Na hora minhas pernas ficaram moles e eu só sabia olhar nervosa pra aquele monte de armas, ai meu Deus.- E-eu... eu vim... vim ver meu irmão.
- Qual é princesa, gagueja não - disse dando um sorrisinho, muito cara de sem vergonha aliás esse menino - fala aê quem é seu irmão?
- É o Felipe. - na hora que termino de falar desce um cara muito mal encarado.
Eita deus!
Onde eu fui me meter?
Talvez eu devesse escutar mais a minha mãe.
Ah, mas agora já foi, tô aqui, não tem mais jeito.
- Qual foi aê dodô, qual é a do tumulto?
- A morena ai quer subir, tá atrás de um Felipe, sei nem quem é mano.
- Vixi, é o menor, deixa que eu levo ela cara. - ele me deu uma secada de cima a baixo, faltou me comer com os olhos.
Subimos um pouco em silêncio e ele pegou uma das minhas malas, viu que tava pesada, ótimo, pelo menos tem educação. Era uma subida que não acabava mais e o sol tava daquele jeito. Deus me ajude.
- Ei, então, qual seu nome? - eu senti que já tinha visto aqueles olhos antes, uma sensação estranha.
- Pra você é japa - disse seco e sem nem me olhar. - e já vou logo avisando, vou te levar lá mas se não conhecer o mano e veio aqui só cuvitar, a madame vai sair estourada.
Tremi na hora, menino grosso, retiro o que disse dele ter educação, sem noção, mas nem respondi apenas assenti e continuei andando. Não sou doida de afrontar quem não conheço, ainda mais um doido com uma arma, porém gato não posso negar.
×××
Paramos em frente à uma casa grande, com a faixada bem simples, porém arrumadinha. Bem no alto do morro, tivemos que subir bastante e num silêncio total.
- Eae menor, cola aqui, visita - o tal japa gritou logo em seguida bateu palmas. Campainha pra que, né mores?
- Obrigado - ele só me olhou com aquela cara fechada e deu as costas, nem respondeu. Muito mal educado já não fui com a cara desse menino.
O Felipe demorou uns minutos, mas quando abriu o portão me olhou surpreso e me abraçou forte, me levantando do chão e rodando no meio da rua.
Tava morrendo de saudade do meu irmão, só agora que tô perto consigo sentir o quanto.
- May? É você mesmo? - ele me colocou no chão e ficou me olhando com um sorriso enorme no rosto.
- Caramba Lipe, como você mudou! - abracei ele com vontade, meu irmão nem parecia o mesmo, tava mais forte, todo tatuado, sobrancelha cortada e de boné, coisa que ele odiava. Mudou demais, nem acredito.
- Mano nem boto fé que é tu, fiquei sabendo que tu vinha e pá, mas não de imediato, chega aí, vamo entrar.
Ele tava super empolgado e eu amei isso, por um momento fiquei com medo da reação dele, afinal foram cinco anos separados, não sabia o que esperar.
Entramos e eu deixei minhas malas perto da porta mesmo. A faixada da casa super engana porque ela é linda, o quintal todo na grama, portas e janelas de vidro, a sala enorme branca com móveis claros e uma TV gigante. Não perde em nada pra casa que eu morava com a mamãe.
- Que casa chique - sentei no sofá olhando tudo em volta admirada - Você mora aqui então?
- Moro e agora tu também né.- ele disse rindo.
- Ufa ai sim e a tia Lúcia? Quero dar uma abraço nela.
- Faz 2 anos que ela faleceu e eu moro sozinho aqui May.
- Desculpa Lipe, eu não sabia. - disse sem graça. - Cara, eu sou muito sem noção.
- É a vida. Ela tá num lugar melhor agora. - disse se levantando - Vem que eu vou te levar pro teu quarto, é lá em cima.
- Ela fez um bom trabalho cuidando de ti durante esse tempo Lipe, tenho certeza que tá orgulhosa de você.
- É, não sei não, mas tomara né.
Ele pegou as malas e subimos, o quarto era lindo e tinha uma vista incrível do morro, uma cama gigante e tudo muito arrumadinho. Eu comecei a arrumar as roupas no guarda-roupa e o Felipe sentou na cama e ficamos ali conversando, matando a saudade. Até que escuto alguém gritar na sala.
- TÁ AE MENOR? TÔ SUBINDO PARÇA.
- Fala mano, pode subir - o Felipe respondeu e o menino entrou no quarto, e era o mesmo carinha que falou comigo no pé do morro, bonitinho ele.
- Aí menor o patrão mandou eu vim conferir se tu conhecia a madame mesmo. - ele disse se escorando na porta do quarto.
- Tá suave parça, ele não reconheceu ela não cara? - ele disse rindo - É minha irmã porra.
- Ih carai, aquela lá que o morro todo diz que ele é gamadão e pá?
- Essa mesmo muleque, a Maysa tá de volta.
Eu só olhava aquela conversa sentindo uma coisa estranha, eu espero que aquele mau educado metido a barreradinho não seja quem eu estou pensando.
- Cara se pá ele nem reconheceu a mina - ele riu e olhou pra mim, quieta estava e quieta fiquei.
- Então não fala nada que eu vou chegar nele mano, deixa comigo.
- Demorou mano, é isso. Hoje tem baile e eu vou fica na contenção do pé do morro, tu tá de qual?
- Tô de folga parceiro, mereço né.
- Firmeza, vou nessa então, falou ai mano - ele se despediu do Felipe dando um toque e sorriu pra mim - Tchau morena.
- Falou aí dodô.
- Tchau. - eu disse simples e curta e ele desceu. - Que história é essa que aquele malandro do caralho é o meu Lucas? Hein, Felipe? Que merda é essa?
- Calma may, porra, mas é ele mesmo ue.
- Já tô vendo que as coisas por aqui mudaram até demais né, nem falo nada contigo Felipe, nem falo.
- Fica tranquila ô surtada, arruma suas coisas ae na paz que eu vou encostar na boca.
- Tá mas nem pense em abrir sua boca pro Lucas que sou eu. - eu disse brava e voltei a arrumar minhas roupas.
- Por que? O muleque tá te esperando mó cota, vai pagar de louca agora?
- Se é pra contar deixa que eu conto mais tarde, coisa minha eu que resolvo.
- Jaé, no baile tu encosta e desenrola essa fita - ele disse se levantando e saindo.
- QUE BAILE MENINO? - gritei da porta.
- O da quebrada né Maysa, de formatura que não ia ser - ele responde da sala, um ridículo. - vou lá, sinta-se em casa maluca.
Ele simplesmente sai e me deixa lá parada, pensando num jeito de falar com o Lucas, ou melhor, o Japa, né.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Cria da Quebrada P.J.L
Non-Fiction+18| ❝De segundas intenções vacilão morre na margem, ela é cria da quebrada, tem um instinto selvagem...❞