Capítulo Um

196 15 8
                                    

Min Yoongi

É incrível como você consegue encontrar uma quantidade absurda de coisas na internet em apenas um clique. Quero dizer, quem precisa de enciclopédias ou dicionários ou assistir à aulas chatas e entediantes se pode encontrar o que procura em milésimos de segundos?

Mas parece que meus pais não concordam comigo, muito menos o governo e aquele tal de Estatuto da Criança e do Adolescente, porque continuam me obrigando a frequentar o colégio, mesmo que eu já esteja no terceiro ano e já tenha quase dezoito anos, o que, teoricamente, implica que eu já tenha mentalidade e maturidade suficientes para tomar esse tipo de decisão e que muito provavelmente eu já tenha aprendido tudo de relevante que deveria aprender.

Mas tento não me importar — pelo menos na maior parte do tempo —, porque estar em um lugar com várias pessoas significa que não tem ninguém me vigiando, o que significa que posso fazer o que eu quiser — dentro dos limites do bom senso, é claro, como matar aula e sair de carro por aí. Já aconteceu tantas vezes que nem o diretor nem a coordenadora ligam mais para a minha casa. Acham que sou um caso perdido.

Deslizo o dedo pelo scroll do mouse quando acabo de ler o primeiro parágrafo de uma matéria fodasticamente fodástica sobre as dez doenças mais raras do mundo, porque, novamente, repito: o que você encontra na internet é um milhão de vezes mais interessante do que aprender a como construir um gráfico ou fazer uma função — que na minha opinião são a mesma droga.

Nesse exato momento, sinto um desconforto dentro de mim e então me lembro.

Respire.

Então eu inspiro e expiro e sinto os meus pulmões serem preenchidos por ar novamente, e repito o mesmo passo várias vezes até que as coisas se normalizem. É uma sensação de alívio enorme, como quando você pensa que o professor vai te pegar colando na prova, mas ele apenas passa reto e então você pode soltar todo o ar acumulado dentro de si. A diferença é que a minha intenção é exatamente o contrário. Acumular o quanto possível.

Sei que pesquisar esses fatos curiosos é legal e que são super interessantes. Por exemplo, quem poderia imaginar que uma doença chamada urticária aquagênica existe?

Pois é, ninguém.

Mas ela existe, e, basicamente, é como ter alergia à água. Erupções cutâneas aparecem e estouram em qualquer lugar da pele em que a água toca, o que deve ser extremamente doloroso e bizarro, o que ao mesmo tempo também é bem intrigante e curioso. Meus olhos brilham enquanto leem as pequenas letras na tela do computador e de repente tenho vontade de estudar sobre.

Mas apesar de interessante, não é tão fodástico assim quando acontece com você, e é por isso que reviro os olhos e entorto a boca quando a vejo bem ali.

E é nesse momento que me lembro de respirar de novo, porque meus pulmões não fazem isso involuntariamente, como deveria acontecer.

Síndrome ou Maldição de Ondine — como prefiro chamar, porque ao mesmo tempo que é uma praga que atrasa a minha vida, soa bem mais maneiro —, é o nome que dão à doença genética que ocasiona uma desordem no sistema nervoso central, levando à apnéia.

Resumidamente, eu não tenho controle sobre a minha própria respiração, o que significa que eu tenho que ficar me lembrando de respirar quase o tempo todo, o que é um saco. Não posso correr mais de dez metros sem me cansar e começar a tossir e passar mal, porque meu coração começa a bater tão rápido e forte que parece que vai sair pela minha boca e começar a voar por aí. Tenho que dormir com um ventilador ligado perto da minha cara para ajudar na ventilação, e isso quando consigo dormir, porque na maioria das vezes meu sono é interrompido pela sensação de queimação em meus pulmões e garganta, como se eu estivesse asfixiando, e então prefiro ficar acordado mesmo que meu cérebro esteja quase desligando à força — o que explica as minhas olheiras profundas e assustadoras e o meu mau humor frequente e todas as coisas que a falta de sono causa.

Out LoudOnde histórias criam vida. Descubra agora