Chegamos ao quarto capítulo e ainda não me apresentei formalmente. Perdoe meus modos, caro leitor, não sou muito apegado a sequências cronológicas. Meu nome é Moisés, mais conhecido pelo Brasil afora como pastor Moisés Lobo, um dos mais renomados pregadores da palavra de Deus, muito prazer. Agora se você é uma leitora na faixa dos 18 aos 30 anos e for uma prostituta (daquelas vadias que ficam nas esquinas rodando bolsinhas no centro de São Paulo) o prazer iria ser todo meu. Azar o seu.
Vamos falar um pouco sobre minha infeliz infância? Eu sei que você está ávido pelas descrições de minhas vítimas agonizando, mas um passo de cada vez prezado leitor. Meu Deus do céu, porque todo ser humano é curioso? Ha! Ha! Ha! Mas fique tranquilo, não é porque está sedenta pelas descrições das cenas dos crimes que você também é uma pessoa má (talvez sim, talvez não). Mas para que você saiba todo ser humano tem um lado sombrio que adora ler ou assistir sobre crimes e atrocidades. Senão os livros e filmes de terror e os jornais não teriam audiência, não é mesmo?
Minha mãe biológica era – ou é se ainda estiver viva – uma prostituta. Meu pai biológico, talvez um dos clientes de minha mãe. Acho que nem ela mesma tenha certeza qual deles é. Com certeza aquela desgraçada transou com vários na noite em que eu fui fecundado do dia 08 de janeiro de 1971.Quando eu tinha dois anos minha mãe percebeu que não teria condições de me dar uma vida digna e teve a brilhante ideia de me colocar enquanto eu dormia (ou estava dopado) dentro de um cesto e me abandonar na frente da casa de um pastor na qual era dono (fundador) de uma igreja na periferia em que ela raramente frequentava. Talvez ela tenha feito isso em um raro ato de bondade, prevendo uma vida melhor para mim. Se eu pudesse vê-la ao menos uma vez, iria olhar no fundo de seus olhos e lhe dizer o quanto ela estava errada. Diria o quanto a odiava e talvez a mataria. Com certeza eu traria a ela muitas angustias. O que posso fazer? Sou um grandessíssimo filho da puta (literalmente)!
Meu pai adotivo se chamava pastor Josias Lobo e minha mãe adotiva Madalena Lobo. Ela não podia ter filhos e pedia um a Deus todos os dias. Imagina a reação dela ao ver um menino de dois anos sonhando como um anjinho indefeso, abandonado dentro de um maldito cesto na frente de sua porta. Para resumir todo esse sensacionalismo barato, ela colocou-me o nome de Moisés (em referência ao Moisés bíblico que também foi achado em um cesto pela filha do Faraó).
Talvez você esteja pensando, caro leitor, que eu tenha tido muita sorte pelo fato de ter saído das mãos de uma mãe prostituta para morar numa linda e abençoada família tradicional cristã. Mas as coisas não são o que aparentam ser. Para começo de história meu pai, o pastor Josias, era um hipócrita genuíno. Na igreja era um amor de pessoa. Pregava com tanta eloquência que fazia seus fiéis derramarem lágrimas. Mas ao chegar à sua casa... Hum, ele libertava o demônio que havia dentro de sua alma oprimida.
Vou apenas citar dois atos de sadismo e fúria de papai Josias para te deixar a par da situação...
Lembro-me de quando eu estava na quarta série do ensino fundamental que levei uma coleguinha de classe para fazer um trabalho escolar em minha casa. Papai a princípio foi gentil com ela. Depois começou acariciá-la de maneira estranha tocando-lhe as partes íntimas. Ela assustada começou a chorar. Eu apavorado pedi para ele parar. Levei um tabefe tão forte que apaguei.
Quando recobrei a consciência apenas lembro-me de minha colega ainda estar chorando e das palavras de papai:
– Não contem a ninguém o que houve aqui. Senão vou matar os pais de sua amiguinha, fui bem claro Moisés? - Papai era um amor de pessoa.
Na outra ocasião lembro-me que papai não gostou que mamãe fizesse uma feijoada muito salgada e virou a mesa com tudo que estava em cima. Foi feijoada, pratos, copos e colheres, tudo voando pra todos os lados. Não satisfeito papai tirou seu velho cinto de couro da cintura e deu umas belas cintadas nas costas e coxas de mamãe, que chorava histericamente. Depois papai colocou seu terno de linho fino favorito e foi para a igreja pregar sobre o amor de Deus. (Achou por bem deixar o velho cinto do pecado e pegou um novo cinto).Para minha infelicidade fiquei com mamãe.
Mamãe, pobre coitada, não tinha como descarregar sua raiva em papai, ela o amava muito. Como eu era um alvo fácil, descarregou toda sua raiva em mim. Primeiro pediu para eu tirar a camisa, depois para ficar de joelhos. Em seguida pegou o mesmo velho cinto de couro de papai e com toda sua força me golpeou o quanto pode. Só parou porque seu braço cansou. Apesar de ser uma mulher franzina na época eu sentia o sangue escorrer quente por minhas costas. Porém não derramei uma única gota de lágrima.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR PSICOPATA
TerrorJá li em algum lugar: "o segredo é saber como morrer". Eu poderia ter uma morte heroica, escrever este livro para me defender de todas as acusações que fazem contra mim. Mas acreditem: eu não sou nenhum mártir; não sou o Cristo e estou cheio de inte...