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[Jeon Jungkook]

Meus pés me levam para o lado oposto do hotel dos meus pais. Sei que se aparecer por aquelas bandas e alegar que o advogado de Taehyung irá me contatar segunda-feira, irei receber uma festa com direito à champanhe para todo mundo. Não sei explicar como o ódio dos meus pais cresceu sobre ele, mas acho que tudo começou com suas tatuagens e seu jeito de levar a vida, além do fato dele ser considerado um rebelde desempregado, o que era mentira, já que Kim Taehyung ganhava muito mais do que eu desenhando seus webcomics, porém para os meus pais, desenhar não é sustento. Talvez tenha relação com uma discussão entre eles três enquanto ainda namorávamos. Se não me engano, começaram a discutir sobre política, e o meu ex-esposo é o que denominaríamos de "esquerdista". Já os meus pais, em especial o senhor Jeon, acredita nos "valores da família" e no famigerado "cidadão do bem." Foi um caos total, pois Taehyung nunca controlou bem a sua boca quando se trata de questões políticas. Dentre tantos outros episódios dos quais não prefiro detalhar, como o dia em que Tae ficou bêbado e fez um show de strip no meu aniversário de 20 anos - com a minha vó presente na sala- ou quando eles receberam uma ligação preocupadíssima da minha ex-melhor amiga, dizendo que eu estava em um bar com meu namorado maior de idade. Na época, tinha exatamente 17 anos.

E diante a comemoração que iria acontecer no hotel em que estava a família Jeon, decidi ficar longe. Mas aonde eu iria ir? Pessoas como eu, não tem lugar por esses estabelecimentos cheios de amor e compaixão pelo próximo. Devo ir a um motel? Um hotel? Um bordel? Devo derreter e me tornar parte da rua? Dormir em um banco de parque, como um sem teto? O coração de traidores, traídos e divorciados não possui lar.

Quando sai do apartamento, trouxe somente três coisas comigo: o meu telefone, a minha carteira e o corpo vazio desalmado que chamo de Jeon Jungkook. E a minha aliança, grudada em meu dedo ela estava. Fui o tipo de filho da puta que não usava a aliança em casa, para atiçar o marido, mas fora, não a tirava por um segundo, para todos saberem que era casado. Enquanto estiver com o anel no dedo, não cairá a ficha de que acabou. Na verdade, sei que o castelo de cartas irá demorar a cair. Ainda há chances de que Taehyung volte atrás, tenho certeza que ele não contatou ninguém ainda. Em todos esses 15 anos, o conheço o suficiente para saber que minha vida sem ele é o inferno e vice-versa. Mas também sei que, ele nadou entre os mares do amor até chegar em mim, e por cada palavra ruim que disse, o quebrei tanto que ele teve que se reconstruir. Há um novo Taehyung e ele é imprevisível. E isso me dá medo.

      Então, o telefone toca. Jeon Jungkook grita desesperado, esperando por uma ligação de Kim Taehyung, enquanto a figura odiosa que lhe substitui espera que seja qualquer outra pessoa. No visor, em letras garrafais estava escrito : Park Jimin.

     E foi assim que soube, que essa seria mais uma das noites que me arrependeria profundamente.

[•••]

    - Ele te expulsou de casa? Eu não acredito naquele escroto!- ralhou Jimin, tomando um gole generoso de sua cerveja.

      - Não foi só isso, ele disse que o advogado dele irá me contatar segunda - solto um suspiro - Jimin, meu casamento acabou.

      - Isso não é novidade para ninguém, e você deveria agradecer por isso!

      O encaro furioso, acabando minha bebida em um piscar de olhos. Jimin sempre foi um grosso com as palavras, e seu rosto floral e delicado não engana, ele é a definição de maldoso. Uma planta carnívora, é isso que ele era, se aproveitava do seu momento de fraqueza para te esculachar e te comer depois. Traiçoeiro.

     - Agradecer pelo fim do meu relacionamento de 15 anos? Vai se foder Park!

     - Kim Taehyung é uma víbora - sibilou- agradeça, pois quando ele começar a lhe tirar tudo que tem, você apenas conseguirá xinga-lo.

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