Min Yoongi
São quase duas da manhã e estou tentando atravessar o corredor que dá acesso ao quarto dos meus pais sem fazer muito barulho, descalço e na ponta dos pés. Mamãe guarda dinheiro em um pote de vidro dentro do guarda-roupa, que ela diz estar ali apenas para emergências.
O que ela talvez não saiba é que eu descobri o esconderijo a muito tempo atrás, quando fiquei escondido ali por horas, brincando de pique-esconde com o meu pai — ele costumava ser um adulto bem mais legal quando eu ainda era criança.
Já tirei dinheiro de lá algumas vezes, mas não considero roubo porque, teoricamente, o que está lá é meu também.
Antes de girar a maçaneta, pondero um pouco sobre isso, mudando drasticamente de planos.
Bato na porta duas vezes e então entro, virando o rosto para a direção oposta ao notar a claridade crescendo gradativamente dentro do quarto, devido a luminosidade do abajur. Nesse momento, sei que os dois ainda estão acordados — e não estou interessado em saber o real motivo.
— Yoongi? O que aconteceu? — Ouço a voz de minha mãe, doce como sempre.
— Não é nada — Digo, abanando as mãos para que ela não se preocupe. — Só preciso de um pouco dinheiro — decido dizer —, desculpe atrapalhar o ritual de acasalamento de vocês — Quase corro até o armário, sem coragem o suficiente para encará-los nos olhos.
— São duas da manhã. Por que você precisa de dinheiro? — Meu pai pergunta, ignorando todo o resto, e me canso só de ouvir sua voz. Apesar de ele ser um babaca na maior parte do tempo, soa quase gentil. Não há nenhum sinal de irritação em sua voz e isso é bom.
— Para comprar cigarros.
— Mas você não fuma — Ainda que essa não seja o tipo de reação que um filho de dezessete normalmente esperaria de seus pais ao dizer que vai comprar cigarros, não me importo. Minha mãe sempre me deu confiança extra.
— Exatamente — Estalo os dedos no ar e sorrio mesmo estando de costas para os dois, tampando o recipiente depois de enfiar uma quantidade considerável de notas na barra da calça do pijama.
— Não vai sair de madrugada.
— Não vou.
Depois, saio do quarto tão rápido quanto entrei.
♫.
Ultimamente, tenho pensado menos sobre aquilo. Acho que a situação de Jeongguk tem ocupado muito do meu tempo — e não sei se isso é, necessariamente, ruim.
O caso é que, de qualquer forma e de todas as coisas do mundo, isso é algo de que não posso esquecer. E não vou, de jeito algum. Então hoje pesquisei mais algumas coisas sobre; estou pensando em considerar novos métodos.
Até agora, tenho uma pequena (bem pequena mesmo) lista pessoal de jeitos não recomendáveis de suicídio:
1. Asfixia — o que nem é fisicamente possível.
2. Pular de algum lugar alto.
3. Usar armas de fogo — não quero que pensem algo como ‘como ele arranjou esta droga?’ no meio do meu velório.O único empecilho é: quando?
É uma espera infinita: Hoje? Amanhã? Mês que vem? Mais tarde? Depois?
E, se não depois, quando?
Já tentei conversar sobre isso com Hoseok algumas vezes, mas ele nunca me leva a sério. Na verdade, ele não costuma entender grande parte das coisas que digo. Acha que estou brincando, o quê, de certa forma, é um alívio pra mim — ou eu provavelmente estaria encrencado .
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Out Loud
DragosteA vida nunca fez sentido para Min Yoongi, um garoto de dezessete anos apaixonado por Arctic Monkeys, fatos estranhos e que tem o sonho de descobrir o que há por trás das montanhas. Mas tudo parece ainda mais confuso e fora de ordem quando, Jeon Jeon...