CONFISSÕES DE UM PASTOR PSICOPATA

CAPÍTULO 06: PROSPERIDADE DIVINA

Sete anos haviam se passado desde a morte de papai. Eu, agora com 18 anos, estava começando a desfrutar das “bênçãos de Deus”. Depois que mamãe se tornou a pastora Madalena Lobo, a igreja que papai fundara cresceu de forma maravilhosa se expandindo a 100 filiais em toda a cidade de São Paulo. Mesmo que inconsciente mamãe tinha a fórmula certa para fazer uma empresa (digo igreja) prosperar. Não tinha dó de arrancar dinheiro de pobres, falava com autoridade e possuía uma oratória de causar inveja em Steve Jobs. Além, claro, de vez em quando ela comprava uns miseráveis para se fingir de deficientes físicos e endemoniados para fazer hilárias entrevistas com os demônios (faz parte do show!). Não posso deixar de mencionar que todo esse teatro aumentava a fé dos fiéis, os tornava mais generosos e enchia cada vez mais os bolsos de mamãe. (Como nem tudo é perfeito, toda essa mordomia deu muitos quilos extras à mamãe, tornou seu braço mais pesado e o velho cinto de couro de papai ficou mais doloroso).

Com uma multidão cada vez maior e histérica querendo ver mamãe pregar e fazer seus truques baratos (melhor dizendo, fazer milagres) é natural que ela fizesse uma Sede no centro da cidade para acomodar todo esse bando de pobres coitados. Foi o que fez. Um mega templo com sete mil poltronas confortáveis e ar condicionado que faria qualquer morador de periferia desejar morar lá.

Logo após a inauguração da Sede, que contou com a presença ilustre do governador, do prefeito da cidade e de alguns vereadores (onde há carniça há urubu voando em volta), mamãe comprou um apartamento de luxo que ficava a poucos quilômetros do mega templo. (Quatro suítes, três vagas de garagem, piscina no próprio andar e acabamento impecável. Nada mal para quem morou na periferia). Mamãe trabalhava duro todos os dias preparando sermões, contratando atores amadores, comprando cadeiras de rodas, muletas e falsos laudos médicos. Estávamos apenas comendo o pão com o nosso próprio suor. E as Sagradas Escrituras diz claramente em 1° Timóteo 5:18: “Digno é o trabalhador de seu salário”.

– Moisés, se você passar no vestibular de teologia eu te dou um carro novo para você ir à faculdade - disse mamãe assim que eu contei a ela o desejo de entrar na melhor faculdade de teologia da cidade de São Paulo.
Não decepcionei mamãe.

Aquele carro de luxo foi o primeiro presente que ganhei em toda minha existência. Logo em seguida ganhei o segundo: Capitu. No próximo capítulo te falo sobre ela, leitor curioso.

Nos quatro anos que passei na faculdade me destaquei como um dos melhores alunos que aquela renomada instituição já havia tido. (Os jejuns, orações e leituras da Bíblia, embora fossem forçados, estavam enfim surtindo efeito. Mas foram o pavor do “castigo de Cristo” e a gloriosa punheta minhas maiores motivações).