Min Yoongi
Eu acho singularidades especialmente interessantes. Gosto de como tudo — literalmente — tem tantas variantes que é impossível decifrá-las todas, reconhecê-las uma a uma. Cada pequena coisa, apesar de semelhante à outra, é diferente à sua própria maneira. Talvez por isso eu me sinta sempre tão tentado a pesquisar sobre tudo, a querer saber tudo. Às vezes, nossa missão aqui parece se resumir a isso: expandir os nossos horizontes.
Conhecer outras coisas diferentes me faz sentir mais normal, o que, apesar de não ser algo exatamente bom, me deixa um pouco mais à vontade comigo mesmo. Além disso, é incrível e ao mesmo tempo lamentável como há tantas coisas no mundo que o ser humano ainda desconhece.
Apesar disso, são poucas as coisas que me cativam de verdade.
É por isso que continuo me perguntando por que meus pensamentos sempre voltam a eles mesmos, num ciclo infinito, sem conseguir achar o significado da incógnita dessa equação.
Eu continuo sem saber por que me interessei tanto por Jeon Jeongguk. Eu realmente preciso de um motivo?
A intenção, a princípio, nunca foi me envolver, fazer parte de algo. Mas o mistério que envolve suas orbes negras atiça minha curiosidade a cada instante que passo diante de si, e isso me atormenta tanto que confunde mais ainda o que já está embaralhado dentro de mim.
Meu histórico de pesquisas são todos voltados para o mesmo assunto: mutismo seletivo. Sempre me pareceu fácil entender tudo o que diz respeito à doenças e suas nuances, mas, não importa o quanto eu leia, leia e releia várias vezes, não chego a uma resposta.
Quero saber o que se passa com ele. O que desencadeou tudo isso. Estou curioso para ouvir a sua voz e descobrir o que pensa.
Hoje, faz três dias que não o vejo. Ele não apareceu no primeiro. Nos dois dias seguidos, não fui ao lago. Nem à escola.
Algumas vezes me sinto em estado vegetativo, paralisado. Nesses momentos, tudo o que eu preciso é ficar sozinho e colocar os pensamentos no lugar. Se alguém notou ou mesmo sentiu a minha falta, não se deu ao trabalho de me procurar.
Estou encarando a tela do celular, onde notificações de mensagens chegam uma atrás da outra, puto porque Jeongguk ainda não me passou o seu número. Me perguntou se ele esperou por mim ou se ficou chateado por eu não estar lá.
Não sei se me importo muito com a resposta.
A luz que entra no quarto é fraca, ultrapassando a camada grossa de tecido da cortina azul. Olho para a porta, onde está o aviso que eu mesmo escrevi sobre respirar, e encho os meus pulmões de oxigênio. Como a casa está silenciosa do lado de fora e, por ter uma audição muito aguçada, presumo que estou sozinho, o que significa que minha mãe deve ter saído para buscar Donna na escola — ela passa o período da tarde lá algumas vezes por semana, fazendo balé ou algo do tipo. Mais uma das porcarias que o ocidente tentou enfiar na nossa cultura.
Tento pensar em alguma forma de progredir com o meu mais novo companheiro, quando o celular toca. Respiro fundo antes de atender, encarando a foto do Hoseok com dois canudos enfiados nas narinas. Ele tentou me convencer a fazer o mesmo, mas fiquei com medo de obstruir minhas vias respiratórias e, sei lá, ter um colapso. Então apenas tiramos uma foto normal, com ketchup sobre a minha boca, imitando um bigode europeu — foi um pouco difícil mantê-lo intacto, sem escorrer ou cair.
Atendo, e consigo ouvir sua respiração pelo outro lado da linha e algumas vozes um pouco distantes. Talvez não tenha percebido que eu atendi, porque demora um pouco pra dar qualquer sinal de vida.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Out Loud
Roman d'amourA vida nunca fez sentido para Min Yoongi, um garoto de dezessete anos apaixonado por Arctic Monkeys, fatos estranhos e que tem o sonho de descobrir o que há por trás das montanhas. Mas tudo parece ainda mais confuso e fora de ordem quando, Jeon Jeon...