Jeon Jeongguk
Me pergunto se aquele cara é retardado ou tem algum outro tipo de problema mental, mas não gosto de pensar sobre isso, muito menos essas palavras. Por um momento, tudo o que quero é que se afaste de mim. Quero gritar com ele e dizer que ele não tem o direito de me tocar e que não quero ajuda nenhuma com física, muito menos saber se ele vende ou não drogas na escola, mas nenhuma palavra sai de minha boca, e a sensação de queimação continua.
É hora do almoço e preciso me apressar, ir para casa e voltar para a escola tão rápido quanto o Flash, então me desvencilho de seus braços esguios e branquelos e procuro uma saída no meio de toda aquela gente.
Não gosto de ficar no meio de muitas pessoas, ainda mais quando posso escutar tudo o que estão dizendo sobre mim. Os rumores não pararam desde a primeira aula, embora eu não me importe mais. Não como antes, pelo menos.
Seria ótimo se minha única e maior preocupação fosse rumores imbecis de pessoas mais imbecis ainda.
Coloco a bolsa de alça transversal no corpo e caminho o mais rápido que consigo pelo estacionamento para alcançar a minha bicicleta. Ela é preta e eu a ganhei do meu pai quando tinha uns sete anos, embora a maior parte das memórias que eu tenha desse homem sejam turvas e se pareçam mais com borrões coloridos e desconexos. Peças de quebra-cabeça que não consigo montar.
Mas não é como se eu quisesse me lembrar, de todo jeito.
O caminho até a minha casa tem pelo menos umas três ou quatro quadras, então preciso me apressar, porque não posso deixar minha mãe sozinha em casa por muito tempo. Tenho medo de que ela se machuque ou tente fazer algo sem que eu esteja lá para acudi-la.
Gosto de contar por quantas casas e prédios eu passo até chegar lá, e imaginar que tipos de pessoas moram em cada um deles. Do que gostam de comer ou fazer, como vivem suas vidas, o tipo de pessoa que são.
O céu está um pouco nublado e presumo que vai chover, mas gosto da chuva. Minha mãe parece gostar dela também. Fica sorrindo como uma criança encantada por doces ou brinquedos toda vez que a deixo perto das janelas, quando está chovendo. Isso me deixa feliz, porque gosto de vê-la se sentir bem.
É péssimo quando simplesmente fica apática, sem conseguir se comunicar nem se mover. Mas, infelizmente, esse é o "normal" dela.
Empino a bicicleta uma vez quando me aproximo do portão, então freio, coloco os pés no chão para conseguir equilíbrio e desço. É um pouco difícil carregar todos os esses livros na mochila e andar de bicicleta ao mesmo tempo.
Quando a guardo na garagem e caminho até a porta, hesito por um momento em entrar dentro de casa, porque sei que vai ser como todos os outros dias e às vezes preciso de um tempo para tomar coragem e encarar tudo de novo. Então respiro fundo e, quando tenho certeza de que meus pulmões estão cem por cento preenchidos por ar, giro a maçaneta e entro.
A casa está assustadoramente silenciosa, o que não é uma surpresa. O único barulho realmente audível é o da televisão, que deixo sempre ligada antes de ir para o colégio. Não quero que minha mãe se sinta sozinha, mesmo que talvez ela nem entenda a situação em que se encontra.
Tiro os sapatos e calço os meus chinelos, que já estão bem velhos e gastos. Olho para o chão e percebo que está um pouco sujo, então me comprometo a lembrar a mim mesmo de limpar a casa mais tarde.
— Mãe? — A chamo, mas não recebo resposta. — Eu cheguei — Sorrio sozinho e caminho até a sala, e ela está parada em frente à TV, completamente imóvel. Os movimentos de seus olhos são tão precisos e eles estão tão fixos na tela que quase parece estar tendo um momento de lúcidez.
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Out Loud
RomanceA vida nunca fez sentido para Min Yoongi, um garoto de dezessete anos apaixonado por Arctic Monkeys, fatos estranhos e que tem o sonho de descobrir o que há por trás das montanhas. Mas tudo parece ainda mais confuso e fora de ordem quando, Jeon Jeon...