Capítulo Quatro

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Jeon Jeongguk

Perco a respiração e quase sinto o meu coração se comprimir a ponto de sumir quando ouço suas palavras. Não consigo nem ouso mover um só músculo, mas minhas mãos estão tremendo. Muito.

De repente, visualizo todo o retrospecto de minha vida. Cada detalhe ainda vivo em minha memória ganha forma novamente bem em frente aos meus olhos e, diferente de todas as outras vezes, quando são apenas flashes escuros me atingindo os pensamentos, posso ver tudo claramente.

São tantas imagens misturadas, boas e ruins, que não consigo organizá-las direito, e sinto que posso entrar em colapso a qualquer instante.

Desde os meus aniversários comemorados em família, quando mamãe me fazia bolo de chocolate e meu pai me colocava em seus ombros, onde eu me sentia alto e poderoso o bastante para poder tocar o céu com minhas próprias mãos, até as noites em que eu ouvia os gritos na sala, e sempre a via com um olho roxo e os braços marcados pela manhã. Então aquilo aconteceu, bem naquele dia e, depois disso, nada mais foi o mesmo.

Por algum motivo, sinto que tudo o que eu era ficou preso àquele dia. Porque, daquele dia em diante, nada mais passou a importar. Nem mesmo as pessoas ao meu redor, ou os acontecimentos que se decorreram a partir disso. Nem eu mesmo; como se nada a partir daquele dia tivesse ficado gravado em minha cabeça.

Me sinto enjoado e, depois, tenho medo de que o que o rapaz à minha frente está dizendo seja verdade, porque, por mais que internamente eu diga que não, faz sentido. Pode ser. Talvez seja. E se for?

A realidade me atinge como um soco na boca do estômago, e percebo que eu não deveria estar ali. Então percebo que não estou mais escutando nada do que Yoongi diz, que tudo passa pelos meus ouvidos sem receber o mínimo de atenção, porque minha cabeça está tão barulhenta que não consigo me concentrar em mais nada.

Seus olhos negros me fitam de um jeito estranho, não posso decifrar o que estão tentando dizer.

Preciso ir pra casa.

Mas não se passaram nem dez minutos.

Balanço a cabeça em negação quase que imediatamente, tentando não ser rude como todas as outras vezes.

Subo na bicicleta ainda um pouco desorientado, e mesmo com os pés escorregando pelos pedais e as pernas bambas, continuo a pedalar sem parar. Sem ter tempo para pensar.

Então deve ter acontecido alguma coisa, certo?

Não.

Não aconteceu nada que você precise saber.

Fecho os olhos e sinto tudo girar.

Quando coloco os pés dentro de casa e corro esbaforido até a sala, à procura de minha mãe, quase deixo meu corpo cair sobre ela em um abraço desajeitado. Não quero ter que olhar para o seu rosto agora, mas gosto de sentir sua presença e o seu toque que, apesar de inconsciente, ainda é quente.

— J..Je... — A ouço murmurar, então sinto meus olhos lacrimejarem. O médico disse que, mesmo sendo difícil, em alguns de seus momentos de lucidez, ela pode entender um pouco do que está acontecendo, principalmente feições, então nunca choro na sua frente. Em vez disso, continuo com o rosto colado ao seu pescoço, e afrouxo um pouco o aperto de meus braços ao redor de seu corpo, pois não quero machucá-la. — On...uk... — Por mais que sua voz seja toda desafinada e de difícil compreensão, sei que está tentando dizer o meu nome. Limpo o rosto com uma das mãos e a encaro, com o sorriso mais brilhante que consigo abrir.

— É, eu sou o Jeongguk — Afirmo. — Por que você me escolheu um nome tão difícil, mãe? As outras crianças sempre erravam a pronúncia, sabia? — Acho que passo tanto tempo falando para e com o vazio, que as palavras se esgotam quando estou perto de outras pessoas.

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