capítulo 4

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Na hora minhas pernas ficaram moles e eu só sabia olhar nervosa pra aquele monte de armas, ai meu Deus.

- E-eu... eu vim... vim ver meu irmão.

- Qual é princesa, gagueja não - disse dando um sorrisinho, muito cara de sem vergonha aliás esse menino - fala aê quem é seu irmão?

- É o Felipe. - na hora que termino de falar desce um cara muito mal encarado.

Eita deus!

Onde eu fui me meter?

Talvez eu devesse escutar mais a minha mãe.

Ah, mas agora já foi, tô aqui, não tem mais jeito.

- Qual foi aê dodô, qual é a do tumulto?

- A morena ai quer subir, tá atrás de um Felipe, sei nem quem é mano.

- Vixi, é o menor, deixa que eu levo ela cara. - ele me deu uma secada de cima a baixo, faltou me comer com os olhos.

Subimos um pouco em silêncio e ele pegou uma das minhas malas, viu que tava pesada, ótimo, pelo menos tem educação. Era uma subida que não acabava mais e o sol tava daquele jeito. Deus me ajude.

- Ei, então, qual seu nome? - eu senti que já tinha visto aqueles olhos antes, uma sensação estranha.

- Pra você é japa - disse seco e sem nem me olhar. - e já vou logo avisando, vou te levar lá mas se não conhecer o mano e veio aqui só cuvitar, a madame vai sair estourada.

Tremi na hora, menino grosso, retiro o que disse dele ter educação, sem noção, mas nem respondi apenas assenti e continuei andando. Não sou doida de afrontar quem não conheço, ainda mais um doido com uma arma, porém gato não posso negar.

×××

Paramos em frente à uma casa grande, com a faixada bem simples, porém arrumadinha. Bem no alto do morro, tivemos que subir bastante e num silêncio total.

- Eae menor, cola aqui, visita - o tal japa gritou logo em seguida bateu palmas. Campainha pra que, né mores?

- Obrigado - ele só me olhou com aquela cara fechada e deu as costas, nem respondeu. Muito mal educado já não fui com a cara desse menino.

O Felipe demorou uns minutos, mas quando abriu o portão me olhou surpreso e me abraçou forte, me levantando do chão e rodando no meio da rua.

Tava morrendo de saudade do meu irmão, só agora que tô perto consigo sentir o quanto.

- May? É você mesmo? - ele me colocou no chão e ficou me olhando com um sorriso enorme no rosto.

- Caramba Lipe, como você mudou! - abracei ele com vontade, meu irmão nem parecia o mesmo, tava mais forte, todo tatuado, sobrancelha cortada e de boné, coisa que ele odiava. Mudou demais, nem acredito.

- Mano nem boto fé que é tu, fiquei sabendo que tu vinha e pá, mas não de imediato, chega aí, vamo entrar.

Ele tava super empolgado e eu amei isso, por um momento fiquei com medo da reação dele, afinal foram cinco anos separados, não sabia o que esperar.

Entramos e eu deixei minhas malas perto da porta mesmo. A faixada da casa super engana porque ela é linda, o quintal todo na grama, portas e janelas de vidro, a sala enorme branca com móveis claros e uma TV gigante. Não perde em nada pra casa que eu morava com a mamãe.

- Que casa chique - sentei no sofá olhando tudo em volta admirada - Você mora aqui então?

- Moro e agora tu também né.- ele disse rindo.

- Ufa ai sim e a tia Lúcia? Quero dar uma abraço nela.

- Faz 2 anos que ela faleceu e eu moro sozinho aqui May.

- Desculpa Lipe, eu não sabia. - disse sem graça. - Cara, eu sou muito sem noção.

- É a vida. Ela tá num lugar melhor agora. - disse se levantando - Vem que eu vou te levar pro teu quarto, é lá em cima.

- Ela fez um bom trabalho cuidando de ti durante esse tempo Lipe, tenho certeza que tá orgulhosa de você.

- É, não sei não, mas tomara né.

Ele pegou as malas e subimos, o quarto era lindo e tinha uma vista incrível do morro, uma cama gigante e tudo muito arrumadinho. Eu comecei a arrumar as roupas no guarda-roupa e o Felipe sentou na cama e ficamos ali conversando, matando a saudade. Até que escuto alguém gritar na sala.

- TÁ AE MENOR? TÔ SUBINDO PARÇA.

- Fala mano, pode subir - o Felipe respondeu e o menino entrou no quarto, e era o mesmo carinha que falou comigo no pé do morro, bonitinho ele.

- Aí menor o patrão mandou eu vim conferir se tu conhecia a madame mesmo. - ele disse se escorando na porta do quarto.

- Tá suave parça, ele não reconheceu ela não cara? - ele disse rindo - É minha irmã porra.

- Ih carai, aquela lá que o morro todo diz que ele é gamadão e pá?

- Essa mesmo muleque, a Maysa tá de volta.

Eu só olhava aquela conversa sentindo uma coisa estranha, eu espero que aquele mau educado metido a barreradinho não seja quem eu estou pensando.

- Cara se pá ele nem reconheceu a mina - ele riu e olhou pra mim, quieta estava e quieta fiquei.

- Então não fala nada que eu vou chegar nele mano, deixa comigo.

- Demorou mano, é isso. Hoje tem baile e eu vou fica na contenção do pé do morro, tu tá de qual?

- Tô de folga parceiro, mereço né.

- Firmeza, vou nessa então, falou ai mano - ele se despediu do Felipe dando um toque e sorriu pra mim - Tchau morena.

- Falou aí dodô.

- Tchau. - eu disse simples e curta e ele desceu. - Que história é essa que aquele malandro do caralho é o meu Lucas? Hein, Felipe? Que merda é essa?

- Calma may, porra, mas é ele mesmo ue.

- Já tô vendo que as coisas por aqui mudaram até demais né, nem falo nada contigo Felipe, nem falo.

- Fica tranquila ô surtada, arruma suas coisas ae na paz que eu vou encostar na boca.

- Tá mas nem pense em abrir sua boca pro Lucas que sou eu. - eu disse brava e voltei a arrumar minhas roupas.

- Por que? O muleque tá te esperando mó cota, vai pagar de louca agora?

- Se é pra contar deixa que eu conto mais tarde, coisa minha eu que resolvo.

- Jaé, no baile tu encosta e desenrola essa fita - ele disse se levantando e saindo.

- QUE BAILE MENINO? - gritei da porta.

- O da quebrada né Maysa, de formatura que não ia ser - ele responde da sala, um ridículo. - vou lá, sinta-se em casa maluca.

Ele simplesmente sai e me deixa lá parada, pensando num jeito de falar com o Lucas, ou melhor, o Japa, né.

Cria da Quebrada P.J.LOnde histórias criam vida. Descubra agora