Capítulo Cinco

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Min Yoongi

Eu acho singularidades especialmente interessantes. Gosto de como tudo — literalmente — tem tantas variantes que é impossível decifrá-las todas, reconhecê-las uma a uma. Cada pequena coisa, apesar de semelhante à outra, é diferente à sua própria maneira. Talvez por isso eu me sinta sempre tão tentado a pesquisar sobre tudo, a querer saber tudo. Às vezes, nossa missão aqui parece se resumir a isso: expandir os nossos horizontes.

Conhecer outras coisas diferentes me faz sentir mais normal, o que, apesar de não ser algo exatamente bom, me deixa um pouco mais à vontade comigo mesmo. Além disso, é incrível e ao mesmo tempo lamentável como há tantas coisas no mundo que o ser humano ainda desconhece.

Apesar disso, são poucas as coisas que me cativam de verdade.

É por isso que continuo me perguntando por que meus pensamentos sempre voltam a eles mesmos, num ciclo infinito, sem conseguir achar o significado da incógnita dessa equação.

Eu continuo sem saber por que me interessei tanto por Jeon Jeongguk. Eu realmente preciso de um motivo?

A intenção, a princípio, nunca foi me envolver, fazer parte de algo. Mas o mistério que envolve suas orbes negras atiça minha curiosidade a cada instante que passo diante de si, e isso me atormenta tanto que confunde mais ainda o que já está embaralhado dentro de mim.

Meu histórico de pesquisas são todos voltados para o mesmo assunto: mutismo seletivo. Sempre me pareceu fácil entender tudo o que diz respeito à doenças e suas nuances, mas, não importa o quanto eu leia, leia e releia várias vezes, não chego a uma resposta.

Quero saber o que se passa com ele. O que desencadeou tudo isso. Estou curioso para ouvir a sua voz e descobrir o que pensa.

Hoje, faz três dias que não o vejo. Ele não apareceu no primeiro. Nos dois dias seguidos, não fui ao lago. Nem à escola.

Algumas vezes me sinto em estado vegetativo, paralisado. Nesses momentos, tudo o que eu preciso é ficar sozinho e colocar os pensamentos no lugar. Se alguém notou ou mesmo sentiu a minha falta, não se deu ao trabalho de me procurar.

Estou encarando a tela do celular, onde notificações de mensagens chegam uma atrás da outra, puto porque Jeongguk ainda não me passou o seu número. Me perguntou se ele esperou por mim ou se ficou chateado por eu não estar lá.

Não sei se me importo muito com a resposta.

A luz que entra no quarto é fraca, ultrapassando a camada grossa de tecido da cortina azul. Olho para a porta, onde está o aviso que eu mesmo escrevi sobre respirar, e encho os meus pulmões de oxigênio. Como a casa está silenciosa do lado de fora e, por ter uma audição muito aguçada, presumo que estou sozinho, o que significa que minha mãe deve ter saído para buscar Donna na escola — ela passa o período da tarde lá algumas vezes por semana, fazendo balé ou algo do tipo. Mais uma das porcarias que o ocidente tentou enfiar na nossa cultura.

Tento pensar em alguma forma de progredir com o meu mais novo companheiro, quando o celular toca. Respiro fundo antes de atender, encarando a foto do Hoseok com dois canudos enfiados nas narinas. Ele tentou me convencer a fazer o mesmo, mas fiquei com medo de obstruir minhas vias respiratórias e, sei lá, ter um colapso. Então apenas tiramos uma foto normal, com ketchup sobre a minha boca, imitando um bigode europeu — foi um pouco difícil mantê-lo intacto, sem escorrer ou cair.

Atendo, e consigo ouvir sua respiração pelo outro lado da linha e algumas vozes um pouco distantes. Talvez não tenha percebido que eu atendi, porque demora um pouco pra dar qualquer sinal de vida.

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