O estimado leitor que leu “Dom Casmurro” poderá estranhar o título desse capítulo, mas deixe te explicar o quanto antes...
Creio que ainda lembra leitor que aos 13 anos quando eu ainda vivia no período das “vacas magras” na periferia me tornei matador em série de cachorros. Os odiava e odiava ainda mais quem os havia abandonado. Acabo de recordar que ainda mais novo (com oito ou nove anos talvez) achei uma seringa com agulha em umas das gavetas de mamãe. Então tive a brilhante ideia de encher a seringa com água e saí para me divertir no quintal de casa.Peguei alguns besouros e injetei água neles até ela sair por todos os lados enquanto observava as perninhas deles se debaterem. Como isso me dava prazer. No dia seguinte foi café, no outro suco... Assim ia me divertindo, sem propósito algum.
Você pode pensar: o que os pobres besouros fizeram para merecer isso? Então eu te pergunto: sabe o motivo que me levou a fazer isso? Durante toda minha infância vivi aprisionado na própria casa sem poder sair para a maldita rua. Nunca ganhei um brinquedo de presente de meus pais além dos constantes espancamentos de papai e alguns de mamãe. Não tinha amigos. Então minha única diversão era injetar líquidos em besouros.
Assim que ganhei o carro de luxo por passar no vestibular, mamãe estranhamente também me presenteou com um filhote de gato. Era fêmea e tinha os olhos claros e vivos que me encaravam como se pudessem ver todos os meus pecados. Eu tinha acabado de ler “Dom Casmurro” pela enésima vez e coloquei-lhe o nome de Capitu.
Capitu era diferente dos outros animais, então nunca ofereci a ela bife temperado com vidro, só ração. Como era esperta. Desde filhotinho fazia suas necessidades fisiológicas na caixinha de areia que comprei para ela. (Isso foi determinante para ela viver por longos 15 anos). Toda noite assim que eu chegava da igreja Capitu ficava petrificada e me encarava com aqueles olhos de “ressaca” que ao mesmo tempo eram meigos e terríveis detectores de pecados, então eu a pegava no colo e a enchia de carinho. Depois dava ração e água para ela.
Está vendo estimado leitor, eu não sou esse monstro todo.
Vamos ao próximo capítulo.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR PSICOPATA
KorkuJá li em algum lugar: "o segredo é saber como morrer". Eu poderia ter uma morte heroica, escrever este livro para me defender de todas as acusações que fazem contra mim. Mas acreditem: eu não sou nenhum mártir; não sou o Cristo e estou cheio de inte...