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Vivian.

Tento me concentrar na vista do lado de fora da janela, mas a conversa entre o casal nos bancos dianteiros do carro sempre chama a minha atenção. Em alguns momentos vi a mão dela tocar a dele, enquanto ela declarava que sentia a sua falta. Mark não correspondeu, mas também não pareceu se incomodar com os gestos de carinho da mulher.

É nítido que, seja lá o que esses dois tiveram, ela se importa com ele, mas não sei se o sentimento é recíproco. Talvez ele não queira demonstrar, depois de ter dormido comigo.

Mark é um enigma e não sei, depois de tudo que tivemos, como agir com ele daqui por diante.

— Chegamos! — Ela estaciona em frente a uma garagem.

Vejo que há poucas casas ao redor e fico feliz que não seja uma área totalmente isolada.

Desço do carro, observando a casa onde passaremos a noite. Toda fachada em cima da garagem é tomada por vidros. O formato quadrado contrasta com a arquitetura antiga de Bruxelas.

Abraço meu corpo, sentindo o vento frio chocar-se nos poucos fios soltos de meu cabelo.

— Vamos pelas escada, na lateral — Patrícia instrui e a seguimos.

Mark está atrás de mim, provavelmente para estar atento a tudo. Quando nos aproximamos da grande porta de madeira, sinto as mãos de Mark apertarem meus ombros, brecando meu corpo.

— Esperem aqui. — Patrícia abre a porta, mas sorri como se já conhecesse o modo de Mark agir. Isso me deixa incomodada, mesmo que ela não esteja agindo intencionalmente.

Poucos minutos depois de fazer uma busca minuciosa por toda a casa, Mark nos libera e entramos. Há uma grande escada na lateral de uma cozinha conjugada com a sala de jantar e estar. Vários ambientes, mas todos podem ser vistos da entrada. Os sofás estão perto da grande parede de vidro, na parte frontal da casa. Tudo muito bem decorado, neutro e nada feminino, como pensei que seria.

Mesmo que ela esteja vestindo roupas de academia, noto pela maquiagem que Patrícia é uma mulher vaidosa. Agora, reparando mais de perto em seus traços, sei que já passou dos trinta, no entanto não mede esforços para parecer ainda mais jovem. É uma mulher inegavelmente linda.

— Querem beber ou comer alguma coisa?

Nego com a cabeça, limitando-me a esse gesto. Por mais que não tenha direito de sentir ciúmes, não quero estreitar nenhum tipo de intimidade com essa mulher. Não agora.

— Ainda tenho aquele uísque que você deixou aqui, Mark.

Ele ergue as sobrancelhas, senta-se no banco alto de um enorme balcão de mármore, e em seguida os dois trocam olhares. Não sei se é minha imaginação, mas a impressão que tenho é de que querem ficar sozinhos. Decido sair de perto e deixá-los à vontade, mas, antes de alcançar o sofá na outra extremidade da imensa sala, ouço a voz de Patrícia.

— Você não prefere descansar, Vivian? Mark disse que está machucada.

Eu me viro, encarando o homem que parece ter contado a ela tudo sobre mim. Ele me observa enquanto tento pensar em algo. Talvez ficar longe deles seria uma ótima solução para diminuir meu estresse, ou não.

— Adoraria me deitar um pouco. Estou muito cansada — minto.

A mulher sorri, aparentemente feliz com minha decisão de sair de cena. Mark não demonstra nada, mas se ergue do banco.

— Eu te levo. — Ele se apressa em direção às escadas e eu o acompanho até o andar de cima.

Há um longo corredor e, por mais que eu não queira aceitar, é inegável que ele conhece cada canto desta casa. Mark me conduz até um quarto no meio do corredor e, assim que entramos, vejo que é espaçoso, embora não haja muitos móveis. Há apenas uma cama queen e dois criados-mudos, um em cada lado dela. Uma pequena porta deve me levar a um closet.

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