantou como e antes do galo, bem ou mal, não importava muito, para pôr a comida na mesa e o lençol confortável na cama. Só por isso merece mérito igualado ou mesmo além de o dado a um General das tropas vitoriosas de guerras quase sem esperança – que era exactamente a nossa até aqui!
Sua educação das lenhas e fogueira, pois não haviam fogões ou fogareiros ainda, sua educação das velas e sua educação que proveio da sombra das figueiras, pois não haviam escolas estruturadas, passou para nós, os filhos, e nós retemos bem e tencionamos passar para os nossos filhos também, com muito orgulho, para que eles também passem para os seus e não deixem que este simbólico circo se abra ou se quebre por ausências estúpidas.
Ela ocupou lugares e interpretou, muitíssimo bem, uma série de personagens nesta nossa doce acre história de vida.
Foi professora e conselheira. Foi o manto de conforto, o colchão, o aposento. Foi amiga, companheira e cúmplice nos crimes morais. Foi corretora tolerante, foi o pano branco de paz que enxugava nossas lágrimas, o alimento espiritual quando faltou o sólido pão, foi remível, foi repúdio perfeito e foi honrosa carinhosa e heroicamente nosso pai também.
Sempre foi minha trincheira em tempos brutos de hecatombe, a maioria sem explicações, sempre foi minha voz livre e de liberdade quando me calava perante às dificuldades. Sempre foi meu tiro no escuro perante o enigma das tais dificuldades encaradas na passagem da vida infantil, juvenil para a vida adulta. Graças à essa figura materna, infiltrada no quadro de figura paterna também, eu não fui uma daquelas crianças de infância tentadora com quem têm de se preocupar, corrigir ou punir na vida adulta, ou não pelo menos na vertente negativa. Orgulho-me muito dela, foi a palmatória no momento certo, o puxão de orelha no tempo oportuno, o murro de amor corretor e sincero.
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Apenas Palavras Não Bastam
Storie d'amore"...Penso, por vezes, que se tivesse sabido que ela não sobreviveria à sua doença, teria escrito um livro diferente - menos uma meditação sobre a figura paterna ausente e mais uma celebração daquela que era a única constante na minha vida. Não tenta...